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Fernando “Bebê” Candido: lutador amador, amador do esporte

Prestes a concluir o curso de jornalismo no Mackenzie, Fernando Candido é um apaixonado por esporte desde que se conhece por gente. Corinthiano fanático, sua trajetória é acompanhada da prática desportiva, e sua carreira profissional também se relaciona com esse mundo: ele é estagiário de esportes do Portal R7.

No alto do seu um metro e noventa e quatro, Fernando começou ainda criança no futebol, primeiro como goleiro e depois como centroavante. Antes de completar a maioridade, foi desbravar o futebol do norte do país, e passou uma temporada no Araguaína-TO. Sem o sucesso que desejava, voltou para São Paulo em busca de estabilidade e iniciou o ensino superior.

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Fernando, de bermuda rosa, com seu mestre (blusa verde) e dois colegas de treino, após vencer o X Campeonato Paulista de Muay Thai Amador. | Crédito: Acervo Pessoal

Pouco depois de largar o futebol, entretanto, a atração pelo esporte falou mais alto, e, paralelamente à faculdade, Fernando encontrou um novo amor: o muay thai. Desde 2010, o gigante pratica a modalidade de origem tailandesa na academia Puro Impacto, localizada na zona sul de São Paulo. Com um impecável card de cinco vitórias em cinco lutas na categoria Peso Pesado (até 94kg), Fernando nos contou um pouco da sua trajetória na entrevista abaixo transcrita (a versão em áudio encontra-se no final da página)

P: Fernando, você começou bem jovem no futebol. Como é que foi esse principio?

Fernando: Eu comecei motivado pelo meu pai, e a princípio eu não jogava em nenhum grande clube. Eu jogava próximo ao trabalho dele, em um time de comunidade, que fazia um trabalho com a garotada. Aí depois, com 17 anos eu fui para base do Araguaína no Tocantins, e lá que eu tive esse contato um pouco mais profissional com o futebol.

P: E como é que foi essa experiência no Araguaína? O que te fez largar o futebol?

F: A experiência foi muito boa. Ficar fora de casa, embora em um lugar extremamente quente, difícil pra se adaptar. Mas foi legal, foi muito bacana, tive contato com uma molecada também que foi um exemplo na vida, de ter um outro olhar sobre tudo o que acontece. O que deu errado foi que eu já estava com 19 anos, e eu estava insistindo no futebol ainda, nessa idade e aí eu já vi que realmente não ia dar. É uma rotina extremamente desgastante, longe da família, de tudo. Aí eu conversei com os meus pais e a gente achou melhor realmente estudar e focar em algo mais seguro para a minha vida.

P: Depois do futebol não dar certo, você resolveu praticar um outro esporte com um pouco mais de afinco. Já há alguns anos você migrou para o muay thai. Como foi o começo? O que te motivou nessa nova empreitada?

F: Eu sempre gostei muito de esporte. Eu estava um pouco parado, só jogando bola por brincadeira, e aí um amigo meu me apresentou essa academia de luta, ele falou “Bom, tem uma aula de muay thai muito bacana lá”. Eu fiz, foi em 2010, fiz uma aula, gostei pra caramba, fiz um mês seguido. Depois de uns meses, eu parei por causa da faculdade e aí quando eu voltei, no mesmo ano, voltei já em definitivo mesmo, para ficar, e estou até hoje.

P: Como é que foi o seu princípio no muay thai? Você chegou a pensar em largar?

F: Largar não, mas é um começo muito difícil. É degrau por degrau, realmente, porque o muay thai em suma é muito simples de se aprender, mas acontece que como eu comecei a evoluir no esporte, eu tinha um interesse muito grande em poder lutar, e [a partir de] aí começa a complicar um pouco. Os treinos começam a ficar mais pesado, mais puxados, e é muita coisa para corrigir, são muitos detalhes pra você poder lutar, né. Mas a dificuldade é um pouco mais do começo, porque depois que você começa a ter uma técnica mais avançada, e treinando com os caras que eu treino lá, você começa já a se adaptar no meio, e a coisa começa a andar de uma maneira mais favorável para você.

P: E como é que está hoje no muay thai? Em que estágio você está?

F: Cara, eu posso dizer que eu estou em um estágio um pouco mais avançado, pela graduação [do muay thai]. Mas eu não tenho tanta luta quanto eu gostaria de ter, eu tenho só quatro lutas. Eu consegui as quatro vitórias [alguns dias depois desta entrevista, Fernando lutou pela quinta vez, e conseguiu sua quinta vitória], mas eu gostaria de ter lutado mais vezes, mas alguns empecilhos me fizeram frear um pouco no esporte, mas estamos aí, estamos tentando até hoje.

P: E quais empecilhos?

F: A rotina. A rotina de estudar, estagiar e treinar, realmente é muito complicada e às vezes, quando começa pesar muito a faculdade, eu largo um pouco os treinos, para poder focar mais nos trabalhos. E agora eu estou em época de TCC, também, então eu tenho que deixar um pouco o esporte de lado e focar mais na faculdade.

P: Você pensa em seguir, se tiver uma oportunidade, como lutador mesmo? Quais são seus planos para o futuro em relação ao muay thai?

F: É uma coisa que eu sempre falo. Eu quero continuar lutando, para se algum dia alguma coisa der errado na vida, ficar desempregado, Deus me livre. Mas se acontecer, eu estar em um estágio bom no muay thai, ter bastante luta e poder seguir na carreira. Mas é difícil, não é um sonho que eu tenho, mas é algo que eu gostaria sim de poder vivenciar um pouco, de uma maneira mais profissional. Mas é complicado, porque paga-se muito pouco para o atleta, é difícil, a gente não tem muito reconhecimento a nível nacional, né. Mas é algo que eu planejo, de seguir lutando até onde der, e vamos aí.

P: Por fim, que orientação ou dica você daria para quem está tentando começar no esporte, para quem está querendo praticar uma modalidade esportiva?

F: Cara, a dica é entender que cada um vai crescer de um jeito no esporte, porque muita gente começa o esporte querendo acompanhar alguém que já está mais avançado, se espelhando já em alguém mais avançado. É bom, só que você tem que entender que aquela pessoa também passou por aquilo que você está passando no início. Vão surgir dificuldades, a rotina pode pesar, ainda mais a gente que é amador, que não leva isso profissionalmente, tem que conciliar com outras coisas. Então, chega uma hora em que você vai estar cansado, que você vai querer desistir, mas pô vai até o fim, porque no final vai dar certo e vai ser muito bom para você.

(Por Rafael Oliveira)