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LOUCO POR TI CORINTHIANS

Entre a vida e a torcida. Corintiano fanático conta o que pensa, e sente, sobre ser torcedor.

 

por Guilherme Torres Corrêa

O Corinthians é praticamente um estilo de vida. Quem sustenta essa afirmação não é este que vos escreve, mas Rodrigo Alves, 31 anos, auxiliar administrativo, morador do bairro do Grajaú, periferia de São Paulo, mas antes de tudo: um corintiano. Filho da “DôMaria” e do santista Zé, amante de samba e cervejeiro de primeira, Rodrigo da Cuíca, como é conhecido entre os mais chegados, foi o nosso entrevistado da vez.

Sua sensibilidade e empatia com o cidadão comum e trabalhador da selva de concreto paulistana, além de seu bom humor e facilidade para contar histórias, fazem de Rodrigo um cronista do cotidiano popular, muito embora não se considere como tal. Quem o conhece de perto ou o acompanha nas redes sociais, sabe muito bem da garantia de boas risadas quando Cuíca desenvolve suas “contações”. E foi neste clima que se deu nossa conversa,  um papo descontraído com o intuito de compreender um pouco da alma de um torcedor fanático. Ou seria um “clubista”?

Guilherme: O que o Corinthians representa para você?

Rodrigo: O Corinthians é praticamente um estilo de vida, não é apenas futebol, é uma maneira de socialização, uma identidade, é uma forma de ter orgulho a um pertencimento de classe… a classe do povo.

cuicaGuilherme: E você vivencia o Corinthians todos os dias? Busca ver todos os jogos?

Rodrigo: Não é apenas em dias de jogos que acompanho o Corinthians, todos os dias vejo notícias do clube, seja dando uma olhada na internet, na hora do almoço vendo o programa do Neto, na hora que chego em casa para me atualizar com os programas esportivos noturnos, enfim, há sempre os minutos diários para acompanhar o clube, tanto da questão administrativa quanto da parte tática.  E das outras modalidades também, por exemplo, o futsal, o futebol feminino e o carnaval. Envolveu Corinthians, “tamo junto!”.

 

E como você se tornou corintiano?

Isso veio num período em que o Corinthians passava por um momento complicado e eu via seus adversários diretos montarem verdadeiros esquadrões, época do São Paulo com Telê Santana e do Palmeiras com a Parmalat; mas seguindo a história corintiana sob o gancho da fila dos 23 anos sem ganhar um título, é aí que a torcida cresce! E comigo não foi diferente, era muito mais fácil ser são-paulino ou palmeirense naquela época, mas não, eu já estava junto com o Timão naquele período de derrota mesmo.

 

E uma vez que você acompanha o Corinthians sempre que pode, quais diferenças percebe entre torcer em casa, no bar e no estádio?

No estádio você joga junto com o clube, participa do jogo, é um verdadeiro 12º jogador. Pela TV a dinâmica é outra, parece até jogo de videogame, e ainda tem a influência chata de narradores e comentaristas. Quanto ao bar, a vantagem em relação ao estádio é que você pode tomar cerveja com álcool, mas tem o lado negativo de encontrar torcedores secadores.

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Você acredita que há um processo de elitização do futebol em curso?

Sim, a elitização vem ocorrendo, a oferta de ingressos a preços populares vem diminuindo consideravelmente, de modo que isso vai afastando aquele torcedor clássico corintiano, o apaixonado mesmo, o do povo. Fora as outras medidas que impedem a torcida de fazer festa com bandeiras, alguns tipos de sinalizadores etc.

Qual a relação das arenas com isso? Qual a diferença entre assistir a um jogo na Arena Corinthians e no Pacaembu?

A diferença é que na Arena há uma ocupação maior de torcedor consumidor,  é aquele que vai atrás de espetáculo: “paguei, eu quero algo bom, se não eu vaio”. Muito diferente do torcedor do Pacaembu, que era mais vibrante e jogava de maneira incondicional com o clube, além da própria socialização mais intensa que acontecia entre os torcedores, tanto dentro como fora do estádio, nas barracas, com os ambulantes.

Poderia relatar uma experiência inesquecível relacionada ao Corinthians?

Uma experiência inesquecível foi em 2005, última rodada do Brasileirão, partida em Goiânia contra o Goiás. Eu, nos meus 20 anos, havia acabado de conseguir um emprego como mensageiro de uma companhia de aviação, e por conta disso eu tinha o benefício de poder viajar para qualquer lugar do Brasil a preços bem em conta, quase de graça. Então não pensei duas vezes: emiti logo a passagem, consegui comprar um ingresso e rumei para Goiânia com a cara e a coragem!

Apresentação1Primeira vez viajando de avião, até então era somente “busão”. O mundo dá voltas, agora indo ver jogo do Timão de avião! No estádio, final do jogo, eu começo a pensar “como vou retornar ao aeroporto?”. O estádio “Serra Dourada” fica no meio do nada, e aquela multidão toda na saída, acho que nem táxi rolava porque a grana era curta. Então comecei a perguntar para um pessoal da arquibancada como chegar ao aeroporto, me indicaram mototáxi. Pensei, “beleza!”, mas aí um outro corintiano ao ouvir minha pergunta me ofereceu carona até lá. Fechou! Mesmo com a carona eu perdi o voo e só pude voltar no dia seguinte! Mas há males que vêm para o bem: nisso encontrei a delegação do Corinthians chegando ao aeroporto. Climão de festa total!

Bem, para finalizar essa conversa fanática, o que você entende por “clubista”?

14Po9Zzw18BIOka1Xl9smv18HRSO clubista é aquele torcedor que não consegue enxergar além do seu time, tudo gira em torno do clube de coração dele. Eu acho bacana a figura do clubista, é um torcedor autêntico, original, faz parte do folclore do futebol brasileiro. Estilo um Mazzaropi no filme “O Corintiano”, melhor filme nacional de todos os tempos, sem clubismo…

E você se considera clubista?

Eu posso me considerar clubista sim, análise certinha de futebol fica para os comentaristas, os profissionais da crítica.  Eu sou torcedor e já era. Vai Corinthians!

Imagens*:

Rodrigo Alves – Rodrigo Alves

Pacaembu – Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Torcedor: Marcos Ribolli/ Globoesporte.com

Cena do filme “O Corintiano” – Diretor: Milton Amaral

*As imagens foram utilizadas somente para fins didáticos.