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Da falta de incentivo à motivação pela competição – entrevista com Max Galli

Max e uma das suas grandes paixões: estar junto das cores da sua faculdade. | Crédito: Facebook
Max e uma das suas grandes paixões: estar junto das cores da sua faculdade. | Crédito: Arquivo pessoal

De nome curto mas com uma força de vontade que deixa qualquer pessoa impressionada, Max Galli tem 23 anos, estuda Gestão Ambiental na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Natural de Lençóis Paulista, interior de São Paulo, não perde por nada um jogo do Palmeiras, seja no estádio ou na televisão. É um grande defensor do esporte universitário, foi por quatro anos membro da Associação Atlética Acadêmica EACH-USP, entidade que promove o esporte dentro da faculdade onde estuda. Seu trabalho na Atlética lhe rendeu, em 2014, uma indicação ao prêmio de Melhor Diretor de Esportes, numa premiação anual do maior campeonato de esporte universitário do estado, o Novo Desporto Universitário (NDU). Max trabalha nos bastidores, mas também entra em quadra para jogar futsal, handball e xadrez. Conversei um pouco com ele para entender mais toda a motivação e paixão por trás desse atleta.

Max, desde quando você está envolvido com o esporte e por que ele te atraiu tanto?

Desde muito cedo me envolvi com o esporte. Aos cinco anos, comecei a frequentar os treinos de futsal que eram oferecidos pela diretoria de esportes da minha cidade natal. Além disso, sempre fui muito incentivado pelo meu pai e acabei achando no esporte uma motivação para encarar alguns fatos que ocorreram na minha vida quando criança, como a morte da minha mãe quando ainda era bem pequeno. A prática de esportes me ajudou muito a tomar decisões mais efetivas na vida, além de aprender a trabalhar em equipe, a respeitar as pessoas e sempre buscar enxergar as coisas além de simplesmente vitória ou derrota. Isso tudo aumentou de proporção quando entrei na universidade e conheci o esporte universitário e toda a paixão dos atletas que entram em quadra defendendo sua faculdade. Desde então, quis fazer isso crescer dentro da minha faculdade, por meio de contato com outras e me informando sobre modalidades, regulamentos, campeonatos e trazendo esse conhecimento para dentro da nossa Atlética. Além disso, gosto muito de acompanhar qualquer esporte de nível profissional, apesar da minha preferência por futebol e futsal. Após a Copa do Mundo no Brasil e a divulgação das Olímpiadas que acontecerão em 2016, meu lado torcedor ficou ainda mais aguçado em querer acompanhar as novidades de todas as modalidades e em buscar trazer o conhecimento para a minha realidade.

Max também faz participações dentro do futsal da EACH-USP como goleiro. | Créditos: arquivo pessoal
Max também faz participações dentro do futsal da EACH-USP como goleiro. | Créditos: arquivo pessoal

Gostaria que você contasse um pouco sobre os problemas de saúde que você enfrentou durante a vida e como isso afetou sua relação com o esporte.

Em 2006, sofri lesões nos dois joelhos em plena preparação para os jogos regionais, o que me fez perder muitas oportunidades dentro de uma futura carreira profissional. Não operei os joelhos, mas busquei tratamentos para aliviar as dores. Quando vim para São Paulo e retornei à prática constante, tive agravamento nas lesões. Acabei tendo que parar de jogar por um tempo, mas os principais jogos da minha faculdade estavam se aproximando e eu sentia que deveria estar em quadra e ajuda-los a buscar o título. Por conta disso, busquei tratamentos considerados arriscados – por conta de alguns problemas cardíacos que tive – para a melhora das lesões. Algumas outras dificuldades que passei recentemente foram uma pequena lesão no crânio e outras em alguns ossos da costela. Hoje estou bem, mas desde sempre costumo falar que meu maior inimigo não é o que está em quadra jogando contra mim, e sim meu próprio corpo que me sabotou por um bom tempo. Mas isso tudo não foi empecilho pra que eu sempre buscasse estar dentro de quadra e dando o meu melhor. 

Com base nas suas experiências tanto em bastidores quanto em quadra, o que você acha do incentivo ao esporte universitário do nosso país?

“É isso que eu chamo de motivação. É o que faz você sempre querer mais, mesmo que tenham milhares de fatores externos contra você naquele momento.” | Crédito: arquivo pessoal

Acho muito fraco e percebo que esse problema vem de cima, principalmente da Federação que cuida dos campeonatos. Vejo que tem muita política envolvida e hoje, por exemplo, temos um campeonato grande dentro do estado de São Paulo (NDU) qual participam universidades do interior, litoral e grande São Paulo e quando você é campeão acaba ficando por isso mesmo. Você não recebe um incentivo para ir além disso e buscar títulos nacionais e sul-americanos. As federações impõem normas que não são bem aceitas dentro das universidades e que são difíceis da maioria se adequar, o que acaba desestimulando muito a prática de modalidades esportivas dentro das universidades. Além disso, poucas faculdades brasileiras oferecem bolsas para atletas – eu mesmo sou bolsista em uma universidade particular como atleta, mas estou sem receber por conta de uma das lesões recentes que tive, de forma que ainda não estou em perfeitas condições para desempenhar as modalidades que fazem parte da bolsa. Um outro problema que vejo é a falta de interesse dos alunos em apoiar o esporte dentro da faculdade, visto que muitos preferem dar mais valor a festas e eventos do que ir a um jogo para torcer ou mesmo jogar, sendo que a maioria dessas festas e eventos são para justamente custear a disputa de campeonatos. Sei que nesse quesito ainda falta muito para a situação mudar, mas luto dentro da minha universidade para colocar lazer e esportes no mesmo nível. Como disse, um acaba financiando o outro, principalmente devido à falta de apoio por parte da diretoria e reitoria da universidade.

Para finalizar, queria que você se sentisse à vontade para deixar alguma contribuição para nossos leitores no que diz respeito ao aprendizado que você teve mesmo com as dificuldades que encontrou ao longo dos anos para praticar esportes.

Tirando questões externas que podem influenciar o comportamento de um atleta, eu acho que ninguém entra em quadra para perder. Sempre aprendi com meus técnicos que mesmo que eu não tenha a habilidade que a maioria possa ter ou mesmo não sendo um dos melhores, eu sempre deveria me esforçar. Mesmo que errasse, eu acabaria me lamentando, mas, no outro dia, estaria lá tentando novamente. Acho que isso é o interessante do esporte. Mesmo numa pelada entre amigos, você não entra para perder. É isso que eu chamo de motivação. É o que faz você sempre querer mais, mesmo que tenham milhares de fatores externos contra você naquele momento. Quem quer, busca o resultado. É sempre muito bom estar entre os vencedores e cada vez mais buscar títulos e vitórias. Isso é o que me motiva.

(por Mariana Gomes)