Entrevista Arthur Ramalho – O que é Jornalismo Esportivo
Este especial é fruto da Tese “RIO 2016: O JORNALISMO ESPORTIVO E O COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL”, de Carlos Augusto Tavares Júnior, defendida na ECA-USP, em 2019. Material recuperado em virtude da realização dos Jogos Olímpicos de Paris, na França, de 18 de julho a 11 de agosto de 2024.
ENTREVISTA: Arthur Mário Medeiros Ramalho, jornalista e radialista da Rádio Cultura AM 680[1]. Realizada em 25 de novembro de 2015, nas dependências da emissora.
- O que é jornalismo esportivo?
Bom dia! É um prazer imenso recebê-lo aqui na Rádio Cultura de Campo Grande (MS). Olha, na minha visão, o Jornalismo Esportivo, ele é, dentro de todas as editorias, primeiramente… diria que seria uma grande escola. Eu acompanho alguns casos de grandes profissionais que inclusive migraram: tiveram início de sua carreira profissional no esporte e depois partiram para outras editorias. São muitos e muitos cases do jornalismo brasileiro, seja no rádio, seja na televisão ou até mesmo no impresso: o Faustão (Fausto Silva) é um caso; eu era menino, no interior do estado (MS) e, na despedida do Pelé, eu guardei as matérias (3 páginas) do jornal O Estado de S. Paulo; eu era office boy e queria o Estadão que chegava dois dias atrasados em minha cidade, Nova Andradina, aqui no interior do estado (MS). Quem lia o jornal primeiro não era o chefe… era eu, de bicicleta… e eu guardei a (matéria) “Despedida do Pelé” e aí, depois, adulto, já em Campo Grande, aí olhando a assinatura, quem é que foi o repórter que cobriu para o Estadão a despedida do Pelé pelo Santos, no jogo contra a Ponte Preta? Na matéria assinada: Fausto Silva, um cara que está hoje na televisão. Depois eu conheço o trabalho do Fausto com o Osmar Santos, que é uma das grandes referências para mim; ele com o Osmar na Jovem Pan (AM 620 – São Paulo), depois Rádio Globo de São Paulo (AM 1100) e Excelsior (AM 780 – São Paulo, atual CBN); ou seja, o rádio – jornalismo esportivo, no meu ponto de vista, o Jornalismo Esportivo no Rádio, ele é um verdadeiro caça-talentos para o jornalismo brasileiro… quantos jovens iniciaram no rádio esportivo, inicialmente, pela paixão; aquele mundo bacana… de ouvir grandes emissoras em uma cidade do interior e se sentiram atraídos para o Jornalismo Esportivo: às vezes a vaidade falando, às vezes a paixão falando… e, na verdade, essa grande escola de Jornalismo, que é o Rádio Esportivo, ela tem muitos e muitos casos que você pode verificar na Grande São Paulo – vamos pegar (o estado de) São Paulo como referência, que é a cidade com que nós, do Mato Grosso do Sul, temos uma ligação muito forte, como referência e como escola. Então, o jornalismo esportivo, além de ser essa grande escola, ele também é o espaço de muita realização humana: eu que, jamais imaginei, por exemplo, que pudesse viajar o mundo. Eu viajei o mundo e tive oportunidade de acumular tanto conhecimento, tanta informação nova nas viagens, carimbando (meu) passaporte (pelo) mundo afora, que, se eu estivesse em outra área da Comunicação, certamente, eu não teria tido essa oportunidade de conhecer várias e várias culturas – América do Sul, Europa, Ásia. Então, há essa outra característica e, o jornalismo esportivo, ele dá uma bagagem diferenciada: eu passei por redação de jornal em um período muito curto, com outros colegas de redação e enfim, até hoje, com mais de trinta anos de (experiência em) rádio. Hoje, por exemplo, além do esporte, eu apresento um programa matutino, o programa principal do jornalismo da rádio (Cultura AM 680), das 6:50 às 8:30 (horas) da manhã, que é o programa RC 360, uma equipe de pelo menos, quatro pessoas, às vezes cinco pessoas. O jornalismo esportivo me deu uma capacidade de improvisação, de análise, de conjuntura, enfim, imenso! Às vezes, quando há a necessidade, além de dar a notícia, de checar bem a fonte, de ir na agilidade do rádio… naquela velocidade, da necessidade… como agora pela manhã (25/11/2015), dar a informação da prisão do empresário José Carlos Bumlai, que teve negócios no Mato Grosso do Sul e acabou de ser preso pela operação Lava a Jato (da Polícia Federal) em um hotel em Brasília – toda a improvisação do rádio esportivo (foi útil) além de dar a notícia, enfim, de improviso, sem texto, sem notebook na mão… a agilidade de memória, com dados, com informações, que (a experiência com) aquele jornalismo esportivo, da velocidade, do texto leve e enxuto, enfim, (me) permite. Então, o jornalismo esportivo, para mim, além da realização humana, é a verdadeira escola do repórter esportivo que eu fui, do narrador esportivo que eu sou, nos dias de hoje, me permite até por informação de outros colegas e eu, que em alguns momentos fiz televisão e, essa possibilidade que o jornalismo esportivo me deu, quando fiz televisão, em períodos curtos, até porque meus diretores de televisão sempre, após a apresentações, debates; teceram alguns comentários, alguns elogios pela performance, pela desenvoltura… Então, o Jornalismo Esportivo, ele é, acho que, diferente de tudo de uma redação: os setoristas da polícia, os setoristas da política, do meio-ambiente, de cidades do interior; e um outro aspecto do jornalismo esportivo: quando você pode mostrar ao seu público – ouvinte, leitor, telespectador – o esporte mexe com o ser humano nas suas emoções, na sua possibilidade imensa do sentir, não só pelo time que torce, mas pelas histórias maravilhosas que você pode contar dentro do mundo do esporte; sejam dirigentes, sejam atletas, enfim, através das regras dos esportes, das modalidades esportivas, você trabalhando bem, focar na questão educação, principalmente, do jovem, do adolescente, porque o esporte educa… qualquer modalidade esportiva educa… afora, essa violência imensa que a (Rede) Globo coloca no ar aqui no Brasil, o UFC (Ultimate Fighting Championship, uma das modalidades do MMA – artes marciais mistas), enfim, essas lutas, que na verdade são verdadeiros combates que deseducam a criança, o jovem e o adolescente, aliás, fomenta, é uma apologia à violência. Afora isso, qualquer modalidade esportiva é um grande espaço de formação de cidadãos, de exercício da cidadania. O bom jornalismo pode, na sua cobertura, sempre estar focando também esse lado educacional: principalmente os jovens, as crianças, os adolescentes, do exemplo que o esporte dá na formação do futuro cidadão.
[1] A emissora Cultura migrou para a frequência FM (92,3 MHz) e mudou de nome em 2018 para Rádio Hora.
FONTE:
TAVARES JÚNIOR, Carlos Augusto. Rio 2016: o Jornalismo Esportivo e o Comitê Olímpico do Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2019.
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27153/tde-24052019-100614/pt-br.php