Reportagens

Campo do XI, um reduto do esporte universitário

Tênis é um esporte que demanda uma grande dedicação para os treinos, o que faz com que seja necessário escolher entre continuar os estudos ou focar no esporte, fazendo com que muitos tenistas o abandonem. Além disso, é um esporte caro, que exige um grande investimento dos atletas, tanto para a compra do equipamento quanto para pagar treinadores e locações de quadra. Assim, é comum que alguém que parou de praticar o esporte nunca mais volte a jogar, ainda mais se essa pessoa começou a fazer uma faculdade e precisa focar nos estudos.

Com tudo isso, o Campo do XI entra como uma ótima opção para os tenistas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, ou Sanfran. O terreno do Campo foi doado ao Centro Acadêmico XI de Agosto em 1955 e, apesar de ter contraído uma dívida milionária, segue como um reduto para a prática do tênis universitário. Situado próximo ao parque Ibirapuera, o Campo apresenta duas quadras de tênis descobertas que foram recentemente reformadas.

Outro ponto interessante, é que o tênis universitário pode ser competido por equipes, com atletas que são da mesma faculdade formando um time, o que faz o esporte deixar de ser tão individual e solitário e passe a ser mais coletivo. Isso gera amizades através do esporte e facilita para o atleta se adaptar à vida universitária.

Conversamos com Vitor Vitorello, atleta da Sanfran, para entender sua trajetória no tênis e como o Campo o ajudou a voltar a praticar o esporte.

  • Há quanto tempo você treina tênis? Chegou a competir na federação?

Vitor: Jogo tênis desde meus 11 anos de idade, quando comecei a trabalhar como apanhador de bolas. Ganhava 5 reais por hora de trabalho. Naquela época e com aquela idade era bastante dinheiro.

Com o tempo, pelo fato de ficar jogando tênis diariamente com os outros apanhadores de bola, fui melhorando e comecei a treinar competitivamente.

Quando eu fiz 15 anos, ingressei na Federação Paulista de Tênis. Entre os 15 e 17 anos minha rotina basicamente era treinar de segunda a sexta e jogar torneios paulistas de sábado e domingo.

Aos 17, após refletir bastante, optei por parar de treinar competitivamente (eram cerca de 8 horas por dia) devido à incerteza do retorno que talvez o tênis pudesse dar como meio de vida. Nisso, voltei a estudar e ingressei na USP, na área de Direito.

  • Você treina no campo do XI desde que entrou na Sanfran?

V: Entrei na Sanfran em 2014, mas somente voltei a treinar tênis em 2015. Como calouro que era, acreditava que era necessária dedicação integral à faculdade para poder aprender tudo o quanto fosse possível. Era como se fosse a prolongação da dedicação do cursinho pré-vestibular.

Porém, com um pouco mais de maturidade, comecei a perceber que era completamente compatível os estudos com o treino, tendo em vista que a rotina maçante de estudos típicas do cursinho não era mais necessária.

Assim, logo no começo de 2015, entrei para equipe de tênis da Sanfran, a qual realiza seus treinos do Campo do XI.

 

  • Quais motivos para o tênis da Sanfran treinar no campo?

V: Sempre gostei de esporte e principalmente de competição. Tênis foi minha vida por cerca de 6 anos. Respirava tênis, dormia tênis e vivia tênis. Assim, por mais que eu estivesse parado, todo o treino que realizei durante este período me dava uma vantagem considerável.

Assim, nos treinos, conheci pessoas maravilhosas que possuíam uma realidade muito parecida com a minha. O atleta para competir em nível universitário, com toda certeza, já ficou muito tempo em quadra com muita dedicação. É praticamente impossível que um calouro entre sem saber nada e, mesmo treinando muito, consiga competir no nível no qual jogamos.

Então, treinar no campo, me trouxe muitos aspectos positivos: voltar a competir, fazer o esporte que amo, encontrar pessoas incríveis e, principalmente, fazer parte de uma equipe.

O tênis é um esporte individual por excelência. Poder fazer parte de uma equipe de tênis, me fez gostar ainda mais do esporte que pratico.

Tudo isso veio com o treinamento no campo do XI.

  • Quais os problemas que o campo apresenta?

V: Acredito que três.

O primeiro é a falta de bebedouro, de modo que sempre temos que levar garrafas de água de nossas casas.

O segundo é que ao lado das quadras de tênis, há uma quadra de beach tennis. Então, é comum que a areia desta quadra acabe entrando nas quadras de tênis, o que deixa a quadra escorregadia e aumenta o risco de eventuais lesões.

O terceiro é que as quadra não são cobertas. Portanto, sempre que chove, não há treino.

 

  • Quais foram as suas melhores experiências lá?

V: Poder dividir os esforços diários de treino com meus amigos de faculdade é uma coisa que levarei para o resto da vida. Além disso, ali, conheci muitos outros atletas de outras faculdades (Poli, Fea, etc), que, apesar de adversários em quadra, hoje são grandes amigos.

As quadras de tênis do Campo do XI sempre me trarão boas memórias.

  • Você considera o lugar especial? Por quê?

V: O lugar é especial. O dia pode ter sido horrível, mas, assim que chego para treinar com nosso técnico e meus amigos, tudo fica melhor.

Mesmo após um dia extremamente cansativo e indo treinar das 22h00 às 00h00, sempre saio revitalizado.

  • Possui alguma história curiosa sobre lá?

V: Várias, mas uma é bem legal.

Um calouro extremamente animado cobrou a mim e a uma veterana sobre como seria o Bichusp. O jogo foi marcado para um sábado, às 08h00 na Cidade Universitária. Combinei também de buscá-lo junto com outro calouro no metrô Butantã.

Na sexta, havia uma festa da faculdade na qual eu compareci e esse calouro também. Pude observar o calouro bebendo incessantemente. Como não sou pai de ninguém, deixei o menino se divertir como bem entendia.

No dia seguinte, o óbvio aconteceu. O calouro não apareceu.

Depois mandou mil mensagens pedindo desculpas.

Na semana seguinte, ele compareceu aos treinos no Campo do XI. Nisso, o Coach sabendo desta história, disse que ele deveria jogar uma partida de “bundão” contra mim com apenas 3 vidas. Quem ganhasse teria direito a uma bola para acertar em quem perdesse. Eu ganhei.

O calouro foi para a tela e eu fiquei na rede. Nunca, em toda minha vida de “bundões” jogados consegui acertar um saque tão forte e tão preciso na panturrilha do menino. Tive apenas um segundo de dó, mas depois passou.

O calouro foi em apenas mais um treino e depois nunca mais apareceu.

Autores:

Fabrizzio Lopes Giocondo Rossin

Bruno Correia Fujita