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Rugby no Brasil: Do Universitário ao Profissional

Stéfano Teixeira Lopes Silveira

 

               (time feminino de Rugby da FDUSP)

(Bandeirantes Saracens Club)

Curiosamente, o primeiro a organizar, em 1891, um time de rugby em nosso país, foi Charles Miller, precursor do Clube Brasileiro de Futebol Rugby.

O Rugby foi um esporte essencialmente de elite até os anos 60, quando ocorreram os jogos sulamericanos no Brasil no ano de 1964, que ajudaram na sua difusão.

Em 1963 fora fundada a União de Rugby do Brasil, que seria substituída em 1972 pela Associação Brasileira de Rugby, esta reconhecida pelo CND.

1977 marcou a criação definitiva de uma competição nacional: o Torneio Aberto Brasileiro ou Campeonato Brasileiro de Rugby. Contava com os times: Niterói, Guanabara e Rio Rugby (Rio de Janeiro); Barbarians, Nippon e SPAC (São Paulo).

Desde então, 24 agremiações disputaram a elite do rugby nacional, apesar da limitação inicial aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, após 1983 com a entrada pioneira do Coritiba Rugby Clube, do Paraná, pudemos presenciar novos times provindos dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.

Tendo em vista este panorama e a ascensão da popularidade do esporte por meio dos jogos universitários, entrevistei a atleta Débora Gomes da equipe de Rugby do Largo São Francisco:atual bicampeã do InterUsp; e seu treinador e atleta profissional do Bandeirantes Saracens Rugby Club, Ricardo Bodra Guimarães: Fundada em 1983, a equipe é uma das mais tradicionais do rugby brasileiro. O clube está em uma fase de retomada, pois subiu da segunda divisão do campeonato recentemente como campeão invicto e realizando o maior placar da história do clube na fase de classificação, voltando assim, estruturado para brigar pelo título.

 

Débora Gomes, 19 anos, estudante de Direito da Usp e atleta das “pererecas”, time de rugby da faculdade de direito.

Como você vê a evolução do rugby no meio universitário nos últimos anos? Como tem sido sua consolidação como prática oficial vinculada aos campeonatos universitários?

(BJE)“O rugby feminino se consolidou nos meios universitários bem mais tardiamente que o masculino. Usando a SanFran como exemplo, houveram várias tentativas de formar time que não vingaram. Mas tanto na SanFran quanto nas outras faculdades da USP, de uns três anos pra cá, vários times se formaram e isso demonstra que nós plena capacidade de conquistar espaço nesse esporte e mostrar pra todos que consideram ele “masculino“, que um esporte não pode ser ditado por gênero. Quanto aos campeonatos, nós ainda somos modalidade demonstrativa na maioria deles. Mas isso tem sido mudado, por exemplo, o interUSP do próximo ano já vai adotar a modalidade para a contagem geral. As coisas estão mudando bem rápido.”

Qual a rotina de treinamento e jogos do time e como vocês lidam para conciliar trabalho, estudo e treino?

(BJE)“Nós treinamos duas vezes por semana. Nas épocas pré-campeonato, três ou mais. Nós treinamos sempre das 22h até meia noite, nos dias de semana, para poder conciliar com estágio. De domingo também, na parte da manhã. A gente concilia como pode, porque gostamos muito do time e do nosso esporte e não vamos abrir mão disso.”

Quais as maiores dificuldades estruturais e como vocêstrabalham para também ajudar outros times de rugby universitários a se consolidar?

(BJE)“Por ser uma modalidade nova, não temos muito incentivo por parte da torcida ou da aaa. Já aconteceu de jogarmos campeonatos no intervalo dos jogos do masculino. A maioria dos times tem dificuldade de encontrar campo. Nós da USP temos o CEPE e o campo do XI, pra quem é da SanFran. Mas outros times acabam treinando em parques. Para ajudar quem está começando, nós tentamos marcar campeonatos. É jogando que nos apegamos ao esporte. Nessa etapa do Super Usp, um campeonato que jogamos o jogo inteiro, vamos contar com os times da FAU e da EACH, que são novos.”

 

Ricardo Bodra Guimarães, 31 anos, treinador da equipe feminina de Rugby de Direito da Usp e atleta do Bandeirantes Saracens Rugby Club.

Como você vê a evolução do Rugby no país? Como funcionam as ligas atualmente?

(BJE)“O Rugby vem numa crescente muito boa e muito rápida, o que às vezes fica mais difícil de organizar, os principais campeonatos nacionais tiveram várias mudanças de formatos nas últimas edições justamente por isso, e continua em busca do melhor modelo para que seja cada vez mais disputado e por mais equipes de alto nível.

O principal torneio feminino é por etapas, tendo sua pontuação pela classificação da etapa e depois a classificação geral.

No masculino, teremos um novo modelo ano que vem, com disputas regionalizadas na primeira fase, todos contra todos e depois os dois primeiros classificados de cada grupo vai para a quartas de final. “

Em relação ao financiamento e manutenção das equipes, você vê um quadro melhor nos últimos anos com a maior divulgação do esporte? A inclusão como esporte olímpico ajudou em relação a isto?

(BJE) “Acredito que o fato de ter participado nas olimpíadas foi o principal fator da velocidade da evolução do esporte, trazendo importantes jogadores ao país, aumentando o nível da seleção e por sequência nos clubes, que entravam em “disputa” por estes jogadores oferecendo melhor estrutura e benefícios.

A divulgação melhorou muito, mas dentro do mundo do rugby, acredito que precisaria atingir àqueles não conhecem o esporte.”

Qual a importância do rugby no ambiente universitário para formação de atletas e divulgação do esporte à nível profissional

(BJE)“Todos sabemos que culturalmente o Brasil é o país do futebol, apesar ter alguns outros esportes com muitos praticantes, mas, principalmente, esporte como o Rugby, é difícil que a pessoa conheça ainda criança, em desenvolvimento, são poucos os projetos ainda nas escolas, os começam cedo vêm de projetos dos próprios clubes. Por isso muitos dos jogadores começam a jogar na faculdade, o que se torna um ninho muito interessante para o Rugby, a pessoa joga entre 4-7 anos pela faculdade e aqueles que realmente gostam, migram para algum clube, às vezes até antes de terminar a faculdade. Mas poucos destes vão profissionalizar no rugby, devido a ter acabado de graduar e já ter uma rotina profissional na sua área, mas mesmo assim agrega muito aos clubes.“

E por fim, o que o senhor falaria para alguém que tem vontade de se dedicar ao esporte?

(BJE)“O rugby é um esporte diferente, muito interessante para a prática esportiva. Infelizmente, mesmo no nível profissional encontramos dificuldades para realizá-la. Os treinos do Clube em que jogo, por exemplo, são realizados em campo próprio, duas vezes por semana, porém ainda não tem as medidas mínimas oficiais para receber uma partida, nossos jogos ou são no campo do adversário ou na Arena Paulista de Rugby. Em temporada de jogos é praticamente um jogo a cada fim de semana.
De qualquer maneira, encorajamos a todos a participarem e contribuir para a consolidação no Brasil deste esporte tão tradicional mundialmente, e como disse, uma grande porta de entrada hoje são os times universitários, se levarmos a prática às nossas escolas e familiarizarmos as crianças ao esporte, podemos facilitar este acesso.

A comunidade do rugby é acolhedora e àqueles que se interessam por ingressar na modalidade: o fato dela não ter se popularizado ainda, facilita o destaque num menor período de tempo, pois muitos jovens que ingressam no rugby entram “crus” descobrem aptidões nunca antes exploradas por outros esportes.”

 

stefano.silveira@usp.br