Wilsinho Fittipaldi, o homem que colocou um carro brasileiro na Fórmula 1
Wilson Fittipaldi Júnior teve vários nomes na vida. Wilsinho, por ser filho de Wilson Fititpaldi, o Barão, entusiasta do esporte a motor e narrador das corridas de Fórmula 1 nos anos 1970. Tigrão, seu apelido da vida. Também foi chamado de irmão do Emerson e pai do Christian, muitas vezes.
Mas o nome mais lhe cai bem é “pai do Copersucar F1”. Se o pai projetista foi Ricardo Divila, o pai do projeto foi Wilsinho Fittipaldi, que morreu nesta sexta-feira, 23 de fevereiro, depois de dar 80 voltas em torno do Sol na corrida da vida. Wilsinho nasceu no dia 25 de dezembro de 1943. Teve a vida ligada ao automobilismo, mas não só como piloto. Foi um ousado construtor.
Ele participou ativamente ou liderou projetos como o do Mini Kart (chassi mais vencedor do kartismo nacional), o famoso Fitti-Porsche e, principalmente, o Copersucar-Fittipaldi, um ousado carro de Fórmula 1 projetado pelo engenheiro brasileiro Ricardo Divila e fabricado em São Paulo, ao lado do autódromo de Interlagos.
Foi a maior ousadia de Wilsinho, que foi responsável por muitas vitórias de seu irmão, Emerson Fittipaldi. Se Emerson tinha mais talento na pista, Wilsinho tinha mais talento nos boxes. Mas não era um mal piloto; pelo contrário.
Em 1973, correndo pela Brabham, chegou em 5º lugar no GP da Alemanha, à frente de seu irmão Emerson Fittipaldi (já campeão pela Lotus), no dificílimo circuito de Nürburgring. Só que Wilson tinha um sonho maior – para ele e para o Brasil.
Por isso, passou o ano de 1974 trabalhando no projeto do Copersucar-Fittialdi, o carro brasileiro da Fórmula 1, que foi apresentado com pompa em Brasília ao general-presidente Ernesto Geisel e estreou no GP da Argentina de 1975.
“Se já é difícil correr num caro inbglês, imagina num carro brasileiro”, desdenhou Carlos Reutemann, que foi companheiro de Wilsinho na Brabham em 1972 e 1973. O argentino tinha razão. Mas Wilsinho não desistiu. Ele e Emerson chegaram à conclusão que seria melhor para a equipe se Wilson ficasse como chefe de equipe e o bicampeão ficasse na pista.
Assim foi feito, a partir do GP do Brasil de 1976. A equipe brasileira então começou a marcar pontos. “Mas a mídia não especializada não tinha paciência para esperar os resultados”, disse Wilsinho várias vezes, sem conter a voz embargada e algumas lágrimas. Acostumada às vitórias de Emerson com a Lotus e a McLaren, a televisão e a população em geral transformaram o Copersucar em piada.
Mesmo assim, o sonho de Wilsinho, que também se transformou no sonho de Emerson, quase se realizou no GP do Brasil de 1978, com um épico segundo lugar. A Copersucar-Fittipaldi poderia, sim, ser competitiva na Fórmula 1. O Brasil poderia, sim, ter não só pilotos mas também carros na Fórmula 1.
Para dar uma ideia, em 1977, o carro sonhado por Wilsinho chegou à frente da hoje poderosa Penske. Em 1978, o Copersucar-Fittipaldi fez mais pontos do que as gloriosas McLaren, Williams e Renault. Mas foi o ano em que a Lotus inventou o carro-asa e ninguém poderia vencê-los.
Havia dinheiro naquela época, pois a Copersucar acreditava no projeto do carro brasileiro. Tanto que Wilsinho contratou ninguém menos que Ralph Belamy, engenheiro inglês que participou do projeto vencedor da Lotus. “Queremos uma Lotus amarela”, disse Wilsinho. Bastava copiar.
Mas, não. Belamy resolveu ser mais realista do que o rei e apresentou uma revolução no Copersucar F6, que teve seu design inspirado no avião supersônico Concorde. O carro destruiu a equipe, pois simplesmente não fazia curvas. “O Concorde tem o oceano inteiro para fazer uma curva”, lamentou Emerson.
O ano de 1979, que seria o do primeiro título brasileiro, o das vitórias, acabou sendo o ano das piores piadas. A Copersucar desistiu do patrocínio. Mesmo assim, um depois, em 1980, a equipe de Wilsinho e Emerson terminou o Mundial de Fórmula 1 à frente das gigantes McLaren, Ferrari e Alfa Romeo.
Wilsinho morreu magoado, aos 80 anos. Não deveria, pois ele foi um grande brasileiro, que enxergou além. Infelizmente, era o homem certo no país errado. O Brasil tinha pressa por resultados; e na Fórmula 1 nem gigantes como a Toyota e a Peugeot conseguiram se dar bem.
Wilson Fittipaldi Júnior, o filho do Barão, o Tigrão, fez muito pelo automobilismo brasileiro. Sai da corrida da vida após 80 voltas em torno do Sol. Ele tinha seu brilho particular, embora nem todos conseguissem enxergar. Seu currículo ficou para a história. Que descanse em paz.
* Sérgio Quintanilha é jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.