CrônicasNA ACADEMIA

Torcidas, futebol e democracia jogando juntos

Por Edwaldo Costa

Entre 1982 e 1984, o futebol conheceu um movimento diferente, com uma tática baseada em “ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.

Fincavam, então, no Parque São Jorge, as raízes da chamada Democracia Corinthiana.

Quem fincava? Alguns gênios do futebol, com destaque para Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o dr. Sócrates do mágico toque de calcanhar. Com ele, Zenon e sua visão de jogo e o petardo da perna esquerda. Também Valter Casagrande Junior e seu senso de colocação na área, um centroavante cheio de técnica mas também com garra. Para completar, inclua-se entre as lideranças um lateral esquerdo extremamente elegante, de técnica refinada: Wladimir Rodrigues dos Santos.

Foi o primeiro movimento político dentro do futebol, com uma pauta bem definida: a volta da Democracia, especialmente através da eleição direta para a Presidência da República.

Quase quatro décadas depois, vê-se uma nova associação entre futebol e democracia. Não, não é “só” um movimento político. Trata-se de uma inusitada associação entre as torcidas dos chamados grandes clubes do futebol brasileiro.

Torcedores de Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Internacional, Santos, São Paulo e outros estão saindo para marcarem posição contra os atos de extremistas que pedem o fechamento do Congresso Nacional e também do Supremo Tribunal Federal (STF).

É surpreendente tal união, especialmente quando se lembra das trágicas situações que as organizadas já provocaram nos estádios.

Mas fica a agradabilíssima surpresa de se constatar que a união de organizações tão antagônicas (e de passado tão deplorável) é possível. Se antes a imprensa as condenava, hoje tem espaço garantido e imagem positiva não só nos noticiários de esporte.

Na atual conjuntura é preciso discutir política e futebol sim. Afinal, democracia nunca é demais. E se ela for o marco inicial para um novo tipo de convivência entre as torcidas dos grandes clubes, vamos botar a bola no círculo central e começar uma nova era para o futebol brasileiro. A partir da arquibancada!

Edwaldo Costa possui pós-doutorado pela ECA-USP e atualmente é jornalista do Centro de Comunicação Social da Marinha do Brasil