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Badminton: prática, dificuldades e cenário

Lucas Machado

Foto: Soraya Hauache

Luca Mosena, atleta de Badminton

 

Ainda pouco popular no Brasil e caracterizado por ser uma misto de tênis e vôlei de praia jogado com uma peteca e uma raquete, o badminton tem sua origem indefinida, mas a modalidade que se conhece hoje teve início na Índia. Nascido sob o nome de Poona, o esporte ganhou força quando, ainda no século 19, oficiais britânicos em missões na Índia gostaram do esporte e o levaram pra Europa.

Na década de 1870, o Poona, já na Inglaterra, foi rebatizado como badminton, após ganhar uma nova versão e ser praticado em Badminton, de propriedade do Duque de Beaufort’s, em Gloucestershire. Local onde, em 1934, foi fundada a federação internacional do esporte.

No Brasil, não se sabe ao certo quando se começou a praticar o esporte. A prática tornou-se competitiva a partir de 1983, quando foi disputada a primeira edição da Taça São Paulo. A Confederação Brasileira de Badminton, entretanto, só seria fundada dez anos depois, em 1993. Hoje, a entidade conta com 15 federações filiadas. Já a Federação Mundial tem 179 países filiados. O esporte estreou nas Olimpíadas em 1992 e em jogos Pan-Americanos em 1995, permanecendo até hoje em ambas.

As regras são simples: se joga numa quadra pequena (cerca de ¼ de uma quadra comum), com uma rede, raquetes e uma peteca. Pode ser jogado nas versões simples e duplas. O ponto se dá quando a peteca tocar no chão da quadra adversária ou em erros (na rede ou para fora da quadra), como no vôlei. E só é permitido um toque na peteca para que ela retorne à quadra adversária.

Luca Mosena, 22, conheceu o badminton acidentalmente – como acontece com quase todos os que acabam conhecendo o esporte aqui no Brasil. Em entrevista ao Blog, ele conta a experiência dele com o esporte, uma versão particular que ilustra bem o cenário do badminton no país como um todo.

 

BJE – Como você conheceu o badminton?

Luca Mosena – Bem, como você deve lembrar, no nosso ensino médio, além dos esportes tradicionais – futsal, futebol, vôlei – teve um esforço dos professores de educação física pra aproximar os alunos de esportes diferentes. Qualquer quadra poliesportiva serve pra jogar. Aí arrumaram a rede, as petecas, as raquetes, e não tinham muitas, porque eram caras.Daí tinha que revezar e tal. Mas, mesmo assim,tava tudo na mão pra gente jogar. Então o primeiro contato foi meio porque apareceu tudo disponível lá. Eu sempre gostei muito de esportes, mas não era grande coisa no futebol, nem no vôlei, e de handebol especificamente eu nunca gostei. Ali, no badminton, éramos todos iguais na ruindade (risos). E, com o tempo, fui me destacando, até ganhei a modalidade em dois anos seguidos do interclasse.

BJE – Mas por que o badminton? Tudo bem, você não tinha muita aptidão nos outros esportes. Mas isso por si só não te faria continuar interessado no esporte. Tem algum diferencial…

LM – Porque é divertido! Você nem percebe o tempo passando! O badminton pega o que tem de melhor no tênis, só que com regras mais fáceis e é muito mais dinâmico. Você fica tão vidrado no jogo que nem vê o tempo passar. Além de ter muitas jogadas inusitadas. Então cria um vínculo com quem você tá jogando. Além de ser muito fácil jogar e de ter regras bastante simples, o que é outro problema do tênis e de outros esportes. O futebol mesmo tem regras mais complicadas, como o impedimento, o que é falta ou não, o que é mão ou não. É que o futebol a gente aprende desde o berço né.

BJE – E como praticar o esporte aqui em São Paulo?

LM – Eu sou de fora né, então lá em Campo Grande, onde fiz o ensino médio, era mais fácil porque eu tinha os amigos da escola que participaram do mesmo projeto, a gente combinava de jogar. Aqui, foi como se voltasse tudo pro zero. Na minha faculdade, FGV, quem conhecia, conhecia só de nome. Eu tenho as raquetes e a peteca, tinha uns contatos na Atlética, que gostaram da ideia da gente levar um pouco de badminton pra faculdade, teve até um início de projeto – a ideia era realizar algo similar ao que ocorreu com o rúgbi, que tá sendo praticado em tudo quanto é universidade agora. Mas daí a chapa concorrente ganhou a eleição e nada aconteceu. Então jogo de verdade só quando vou pro MS. Aqui o máximo que acontece é brincar com um amigo ou outro de não deixar a peteca cair (risos). Tipo frescobol na praia, só que com as raquetes e o birdie (peteca).

BJE – E não rolou procurar gente que pratique…

LM – Ah, conforme a vida vai avançando… acabei de me formar, agora tô trabalhando… fica mais difícil né. Tem uns projetos assistenciais que ensinam badminton, mas eu não me incluo, é longe.E é mais forte em outras cidades do que aqui.Existe a prática em clubes mais tradicionais, mas tem que ter o acesso, é muito elitizado. O que deixa mais complicado, a barreira de entrada não é tão trivial.Talvez tenha em São Paulo alguma roda de amigos que jogue, tem de tudo aqui. Mas, depois de não ter rolado na faculdade, das dificuldades, acabei deixando de lado. Só quando vou pro MS mesmo.

BJE – E como você vê o cenário do badminton de modo geral?

LM – Ah, aqui no Brasil é complicado né. O esporte não é conhecido de maneira geral. Entrou nas Olimpíadas só na década de 90. Os asiáticos são muito fortes nas competições, mas acho que até lá não é tão simples encontrar lugares pra jogar de verdade – na quadra, com rede, etc. Aqui no Brasil acaba sendo uma coisa bem de nicho mesmo, como foi na minha escola, como ocorre nesses projetos sociais… Espero que algum dia a coisa cresça, mas vendo o que ocorre com esportes mais conhecidos, como tênis de mesa, tênis normal, handebol, até o basquete, que patinam – em diferentes níveis, é verdade –, não fico muito confiante. Mas quando passar na TV nas Olimpíadas, recomento muito, é divertido assistir também.