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Movimento a favor da implementação de cotas trans ganha destaque na USP

DIVERSIDADES

Já implementada por duas universidades federais, a adesão às cotas trans podem ser o ponto de virada para a inclusão dentro da universidade pública

Nos últimos anos, vem crescendo o movimento, dentro das universidades brasileiras, a favor de cotas para pessoas transexuais. Em 2019, a Universidade Federal do ABC foi pioneira na implementação de tais cotas, seguida pela Universidade Federal da Bahia, também em 2019. A USP, mesmo sendo a maior e mais importante universidade da América Latina, tem um histórico de relutância na implementação de cotas, tendo, por exemplo, implementado apenas em 2017 as cotas raciais pelo Sisu e pela Fuvest.

Segundo a diretora do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) e militante do Coletivo Juntos, Rosa Baptista, a demanda por cotas trans na USP existe há muito tempo, e vem ganhando força nos últimos anos através do movimento estudantil. Atualmente, a pressão dos movimentos é para que o tema seja pautado no Conselho de Graduação. No início do ano passado, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) lançou um abaixo assinado em apoio à implementação das cotas para estudantes transexuais, que foi apresentado à Comissão de Graduação e ao pró-reitor Aluisio Segurado, que, segundo Rosa, teria afirmado que o assunto tinha espaço para ser debatido institucionalmente, mas que ainda precisava de mais “acúmulo no debate”, e não foi apresentada mais nenhuma posição em nome da Universidade quanto ao tema.

Rosa também afirmou que os movimentos estudantis continuam procurando construir pesquisas e debates sobre o assunto, mesmo sem o apoio da Universidade, e diz que o fato do assunto ter sido levado à Comissão de Graduação já é um grande avanço na luta pelas cotas trans. “Os estudantes estão muito mais à frente do que a Universidade, existe um esforço muito grande, tanto dos estudantes, como de alguns professores, para efetivarem isso”, disse a diretora, que ainda reforçou a importância dos professores nesse movimento, visto que eles são ponto chave de comunicação com o reitor.

[Imagem: arquivo pessoal/ Fernanda Zibordi]

A Lei de Cotas, que foi sancionada pelo governo de Dilma Rousseff em agosto de 2012, garante que as instituições de ensino superior reservem 50% de suas vagas para estudantes de escolas públicas, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Onze anos depois, os dados apontam uma considerável mudança no perfil das universidades no país. Segundo dados do Censo de Educação Superior, realizado pelo INEP, a porcentagem de alunos que se identificaram como pretos, pardos e indígenas, em 2012, era de 8% e, em 2020, passou a ser 28%.

Resultados tão marcantes indicam que o acesso ao ensino superior para minorias sociais está aumentando por conta dessas ações afirmativas, mas que ainda há um grande caminho a percorrer. No país em que mais se mata transexuais no mundo, cresce a exigência de que esse grupo ocupe mais lugares e possa exercer seus direitos plenamente. No ambiente universitário, especificamente da Universidade de São Paulo, progressos ainda necessitam ser feitos: de acordo com dados coletados pelo Coletivo Xica Manicongo de Estudantes Trans, Travestis e Intersexuais da USP, é estimado que o número de pessoas trans matriculadas na universidade seja correspondente a apenas 0,001% do corpo discente.

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Revisão: Gabriel Alves e Lara Soares

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