Crônicas

A Nossa Copa do Mundo

 

Eram 3 horas da manhã e meu pai me acorda. Acordei mal humorado mesmo sabendo qual era o evento que prestigiaria no dia. Iria assistir o primeiro jogo de copa do mundo da minha vida, justamente o da seleção pela qual passei a torcer, graças a minha família: a Colômbia. Era o dia da tão aguardada estreia contra a Grécia em Belo Horizonte, partida válida pela fase de grupos da Copa do Mundo – copa da qual participávamos pela primeira vez desde 1998. Fomos seis passageiros em um só carro de cinco lugares. Partimos para uma viagem longa, dura e interminável na escuridão da sinuosa Fernão Dias. Curva pra lá, curva pra cá, balança pra lá, balança pra cá e nada da noite e o inferno da viagem acabarem.

Finalmente, o sol começa a nascer no horizonte, o que coincide com a nossa chegada à capital mineira. Aproximamos-nos do Mineirão e já começa o congestionamento. Kombis, ônibus, motos e até taxis se juntaram em um incessante buzinaço, indicando a expectativa pela iminente partida. Chegamos a um bloqueio na rua que nos impossibilitou de seguir viagem a carro. Estacionamos em um supermercado e iniciamos a caminhada com destino ao estádio. Passamos a pé pelo bloqueio e prosseguimos. À medida que mais nos acercávamos do Mineirão, mais ocupada ficava a rua e mais difícil ficava a caminhada. Continuamos até não poder mais. Paramos. O congestionamento dessa vez não era de veículos. Mas sim de pessoas. Pessoas estas que começavam a gritar, assobiar, vibrar e pular. Enfim, avistamos o coliseu lá no alto da rua. E de onde estávamos até o estádio vi um mar de gente. Gente que não era daqui, mas que tinha virado dona deste pedaço. Foi aí que caiu a ficha. Era a copa do mundo.

Quando chegamos ao estádio, tivemos de nos separar. Cada um para uma entrada diferente, pois não conseguimos comprar ingressos em assentos adjuntos. No final das escadas que levavam à arquibancada, vejo o campo e o mar de amarelo em volta dele, aguardando ansiosamente o momento histórico que iria acontecer no tapete verde. Os alto falantes começam a tocar musica. Entram as equipes e os juízes no gramado. Começam a tocar o hino. O estádio inteiro cantava. A música do hino parou, mas ninguém ali parou de cantar; cantaram mais forte até. O estádio pulsava e eu sentia arrepios.

A hora havia chegado. Apita o juiz, começa o jogo. A seleção partiu para cima. Quando a alegria e a euforia começavam a se transformar em resquícios de nervosismo e apreensão, por motivo de uma equipe grega bem postada em campo e disposta a sair rapidamente para o contrataque, vejo lá longe no outro lado do campo uma bela jogada pela direita. Cruzamento, corta-luz e chute mascado que desvia no zagueiro, mas que morre lentamente no canto do gol. O estádio explodiu. Na hora do gol, todos ao meu redor viraram família. Abracei e fui abraçado por quem nunca tinha visto. Soltamos um grito que estava entalado na garganta havia muitos anos. O momento de esplendor se repetiu mais duas vezes.

Fim de jogo. Vitória acachapante de 3 a 0 da Colômbia e uma indicação da Copa do Mundo que viria a ser histórica para o país. Encontrei minha família. Todos estavam com um sorriso no rosto e a certeza de que havíamos acabado de testemunhar um dos eventos mais belos das nossas vidas.

(por Jaime Garcia)

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