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O DESESTRUTURADO ESPORTE UNIVERSITÁRIO

O DESESTRUTURADO ESPORTE UNIVERSITÁRIO

Longe dos holofotes que iluminam – mesmo que precariamente – o esporte profissional brasileiro, as competições universitárias atraem grande interesse dos estudantes nas faculdades. Jogos da liga, NDU, e mesmo os Inters (campeonatos sediados em cidades do interior) são os momentos onde os atletas se destacam. Mas as condições e nível do esporte praticado não se equiparam aos campeonatos universitários de outros países, como os Estados Unidos, onde os eventos amplamente televisionados e patrocinados são o canteiro de onde surgirão os superatletas do futuro.

Carolina Vacchi, aluna da ECA-USP e atleta de handebol possui grande propriedade para comentar sobre o assunto. Participando de vários campeonatos universitários e de federação, a estudante de Relações Públicas discorre sobre as peculiaridades e adversidades na vida de um atleta universitário.

Gabriel Jardim: Carolina, o que te levou a ser uma jogadora?

Carolina Vacchi: Meu pai quando era jovem sempre jogou handebol, ele sempre contou pra gente como era o esporte, e minha irmã mais velha que também faz faculdade aqui na ECA, quando entrou começou a jogar hand, e aí o esporte universitário eu decidi que quando eu entrasse aqui eu também ia fazer handebol. Só que antes a gente já teve muita história. Eu comecei a jogar handebol com 13 anos logo quando eu fui pra quinta série eu comecei a jogar, e aí eu não parei, comecei da quinta, sexta, sétima, até na verdade entrar no cursinho, aí nos meus dois anos de cursinho eu tive que parar porque não existe vida, e aí quando eu entrei pra faculdade eu já logo comecei. Eu sentia muita falta

Quais as diferenças do time da ECA para os outros times em que você já jogou?

Tá, eu jogava por Jundiaí porque eu sou de lá, e são muitas diferenças, primeiro o nível de dedicação, então claro quando você faz uma faculdade você faz uma faculdade, você faz estágio, você tem que estudar, você tem que tipo, fazer comida.. é como se fosse uma vida adulta e você tá num esporte. E quando eu jogava por Jundiaí, era… eu só, meu, estudava, fazia escola, que era muito de boa, então eu conseguia conciliar, eu treinava todos os dias da semana, isso é uma diferença, então a gente tinha um empenho 100% naquilo sabe? A gente jogava handebol e era aquilo que a gente fazia. Outro ponto também é a questão dos treinos, a dinâmica do treino, então assim, aqui tem pessoas que nunca jogaram então elas estão pegando a bola de handebol pela primeira vez, elas tão aprendendo a das três passos pela primeira vez, às vezes tão aprendendo a correr pela primeira vez, e lá quando você joga num nível, digamos, mais profissional, é assim meu, você já tem que tá focado naquilo, cê já tem que aprender, tem que ter um… Uma dinâmica com o esporte, uma afinidade com o esporte muito maior, porque exige mais. Os jogos são muito mais difíceis, o nível de dedicação, então lá a gente fazia academia, por exemplo, aqui não, aqui é mais de boas, não tem muito fortalecimento então muitas vezes as pessoas começam a jogar se machucam no esporte porque não faz um fortalecimento por exemplo no joelho, que no handebol e muito comum você machucar o joelho.. ahnn a gente não faz. Fora tipo, fora os treinos a gente não faz um fortalecimento específico para isso.

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Carolina Vacchi enumera as dificuldade do esporte universitário

 

Qual a diferença de tudo isso para a seleção da USP?

Então, a seleção da USP tá sendo muito bom porque eu sempre tive dificuldade isso e uma coisa particular, de conseguir entender a diferença de jogo universitário para jogo federado que eu jogava na federação, eu queria que o jogo universitário fosse igual ao jogo federado e não é. E aí quando eu comecei a treinar com a seleção era uma pegada muito parecida com o federado então assim, dinâmica de treino era muito mais rápido, a marcação era muito mais forte, exigia muito mais condicionamento, muito mais força, muito mais tática, consciência corporal do que por exemplo jogando pela eca nem tanto, não exige tanto isso de mim. E assim, os treinos da seleção são treinos pegados acontece uma vez por semana, a gente não tem jogo, a gente só treina, legal, uma vez por semana a gente vai lá e treina e pronto. É um pouco difícil, mas pra mim foi bom porque começou a me dar essa dinâmica maior de necessidade de pensar mesmo o handebol.

Qual sua visão sobre o esporte universitário? Você acredita que há futuro para atletas universitários aqui no Brasil?

Não, assim principalmente se uma pessoa começar o esporte universitário, seu primeiro contato com o esporte foi na universidade porque não dá tempo de você aprimorar, tipo, ele não exige do que um profissional mesmo muito qualificado precisa. Mas, assim, o que eu acho do esporte universitário: é muito precário, as quadras que a gente joga são extremamente precárias, os árbitros são ruins, o material que é fornecido pra gente e muito ruim, por exemplo, no começo do ano nas férias a gente deixou nosso saco de bolas aqui na atlética, mofou, a gente ficou com 5 bolas para treinar 14 pessoas e qualquer pessoa que joga num time que precisa de bolas sabe o quão importante e isso para dar dinâmica de treino e fazer tudo e assim a atlética não tinha dinheiro pra repor, a gente não tinha como tirar essa verba do nosso bolso, sorte que eu consegui com minha técnica de Jundiaí algumas bola que ela ia jogar fora e a gente conseguiu treinar, mas é isso a gente não tem bola, não temos jaleco, legal no inter, pelo menos no Juca , nós temos o fisio isso ajuda muito porque inter e uma dinâmica diferente né, exige muito mais, por serem jogos todo dia e serem jogos difíceis isso exige muito mais, mas assim as quadras do inter até agora que eu fui, fora o primeiro Juca, são péssimas, acho que é isso.

Entrevista realizada por Gabriel Jardim de Souza e Sergio Barbosa Jr.