Crônicas

UMA COPA DO MUNDO E A PERDA DA INOCÊNCIA, por Vítor França Galvão

Dizem que a primeira Copa do Mundo de uma pessoa acaba por marcá-la para sempre na sua história com o futebol. Eu tinha 14 anos na Copa de 1978, na Argentina, e, embora vivesse sob um regime militar aqui no Brasil, eu não fazia ideia de que um torneio como esse poderia ser de interesse de governos e governantes. A Seleção Brasileira para mim – com Leão, Batista, Nelinho e Rivelino, meus ídolos da época – era uma verdadeira devoção. Minhas bíblias eram as revistas Placar e Manchete Esportiva, tempos pré-internet e pré-tv a cabo. Aquele jogo entre Argentina e Peru jamais saiu da cabeça do garoto que, naquela fria quarta-feira de junho, teve de aprender que uma partida nem sempre é decidida dentro de campo. Foi a Copa do Mundo da ditadura argentina, para a ditadura argentina, sob a ditadura argentina. Enquanto toneladas de papel picado balançavam ao vento no estádio do River Plate, celebrando a vitória deles sobre a Holanda quatro dias depois, aquele garoto crescia e enxergava o mundo do futebol de maneira diferente. Ao Brasil, restou o terceiro lugar, invicto, batendo a Itália com um dos gols mais bonitos já feitos em Copas do Mundo: um gol de Nelinho cujo chute assombrou a todos. Ainda hoje, em minha estante, estão aquelas revistas encadernadas e guardadas com carinho… como se eu guardasse ali minha infância para que ela não fosse roubada de novo.

Vítor França Galvão para o Especial “Crônicas Esportivas, Copa do Mundo e Seleção Brasileira de Futebol”