ALTA ROTAÇÃO

Max Verstappen, piloto fantástico da F1, não é um bom exemplo para a sociedade

Max Verstappen após o GP da Áustria: soberba a duas voltas do final. (Foto: F1)

 

Arriscar uma vitória histórica, que seria não apenas dele mas de toda a equipe, apenas pela vaidade da melhor volta, foi soberba de Max Verstappen.

Max Verstappen é seguramente o melhor piloto do mundo na atualidade. É rápido em qualquer situação de pista, não negocia ultrapassagens, tem ótima largada, estratégia e velocidade. A bordo do melhor carro de F1 dos últimos anos (Reb Bull RB19), coleciona números impressionantes e já ultrapassou Ayrton Senna no ranking de vitórias (42 contra 41).

Mas, apesar de todo esse brilho esportivo e de todo o talento mostrado a cada Grande Prêmio de Fórmula 1, Max Verstappen não é um bom exemplo para a sociedade e para as crianças. É um campeão mesquinho, que, talvez pela vaidade, deixou que a soberba falasse mais alto no final do Grande Prêmio da Áustria.

A corrida estava ganha – e já seria histórica, pois era sua 42ª contra 41 de outro mito das pistas, Senna. Mas Verstappen queria mais. Com mais de 20 segundos sobre Charles Leclerc, pediu para a equipe para trocar pneus a apenas duas voltas do fim, o que lhe permitiria tirar de seu colega de equipe, Sergio Pérez, um pontinho pela volta mais rápida da corrida.

A equipe não quis, pois não era necessário, mas era arriscado. Max insistiu e a equipe cedeu. Deu tudo certo. Mas foi desnecessário. Colocou todos os mecânicos sob tensão, arriscou 25 pontos por um desnecessário ponto que não fez a menor diferença na contagem do mundial, pois ele está disparado na frente.

Max não quis parar por causa do ponto extra. Quis parar para humilhar os adversários, para não deixar sequer uma migalha de honra para Checo Pérez, que o ajudou muito na conquista de seu primeiro campeonato, mas a quem negou ajuda quando o mexicano disputava o vice-campeonato no GP do Brasil de 2022.

Também naquela ocasião, Max fez questão de conquistar um ponto que não lhe fazia a menor falta, pois já era bicampeão do mundo. Assim é Max. Seus fãs e muitos jornalistas acreditam que é preciso lutar para vencer sempre. Porém é exatamente nisso que Max não é um bom exemplo.

Você gostaria de ter Max Verstappen sendo comandante de seu avião e arriscando passar por áreas perigosas por confiar em seu talento e em sua máquina? Você gostaria de ter Max Verstappen como chefe, fazendo assédio moral para que seus comandados não tenham um minuto de sossego?

Numa sociedade em que é comum as pessoas serem egoístas e gananciosas, Max Verstappen é o exemplo desse modelo de vida que está deixando patrões e empregados cada vez mais estressados, que valoriza as aparências e não os fatos, que incentiva a não divisão de nada. Que acumula e não divide.

O bolo de Max Verstappen é só dele, ninguém tem direito a um pedaço. Pilotos como Juan Manuel Fangio, Jim Clark e Ayrton Senna já estiveram na posição de Verstappen, mas nunca agiram dessa forma tão espantosa.

Felipe Massa, numa ocasião, abriu mão da vitória no GP do Brasil para que seu colega na Ferrari, Kimi Raikkonen, fosse campeão. Sorte de Kimi que seu colega de equipe não era Max. Ayrton Senna uma vez deixou Gerhard Berger ganhar uma corrida que era sua. Verstappen deixaria Berger ganhar?

Uma vez Michael Schumacher ganhou na marra uma corrida que não era dele, era de Rubens Barrichello, na própria Áustria. Mas aquela decisão não foi de Michael e sim da Ferrari. Michael se arrependeu e depois deixou Rubinho ganhar em outra ocasião.

Max Verstappen corre contra ele mesmo. É um piloto fabuloso, quase tricampeão do mundo e, com um carro dominante como poucos na história, tem chance de bater todos os recordes possíveis. Muitos vão vibrar e será mesmo lindo ver o seu talento ser coroado com muitas vitórias. Só não precisa deixar a soberba falar mais alto.