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A Essência do Esporte Universitário: Trajetória, Desafios e Superação de Laura Aguiar

O esporte universitário se destaca como uma das experiências mais marcantes na vida acadêmica dos jovens. Surpreendentemente, diversos atletas universitários encontram nessa vivência a paixão por uma modalidade esportiva, tornando-se uma das principais motivações para concluir seus cursos.

No centro desta narrativa está Laura Aguiar, uma estudante de 22 anos, cursando engenharia ambiental na prestigiada Escola Politécnica da USP. Integrante do time de basquete feminino da POLI, Laura expressa de forma incisiva a relevância do esporte universitário em sua vida:

“No final, é um trabalho árduo durante um ano para conquistar uma recompensa, que é vencer um Inter (InterUSP). Para mim, tornou-se uma meta pessoal!”

Na Escola Politécnica, o êxito na InterUSP, competição entre faculdades da USP, é a prioridade máxima. A competitividade histórica entre os alunos de engenharia e medicina em Pinheiros alimenta o sentimento de revanchismo na escola.

Em uma entrevista reveladora, Laura compartilhou sua trajetória esportiva desde a infância, participando de aulas no Anhembi Tênis Clube e em seu colégio. Mesmo treinando em certos momentos com o time masculino de futebol devido à falta de participantes femininas, sua paixão pelo esporte se consolidou.

Por mais que atualmente ela faça parte do time de basquete, esse nem sempre foi seu único foco. Em seu primeiro ano na universidade, em 2021, durante a pandemia de COVID-19, Laura participava dos treinos de dois times, futebol de salão e basquete.

“Como eu entrei no EAD, a atlética realizou um evento para conhecer as modalidades em que a gente entrava em call com os times para se conhecer […]. Com isso, eu conheci as meninas do futsal que me contaram sobre como é importante estar em um time com amigas mulheres, até mesmo para conseguir sobreviver à Poli. Nesse momento, me chamou mais atenção pelo futsal pelas pessoas e o basquete pelo esporte em si.”

Laura revelou, ao longo da entrevista, o nível de competitividade na faculdade em relação à InterUSP. A surpresa com a seriedade dos campeonatos durante o ensino a distância (EAD) foi evidente.

“Nossa eu não entendia nada, eu achava que seria igual ao colégio em que ia uma mãe para torcer […], mas quando começaram os campeonatos eu entendi a seriedade do time.”

Em 2022, com o início das competições e treinos presenciais, Laura, já apaixonada pelo esporte, assumiu a presidência da Atlética Politécnica, muito por conta de seu encanto pelo esporte universitário. Embora as demandas crescessem, ela mostrou sua determinação em contribuir para o time.

Entretanto, Laura enfrentou desafios no time de futsal, onde também atuava como diretora de modalidade. Problemas com a comissão técnica e o relacionamento conturbado com o treinador levaram-na a deixar a modalidade e focar exclusivamente no basquete com o fim de seu vínculo de Diretora de Modalidade, cargo designado para um dos atletas do time responsável por organizar a parte logística dos jogos e treinos.

A transição foi simples, Laura logo se integrou ao time de basquete, recebendo mais tempo de quadra e contribuindo para as conquistas do primeiro semestre, incluindo o título na Copa USP.

Chega então o momento mais aguardado, a Inter USP de 2023. A trajetória do time contou com um início promissor. Uma vitória avassaladora contra a FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), onde não só ela como várias calouras entraram durante o jogo. Todavia, nem tudo estava bem para Laura. Como ela também era presidente da atlética, cada jogo não era apenas mais um jogo, era uma parte de um todo que estava se passando em sua cabeça.

“Eu não conseguia focar por estar preocupada com outras mil coisas. Era ganhar o quadro geral, com os jogos acontecendo, por exemplo, preocupada se as lutas do jiu-jitsu estavam acontecendo no ginásio correto. Eu estava com média de 6 a 8 pontos por jogo no NDU, mas não consegui pontuar em nenhuma partida.”

Por mais que houvesse todos esses problemas se passando na cabeça de Laura, o time ainda conseguiu vencer a faculdade de Direito, San Francisco na semifinal, chegando à final contra a Medicina.

Antes dessa final, algo ainda inusitado aconteceu. Duas das principais veteranas da equipe se envolveram em um atrito por conta de fatores externos, que não foram informados à matéria, porém que determinaram o andamento no time na competição. O clima no vestiário não era bom, a pressão de ganhar contra a Medicina era altíssima e ainda por cima não foi possível que a torcida da Poli comparecesse para torcer nesse jogo. Situação contrária às suas adversárias que levaram toda a torcida já que naquele jogo já seria possível que eles fossem campeões do quadro geral.

Foi um jogo terrível, as atletas não conseguiram performar, Laura estava muito preocupada e cansada por conta de suas responsabilidades como atlética. A torcida rival estava muito próxima do banco e xingava as jogadoras de todas as formas possíveis. O resultado foi o esperado. Mais uma derrota para a Medicina.

As semanas seguintes foram sufocantes. A falta de motivação para ir nos treinos fez com que ela faltasse em uma partida. Porém isso não podia acontecer duas vezes consecutivas, culminando em sua presença no jogo seguinte. Laura então fez sua primeira cesta pós Inter USP, onde as coisas começaram a se encaminhar para o rumo correto. Durante as férias foi possível que ela trabalhasse isso e se permitisse voltar a jogar com mais frequência na tentativa de realmente poder retornar com excelência ao time.

Vem então o Pauli-Poli. Um campeonato realizado entre a Poli e a Medicina Paulista da Unifesp de um jogo apenas. Neste jogo nossa personagem principal performou muito bem. O grupo estava sem algumas jogadoras importantes, permitindo com que o resto do elenco tivesse um papel fundamental na construção do resultado. Laura não estava sentindo mais peso. Tudo correu bem. O resultado não foi como o esperado, a Paulista ganhou por um ponto de diferença, mas era notável o retorno do prazer em Laura.

Passada uma semana desse fatítico jogo, começa o NDU, o campeonato semestral mais longo, que tem jogos durante todo o semestre. Tudo estava pronto para ser um segundo semestre totalmente diferente do que já havia acontecido. A partida começa de forma meio confusa. Laura tenta alcançar uma bola e no meio da passada cai no chão com muitas dores. Ruptura do ligamento do joelho. Todo o planejamento caiu por terra. Agora seriam necessários 9 meses de recuperação após uma cirurgia. Laura está fora da próxima InterUSP em 2024.

Parece ironia que a matéria tenha sido escrita  em um momento de desesperança da atleta. Ela porém, permanece resiliente, com planos para futuros campeonatos, mantendo a InterUSP como seu objetivo supremo. Em meio à recuperação, Laura mostra que, nos momentos difíceis, se forja o futuro de um verdadeiro atleta.

 

* Vitor Valadares Lino Pereira é aluno da disciplina Jornalismo Esportivo: a pauta além do futebol

Foto/Fonte: Atlética Poli-USP