Além das Pistas: Conheça a jornada de Vitão no atletismo e na formação dos campeões da USP
* Julia Trindade Peres
Vitor Cândido Ferreira de Faria, popularmente conhecido como Vitão, é treinador de atletismo da FEA-USP há 11 anos. Apesar de iniciar seus trabalhos como técnico na Universidade de São Paulo em 2013, sua história com a modalidade e o Centro de Práticas Esportivas (CEPE-USP), começou muito antes.
Natural de São Paulo, Vitor não seguia a trilha comum das crianças que sonhavam em ser jogadores de futebol, pois, quando jovem, era integrante de um grupo infantil de pagode. Mas foi aos 13 anos que sua jornada no atletismo teve início, impulsionada pelo convite de Carlos Alberto Gamboa, treinador e ex-atleta, pai de um amigo próximo. E foi em uma praça pública, entre atividades lúdicas e um comprometimento crescente, que Vitão começou a moldar seu destino como atleta.
Incentivado pelo entusiasmo de Carlos Alberto, Vitão ingressou no mundo do atletismo no Centro Olímpico. Em 1993, aos 13 anos, tornou-se federado e iniciou seus treinos formais, concentrando-se inicialmente em provas de fundo pela Associação de Funcionários da CETESB. Sem limitações de categoria etária específicas, Vitão competia no Pentatlo, explorando diversas modalidades para aprimorar suas habilidades. Em 1995, ele almejou voos mais altos ao integrar o Projeto Olímpico (USP/Xerox), um programa dedicado a atletas com aspirações de alto desempenho, liderado por renomados profissionais do atletismo brasileiro, marcando assim um ponto crucial em sua jornada.
Foi apenas na terceira vez que Vitão conseguiu ser selecionado para o Projeto. Com uma estrutura de fisioterapeutas, treinadores, psicólogos e materiais, o atleta começou a competir pela equipe e tomar corpo como profissional. Contudo, por falta de apoio, o Projeto Olímpico foi encerrado, restando apenas uma parceria de treinamento com a Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP) com um pequeno grupo de saltadores, na qual Vitão foi incluído e pôde com seus treinamentos.
Dentro de seus treinamentos, o atleta se descobriu enquanto saltador e se especializou na modalidade do salto triplo. E foi durante esse processo que conheceu o seu grande mentor: Messias José Baptista, que chegou a ser o número 2 no ranking brasileiro de atletismo no salto triplo em 2000 e 2001, pelo Esporte Clube Osasco. Com ele, Vitão cresceu exponencialmente no esporte: disputou campeonatos como os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), Troféu Adhemar Ferreira da Silva, Torneio Universitário de Atletismo (TUNA), Troféu Brasil, Campeonato Paulista, entre outros. Sempre figurando como destaque, o rapaz atingiu métricas históricas, como o recorde do salto triplo no TUNA em 2001, que manteve por 9 anos, índice olímpico no Troféu Brasil e top 20 melhores atletas brasileiros da sua modalidade; sendo parte de grandes equipes, como o Osasco e Suzano, de São Paulo, e Mangueira, do Rio de Janeiro. Confira algumas de suas marcas:
Campeonato | Classificação | Marca |
TUNA 2001 – 4a fase | 1º lugar | 14.85m (RECORDE) |
Ranking Brasileiro de Atletismo 2001 – Salto triplo | 18º lugar | 14.27m |
Tuna 2002 – 3a fase | 1º lugar | 14.30m |
Além disso, Vitor Cândido Ferreira foi selecionado em 1999 para cursar o bacharelado em Educação Física na Universidade Presbiteriana Mackenzie, atuando como aluno-atleta. Enquanto estudava e competia, o atleta sofreu um dos períodos mais difíceis e decisivos da sua vida: a perda do seu técnico e amigo, Messias, para a leucemia. Neste período, Vitão, que estava em vistas de finalizar seu trabalho de conclusão de curso, estendeu os estudos e pausou sua vida acadêmica para pensar e, após uma conversa com Jadel Gregório, seguir treinando. Com o tempo, concluiu sua graduação e decidiu seguir os passos e continuar o legado de seu maior exemplo, iniciando, assim, sua carreira como técnico de atletismo, tendo atuado em diferentes locais, como o Projeto Esporte Talento na USP e também no Instituto Ayrton Senna, até chegar na FEA-USP.
Quando perguntado sobre os melhores momentos que o esporte lhe proporcionou, Vitão foi categórico: bater um recorde, ser reconhecido e contratado pela Mangueira como atleta, ganhar 2 anos seguidos o InterUSP pela FEA-USP, e ir às Olimpíadas do Rio em 2016. No que diz respeito às competições olímpicas no Rio de Janeiro, o técnico contou com emoção sobre a oportunidade de poder ver de perto grandes ídolos, como o Christian Taylor, medalha de ouro no salto triplo naquele ano, e grandes amigos e ícones do atletismo brasileiro.
Sobre seu trabalho na USP e suas conquistas em campeonatos universitários por equipe, Vitor adiciona: “entrei na FEA como treinador maluco, que vinha com treinos doidos e no final deu muito certo”. Quando fala sobre o que mais gosta em sua profissão, o técnico afirma que os desafios são suas maiores motivações. Para ele, todos os anos são novos ciclos, com alunos que estão chegando às pistas por curiosidade e que serão moldados ao longo do tempo para a performance no esporte universitário. O segredo do sucesso? humanidade. Com fama de “paizão”, o treinador pontua que sua filosofia de treino reside no tratamento de seus atletas enquanto pessoas “Eles não são máquinas, são estudantes… eles têm que ser tratados de forma humana”.
Com orgulho, Vitor se recorda da construção da equipe FEA-USP de atletismo enquanto referência, em 2014. Ganhando o InterUSP por dois anos seguidos, o resultado de seu trabalho se mantém forte e evidente, com o instituto se mantendo como importante competidor na modalidade até hoje.
Sobre seu legado, Vitão deseja ser recordado como um agente transformador no cenário do esporte universitário, almejando ser reconhecido não apenas como um treinador, mas como um professor exemplar tanto na FEA quanto na Seleção USP. Sua audácia em buscar mudanças e seu papel vital nessa evolução solidifica sua posição como um catalisador de transformações no universo esportivo universitário. Este é um testemunho que já se tornou realidade, não apenas para esta repórter, mas para todos aqueles cujas vidas foram tocadas pela influência positiva e inovadora de Vitão.
Olhando para o futuro, em 2024, o treinador tem como meta continuar sua missão de selecionar e impulsionar atletas em direção à federação, incentivando-os a participar de campeonatos profissionais. Seu comprometimento vai além de conquistar títulos: ele busca transmitir seus gostos, motivações e conhecimentos a seus alunos, criando uma rede de apaixonados pelo esporte que se desenvolvem constantemente por meio dos treinos. O legado de Vitão é, sem dúvida, uma narrativa de mudança, um professor que ousou ir além, sendo um impulsionador significativo de transformações que reverberam no universo esportivo universitário e vão além das pistas.
LEGENDA DA FOTO DA CAPA: O técnico parabeniza sua atleta em competição universitária.
FOTOS: Instagram Vitão
* Julia Trindade Peres é aluna da disciplina Jornalismo Esportivo: a pauta além do futebol na ECA-USP