ALTA ROTAÇÃO

Redes sociais, SEO e YouTube tornam jornalismo esportivo mais complexo

A carreira de jornalista esportivo continua sendo o sonho de muitos jovens, mas atuar nesse campo do jornalismo especializado está cada vez mais complexo.

Muitos jovens continuam sendo atraídos pelo jornalismo esportivo. Afinal, o esporte costuma render momentos emocionantes, históricos e marcantes.

Participar da cobertura de uma Copa do Mundo, de uma Olimpíada ou de um Grande Prêmio de Fórmula 1, por exemplo, pode ser tão marcante para o/a jornalista como para o/a atleta.

Nunca foi fácil chegar lá. Mas, nos últimos anos, mesmo para o/a jornalista profissional, manter-se relevante é cada vez mais difícil. Este processo começou em 2004, com a chamada Web 2.0, que tornou a internet mais interativa, e vem se intensificando.

Já não se escreve mais para o leitor em primeiro lugar. É preciso escrever para o algoritmo em primeiro lugar, caso contrário nem se chega ao leitor. Lamentável, mas é assim.

As táticas de SEO do Google já não são segredo para ninguém há mais de uma década, no mínimo. Só que nunca a dependência dos algoritmos foram tão intensas, profundas, desgastantes.

Para além disso, as redes sociais digitais criaram uma exposição exagerada dos “produtores de conteúdo” (jornalistas e todo o resto), formando verdadeiras redes de ódio, e o YouTube igualou verdades factuais e mentiras descaradas como nunca antes.

Jornalistas esportivos que conseguem lugar num grande veículo de mídia têm mais apoio para suas pesquisas, reportagens e análises, mas nem isso os protege nas redes sociais digitais. E pior: ficar fora de mídias como Twitter X, Instagram e TikTok não é uma opção para jornalistas.

Pode-se reconsiderar um Facebook ou um Linkedin, por exemplo, devido às características dessas redes, mas Twitter X, TikTok e Instagram são muito importantes para “espalhar” as matérias e demais conteúdos.

A competição hoje não ocorre somente com a mídia jornalística concorrente, como no século 20. O próprio público do/da jornalista já é um concorrente de peso.

Há leitores, seguidores ou fãs que simplesmente sabem tudo sobre um determinado esporte ou atleta. Dependendo do que falar ou escrever, qualquer jornalista pode se queimar em 5 minutos.

E mais: a velha e boa opinião do/da especialista não é mais bem-vinda. Opinião todo mundo tem a sua e tem como “espalhá-la” (Jenkins em “Cultura da Convergência”). O público quer informação que ele não leu nem viu em nenhum lugar. E pior: mesmo fatos facilmente comprováveis podem ser a fonte de uma avalanche de críticas, cancelamentos ou perseguições.

O pior de tudo, para quem exerce o jornalismo esportivo (ou qualquer outro) é que os algoritmos preferem o escândalo, o bizarro, o inacreditável, o sobrenatural, o sensacionalismo. A mentira, muitas vezes. E o jornalismo profissional muitas vezes não tem nada disso.

Tanto pior para quem depende da própria audiência para construir sua renda mensal. Se bem que, na prática, mesmo quem tem um capitalista bancando o jornalismo nosso de cada dia acabará, cedo ou tarde, sendo cobrado pela audiência.

Claro que as redes sociais digitais, o SEO do Google e o YouTube também oferecem vantagens (inclusive financeiras) para quem consegue dominar o sistema e “bombar”. Mas isso é tema para outro texto.

Fato é que até a forma de escrever, de falar, de se comunicar e de se posicionar passou por muitas e dolorosas mudanças. Por isso, é mais difícil ser jornalista esportivo hoje do que era há 20, 30, 40 ou 50 anos.

* Sérgio Quintanilha é jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP