O que é Jornalismo Esportivo – Eva Regina Freitas
Este especial é fruto da Tese “RIO 2016: O JORNALISMO ESPORTIVO E O COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL”, de Carlos Augusto Tavares Júnior, defendida na ECA-USP, em 2019. Material recuperado em virtude da realização dos Jogos Olímpicos de Paris, na França, de 18 de julho a 11 de agosto de 2024.
ENTREVISTA: Eva Regina Freitas, jornalista e apresentadora das emissoras do programa Giro do Esporte na TV Educativa de Campo Grande (MS). Realizada em 05 de novembro de 2015, nas dependências do Palácio das Comunicações (Prefeitura de Campo Grande)
- O que é jornalismo esportivo?
Olha… eu acho que quando se fala em esporte, para mim, é algo que vem desde (quando eu era) pequena: sempre gostei do esporte, sempre vivi o esporte, tanto que, na escola eu gostava de participar de campeonatos, sempre joguei vôlei, handebol e na minha época, tinha queimada e até campeonato de queimada na escola… isso era muito bacana… eu tenho três irmãos mais velhos e sempre assistia todos os Jogos com eles, futebol, vôlei. Então, eu acho que é uma coisa que veio de família e quando optei pelo (a profissão de) jornalismo, eu não tive dúvida: eu queria o jornalismo esportivo e, apesar de ser complicado, por ser mulher, quando eu comecei existia isso (estigma): a pessoa já olhar de uma forma diferente, porque você quer fazer o esporte: “e essa menina no meio de todo mundo, será que entende mesmo? ”, então você sentia um certo receio, mas pelo fato de ser mulher, precisa provar (o valor profissional) mas sempre digo uma coisa: (no jornalismo esportivo) a mulher não pode errar. Se o homem errar, tranquilo… agora, quando a mulher errou, no outro dia vai ser o comentário geral. Então, eu acho que isso já pesa mais, é uma responsabilidade a mais, mas isso eu vejo como uma coisa boa: porque preciso me esforçar mais… para fazer o (cobertura de) esporte tem que gostar… não tem jeito. Eu assisto, se eu não estivesse trabalhando no jornalismo esportivo estaria acompanhando do mesmo jeito que acompanho hoje. Então, você vai atrás de notícias, você quer saber, quer ficar bem informado, o que está acontecendo. O que existe também são muitos jornalistas, por exemplo, aqui em Campo Grande, que não fazem o esporte, fazem o futebol. Eu não… me interesso por todas, ou melhor, são várias as modalidades esportivas. Então, no meu dia a dia, eu busco sempre. Gosto do futebol, sempre fui apaixonada pelo futebol, mas acima de tudo, sou apaixonada pelo esporte. Eu gosto de acompanhar o máximo que eu puder, mas, é lógico: ninguém sabe tudo de tudo. Quando faço uma matéria sobre determinada modalidade e alguma coisa (prática esportiva) que está começando eu sempre vou perguntar… e uma coisa que sempre falo: “pergunte, não tenha vergonha de perguntar, porque ninguém nasceu sabendo”. Então, em um esporte novo, “como funciona?”, “como é que marca ponto?”, “quais são os principais lances?”; precisa perguntar… se não sei, eu vou perguntar mesmo. Eu acho que (assim) você está vivendo o esporte, fazendo o que gosta, é muito mais legal. No (jornalismo de) esporte, você pode criar, você pode inventar… principalmente na TV… porque o esporte dá mais liberdade, de ser criativa, de sair daquele (formato) fechadinho de jornal: da matéria, off, passagem, sonora… você pode fazer diferente, como gravar uma abertura, pode fazer uma brincadeirinha… mas deve caprichar na edição – acho que a edição é tudo – quando você tem um trabalho bem produzido: uma reportagem bem feita com uma boa edição aí é excelente. É um trabalho em equipe: precisa estar bem sintonizada, por exemplo, quando eu saio, eu já sei, olho para o cinegrafista, ele já sabe e também me dão ideias: “você poderia fazer isso…”, “você poderia fazer aquilo…”. Você precisa trocar ideias, daí eu digo: a reportagem é um trabalho que se faz em equipe, você deve sempre estar em sintonia um com o outro: “quero uma imagem de sol quente”, não adianta pedir uma imagem qualquer de sol sem ter falado antes com o cinegrafista… poder falar o que eu quero e também ouvir(-lo), isso é muito bacana, porque muitas vezes, eles tem muitas ideias boas e a equipe tem ideias bacanas… se você ficar fechado em seu mundo, você acaba fazendo aquela coisa (trivial), aquele “arroz com feijão”. Por exemplo, em uma partida de futebol você não vai falar (na reportagem de campo) que “no primeiro tempo aconteceu um lance…”, vamos tentar fazer uma brincadeirinha: vamos pegar o público, o pai do jogador que estava ali e tentar ouvir alguma coisa ou então, vamos ouvir a vida do árbitro ou da pessoa que dirige a maca… tentar ver outros lados e tentar humanizar também e não ficar presa a um assunto… você abranger várias pautas que podem surgir dentro daquela reportagem que você foi fazer.
FONTE:
TAVARES JÚNIOR, Carlos Augusto. Rio 2016: o Jornalismo Esportivo e o Comitê Olímpico do Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2019.
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27153/tde-24052019-100614/pt-br.php