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DO INTERIOR DE SP PARA A EUROPA – A TRAJETÓRIA DE WELIGTON

O sonho de criança se torna realidade numa terra distante. O zagueiro conta como é jogar em outro país e o que espera para o futuro.

por César Elidio Marangoni Junior e Tamires Santana Pereira Silva.

O futebol, a cada ano que passa, vai se tornando mais profissional e exigente. Disciplina, dedicação, compromisso e responsabilidade são requisitos básicos para se destacar no mundo futebolístico. O grande contingente de dinheiro movimentado nessa área pode fazer com que o futebol perca um pouco da sua ligação com a paixão. Não é isso que ocorreu com o zagueiro Weligton Robson Pena de Oliveira, 37 anos, natural de Fernandópolis, no interior de São Paulo. Desde sua infância, quando ainda jogava como goleiro, o sonho de se tornar um jogador profissional bem sucedido parecia quase impossível, mas nunca deixou de existir.

Aos 37 anos, após jogar em clubes como Olímpia (1997), Campinas (1998 a 2000), Jalesense (2000), Barretos (2001 e 2002), Paraná Clube (2003), Penafiel de Portugal (2003 a 2005), Grasshopper da Suíça (2006) e Málaga da Espanha (desde 2007 até a atualidade), o zagueiro ensaia uma possível troca de posição no campo: a vontade, agora, é de se tornar técnico. Sempre em busca de evoluir, o camisa 3 da equipe do Málaga CF conta que sua visão de jogo atual é bem mais apurada que antigamente e que a vontade de jogar novamente no Brasil é grande, mas agora não depende somente dele, visto que a família tem um grande peso nas suas decisões futuras.

 

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(Foto: @Goles.Malaguista)

Você já jogou em clubes como Paraná e Campinas no Brasil. Como aconteceu a proposta de jogar em times de futebol do exterior?

Weligton: Como você disse, eu comecei em times bastante inferiores no interior do estado de São Paulo e, com muita luta e sacrifício, fui conseguindo superar as dificuldades e ir crescendo ano após ano até receber um convite para defender o Paraná clube. Lá, eu joguei apenas dez partidas pelo campeonato brasileiro e, como consequência disso, tive a proposta de sair do Brasil.

Qual foi a sua reação ao deixar seu país de origem e se aventurar em um novo país e em uma nova cultura?

Weligton: Eu fui com a cara e com a coragem para o exterior, porque uma coisa é você sair do seu país para ir a um clube conhecido e outra coisa é você ir para um clube sem muita tradição e relevância internacional, e não saber o que iria encontrar. Mas eu sempre gostei de desafios e sabia que era uma porta de entrada para o mercado europeu. Sofri nos primeiros anos com falsas promessas e com o clima, mas, graças a Deus, hoje olho para trás e vejo que tudo isso valeu a pena.

Aos 37 anos de idade, em que você pode dizer que evoluiu em sua carreira?

Weligton: Na verdade, eu evolui em tudo, tudo o que você fez de bom e todas as coisas que você fez de errado servem como aprendizado. Hoje, dentro de campo, leio as jogadas com mais facilidade e mais claramente do que quando tinha meus 23 anos.

Em quais aspectos você pretende evoluir ainda mais?

Weligton: Agora, meu maior objetivo é superar a mim mesmo e seguir demonstrando que estou num bom nível para competir.

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(Foto: acervo pessoal)

Com relação ao processo de adaptação à nova cultura, como foi entrar em contanto com uma língua diferente daquela que você fala? Como foi a comunicação com os jogadores durante todos esses anos?

Weligton: Quando surgiu a proposta para ir jogar em Portugal, não me assustei muito, porque o idioma é o mesmo. Mas, não foi bem assim, tive algumas dificuldades no princípio (risos), porque o significado das coisas é bastante diferente, além do fato de que os portugueses falam bastante rápido e você se perde no meio da conversa. Mas isso em três ou quatro meses você já tira de letra. Na Suíça foi onde tive mais dificuldades com relação ao idioma. Vivia em Zurich, uma parte da Suíça onde os idiomas eram o alemão, o italiano e o inglês. Comecei a me comunicar um pouco em italiano, já que o inglês era pouco utilizado.

Eu li que você enfrentou o Barcelona 11 vezes com a camisa do Málaga, tendo um histórico, até certo ponto, negativo. São oito derrotas, dois empates e uma vitória. Qual é a sensação de fazer parte do elenco que venceu de forma histórica o Barcelona em 2015? Qual é a sensação de jogar contra jogadores reconhecidos no mundo inteiro?

Weligton: O futebol espanhol, para mim, é o melhor campeonato do mundo. Aqui jogam, jogaram e vão jogar os melhores jogadores do planeta e a diferença entre o Barcelona e o Real Madrid e os demais clubes é gigante. Então, ganhar um jogo contra eles é como ganhar na loteria (risos): uma em milhão. E depois de muitas derrotas, tive o privilégio de ganhar do Barcelona no campo deles por um a zero e, naquele ano, o Málaga foi o único time que os venceu. A sensação de poder dividir o palco com os maiores jogadores do mundo é inexplicável, algo que você via pela televisão e de repente você os vê ali ao seu lado é algo muito prazeroso. Quando o árbitro apita o início do jogo, tudo isso passa e você só pensar em dar o melhor de si.

Imagine que hoje você receba uma boa proposta para jogar no Brasil novamente. Após todos esses anos jogando fora, você aceitaria a proposta ou você não tem a intenção de voltar para o Brasil?

Weligton: Sempre tive o sonho de poder defender um clube grande do Brasil, mas esse sonho já não existe mais, porque hoje tenho uma família e isso pesa muito na hora de tomar uma decisão. Aqui elas têm tranquilidade e uma boa qualidade de vida e isso não tem preço.

O que você gostaria de deixar como aprendizado para a nova geração de jogadores?

Weligton: Não sou a melhor pessoa para dar dicas para alguém. Mas acho que, tanto no futebol, como em qualquer outra profissão, você tem que fazer o que você gosta, porque só com muito amor e com muita dedicação você vai poder exercer bem sua profissão e ser feliz naquilo que você faz.

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(Foto: acervo pessoal)