Apostas Esportivas: o desafio entre o patrocínio do esporte e a economia
Gastos com apostas crescem e afetam orçamento das famílias. Primeiros estudos apontam pontos críticos.
Desde o século VIII a.C., quando os gregos desenvolveram a competição atlética como uma forma de honrar os deuses, até os dias de hoje, quando atletas e atividades esportivas atraem milhões de espectadores ao redor do mundo, os esportes de competição sempre receberam investimentos para a obtenção do melhor resultado.
A história foi alterando a figura do investidor. Países, mecenas, associações esportivas, patronos exerceram esse papel, mas a forma como o identificamos agora é o patrocinador.
Não importa quem, nem a qual tempo, a receita é simples: o patrocinador (geralmente uma empresa) coloca dinheiro, o clube ou atleta obtém os resultados e o patrocinador tem a sua imagem valorizada junto a um público alvo ou mercado específico. Um ciclo perfeito, ou quase, pois a entrada dos sites de apostas nesse processo acabou revelando um fio solto da trama: de onde vem o dinheiro do patrocinador?
Em um momento que marcas tradicionais estavam saindo do mercado, as BETs (apostar em inglês) pareciam ser a tábua de salvação para o negócio. Injetaram muito dinheiro, patrocinando confederações, torneios, clubes, jogadores e todas atividades ligadas a transmissão e promoção dos eventos. Talvez seja pedir demais que os patrocinados se preocupem com os aspectos que poderiam afetar a economia, mas, aqui no Brasil, algumas entidades ligadas ao consumo começam a pesquisar e os números são impressionantes.
A Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo publicou em junho desse ano o estudo “O efeito das apostas esportivas no varejo brasileiro”, baseado nos aspectos relacionados aos hábitos de compra de consumidores no primeiro semestre de 2024. O relatório aponta que 38% das pessoas que responderam à pesquisa já fizeram apostas online e desses 64% reconhecem que utilizam parte da renda principal para tentar a sorte, 63% afirmam que tiveram parte da sua renda comprometida com as apostas. Entre muitos aspectos destacam-se os fatos de que deixaram de comprar roupas (23%), de fazer compras em supermercado (19%), de comprar produtos de higiene e beleza (14%) e manter cuidados com saúde e medicações (11%).
O Itaú, no seu boletim Macro Visão, do último 13 de agosto, estima que foram gastos R$ 68,2 bilhões em apostas no Brasil entre julho/2023 e junho/2024, sendo recebidos R$ 44,3 bilhões. O saldo do processo foi de R$ 23,9 bilhões no período, equivalente a 0,2% do PIB brasileiro, 0,3% do consumo total e 1,9% da massa salarial.
Com certeza os valores apresentados demonstram a necessidade de ações que protejam a economia sem maiores prejuízos para o esporte. Parece um trabalho difícil, mas que deve ser feito com urgência.
Também não sabemos quem vencerá o desafio citado no título do artigo, mas está claro que, por enquanto, a economia está perdendo de goleada.
* Augusto Cesar Lovatto é aluno do Programa 60+ da Universidade de São Paulo