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Luta Greco-Romana – Um esporte esquecido pelos brasileiros – Entrevista com Walter Santana

Caio César Carvalho Albano

Não me espantaria se soubesse que você leitor, nunca tenha ouvido falar do nome Aline Silva.

A luta greco-romana, como o nome bem sugere, começou como uma forma de demonstração de força e agilidade nos treinamentos dos guerreiros gregos e romanos. Mal sabiam os gregos, que a prática se tornaria um dos esportes mais praticados do mundo. Muito se diz que o estilo poderia ser até mais antigo, como sugere-se em alguns estudos de pinturas rupestres. A luta, ou demonstração de vitalidade física sempre se manteve forte entre os soldados, até que Jean Exbrayat, soldado do exército napoleônico e notável praticante da arte, desenvolveu o modelo moderno da conhecida luta.

A luta greco-romana se desenvolveu e se tornou um dos esportes mais praticados do mundo, estando presente em todas as edições de verão das olimpíadas, desde 1908. Os EUA são assíduos praticantes do esporte, tendo desenvolvido até campeonatos universitários do esporte. No Brasil, a luta greco-romana é praticamente desconhecida. Aline Silva, citada no primeiro parágrafo, é a praticante nacional mais amplamente conhecida. Em 2014, se tornou vice-campeã mundial de luta greco-romana.

Apesar do esporte não ser amplamente disseminado no país, organizam-se alguns campeonatos para promover o esporte. Para sabermos mais sobre o esporte, sua história e sua prática, entrevistei o meu amigo Walter Santana Júnior, semi-finalista do campeonato brasileiro de cadetes de 2013.

Qual foi sua motivação para começar a praticar o esporte?
Walter Santana: por influência principalmente do meu pai, sempre fui muito ligado ao MMA. Meu sonho sempre foi ser um lutador de MMA e meus grandes ídolos do esporte eram exímios lutadores de luta greco-romana e luta olímpica em geral. Disso, induzi que meu primeiro passo era ser um praticante da luta

Viktor Nemes da Sérvia compete contra Saeid Morad Abdvali do Iran, durante as Olimpíadas do Rio em 2016

 

Qual é a diferença de luta greco-romana para luta olímpica?
Walter: A luta greco-romana, na verdade, é um dos estilos da chamada “luta olímpica”. A luta olímpica é uma fusão de dois estilos diferentes: luta greco-romana e luta livre. A luta greco-romana só utiliza os braços e o tronco para realizar as quedas, a luta livre usa todo o corpo.

Por que você optou por praticar a luta greco-romana e não a luta livre?
Walter Santana: Eu comecei praticando os dois na verdade. Mas me identifiquei mais com a luta greco-romana e me mantive nesse estilo.

Quais são os seus ídolos no esporte?
Walter Santana: Meu primeiro ídolo no esporte foi o Georges St-Pierre. Apesar de ele ser um lutador de MMA, seu estilo mais forte no MMA era o Wrestling (luta olímpica em inglês). Acompanhei a sua carreira desde o início e ele ter se sagrado campeão me fez apaixonado pelo esporte. Depois de começar a praticar e assistir a lutas do esporte isolado, é muito difícil ter outro ídolo fora Alexander Karelim.
Caio: Quem é Alexander Karelim? Desculpe a ignorância.
Walter:
Não me espanta saber que você nunca tenha ouvido falar do nome de Alexander Karelim. O esporte é muito pouco difundido no país. Alexander Karelim é o maior lutador de luta greco-romana na história do esporte, conquistou algumas medalhas de ouro e teve pouquíssimas derrotas na carreira. Apesar de ser muito alto e pesado, ele era extremamente ágil.

No Brasil, quem é o seu ídolo?
Walter Santana: Como raramente acontece nos esportes, meio historicamente machista, o maior ponto de referência pra mim e para todos os praticantes de esporte é a Aline Silva. Em 2014 ela conseguiu o maior feito da história do país, sendo consagrada como a vice-campeã mundial de luta greco-romana.

Aline Silva, de azul, praticando a luta greco-romana

 

Que dica você daria pra quem quer praticar o esporte no Brasil?
Walter Santana:
Não desista. Você vai encontrar algumas dificuldades no começo, por falta de estrutura e incentivo. Recomendo procurar o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa. Mas saiba o que você quer e não desista de praticar esse esporte. É incrível até para quem só busca uma atividade física.

A conversa mostra que temos mais um esporte milenar e extremamente famoso no mundo todo que é esquecido pela cultura brasileira. Por isso, assim como não espantou ao Walter, não me espanta que você não tenha nem ouvido falar do esporte. Que nós brasileiros consigamos disseminar, promover e transformar a cultura desse esporte no Brasil.