Crônicas

Crônica Esportiva de Almir Ribeiro Couto

Ironias da Vida

 

Pequeno sou. Como um jovem menino de 3 anos de idade, meu pai me pega no colo e me apresenta o futebol. Diante da tv, vemos juntos meu primeiro jogo: o clássico Corinthians e Palmeiras. Como um tradicional pai, desde o começo do jogo está me incentivando a torcer por seu time do coração, aquele com camisa branca, como umas cores nos escritos. Porém, esse uniforme é feio. O que me chama a atenção é aquele verde escuro, bonito. Pergunto o nome desse time, “Palmeiras”, ele diz. Começo, então, a gritar “Palmeiras, Palmeiras, Palmeiras”. Meu pai começa a me chacoalhar e gritar: “Corinthians, Corinthians, Corinthians”, mas não quero torcer pro Corinthians, a camiseta é feia!

Agora, pela primeira vez, entendo o significado de decisão: meu pai quer que eu torça pro Corinthians e eu quero pro Palmeiras. Até ai, não vou ser o primeiro filho a torcer pro time rival do pai. O que difere essa situação das demais é o que ele me contou logo depois. Meu primeiro nome é o mesmo do meu pai, e meu avô escolheu esse nome em homenagem a um grande jogador do Corinthians na década de 50. Isso me balança. Como que vou torcer pro time rival com o nome que eu tenho? Vou simplesmente deixar isso de lado? Mal vim pro mundo e já tenho que fazer uma escolha tão difícil dessas…

É… quanto mais passa o jogo, mais vejo o quanto significa pro meu pai eu torcer pro Corinthians… assim o farei, então. Porém, não consigo negar o carinho pelo Palmeiras. Vou ter de procurar outra cor pra ser minha favorita, mas tá difícil viu… esse verde me atrai. Agora, entender o motivo, não sei se um dia conseguirei. Verde forte e exuberante da bandeira nacional, verde da Floresta Amazônica, verde do lápis de cor? Lembrança da mãe natureza, sentimento de liberdade, de força, de acolhimento? Talvez essas sejam causas. Talvez não. A incerteza por causa da pouca vivência não me permite responder algo tão abstrato. Só consigo sentir. Sinto o poder do verde, a força do verde. Assim, um dia após o outro tentarei me desconectar dessa cor e criar laços com o preto e o branco, mas confesso que vai ser difícil, viu… o branco é um vazio, parece que não tem nada, não tem vida, cor, alegria, felicidade. Como gostar disso? E o preto é trevas, escuro, assombroso… não dá para se sentir confortável com ele. Será um problemão essa questão das cores, em. O jeito é procurar outras. Quem sabe o vermelho? Cor do sangue, da vida, da força do ser humano, mas também da devastação, da guerra. Bom, o jeito é viver um dia por vez e sentir a natureza. Minha nova cor favorita só o tempo dirá.