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Semelhanças e peculiaridades entre o vôlei universitário e o profissional no Brasil

Recém formado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo, Davi Pereira de Almeida, 24 anos, é um típico caso daqueles em que dizemos: “você sai da USP, mas a USP não sai de você”. Isso por que suas atividades não eram restritas apenas ao universo acadêmico, mas também fortemente ligadas ao esporte universitário.

Apaixonado por esportes, Davi começou a jogar vôlei relativamente cedo, aos 14 anos, de forma amadora no colégio. Desde então seu interesse e domínio na prática do esporte foi crescendo, ao ponto de engajar-se com afinco à atlética de sua faculdade desde o princípio do curso. Hoje, apesar de graduado, ele não “abandona o osso” e permanece treinando e jogando sempre que possível.

Esses e outros detalhes de sua história de vida esportiva, bem como opiniões à cerca do vôlei em geral, ele nos conta agora com exclusividade:

Davi, quando você entrou na faculdade você já sabia que se envolveria com esporte? Já tinha algo em mente?


Davi: Já, porque eu comecei jogar vôlei com 14 anos no colégio. Tinham uma equipe de vôlei lá e me interessei. Aí entrei e no primeiro, segundo e terceiro ano eu já treinava bastante. E aí quando entrei na faculdade, toda a técnica que aprendi no meu colégio eu usava na (faculdade) farmácia também. Além disso já conheci o pessoal do time da farmácia antes de entrar na faculdade.

Por que a escolha do vôlei?

Davi: Minha irmã jogava vôlei antes. Sempre jogou vôlei. Eu gosto de vôlei, porque os pontos são rápidos e nesse sentido é mais dinâmico. As táticas também são interessantes e quando você vê na televisão não percebe isso. Mas o fato de todos jogadores terem que rodar para todas as posições acaba por fazer que ele seja bem tático também.

Você acha que esse é o charme do vôlei?

Davi: Acho que sim. E também eu era baixo, ainda sou baixo né, tenho 1,70m e, quando eu era do infantil, a diferença era menor. Agora os caras tem 1,80m, 1,90m e isso foi um desafio a mais para mim também. Eu acho isso um desafio legal, um desafio pessoal, que é uma pessoa baixa jogar vôlei.

Legal, uma questão de motivação a mais. E até onde você pretende levar o vôlei na sua vida?

Davi: Ah, acho que para sempre! Para sempre. Eu convivo com o vôlei desde os 14 anos praticamente quase todo dia da minha vida e até onde der eu vou tentar levar. Eu me formei agora, consigo jogar até o final do ano na USP só que eu pretendo continuar treinando com a farmácia, ajudando, vindo aqui formar um time de formados pra continuar jogando campeonato. É o esporte que eu amo. Eu gosto muito de esportes, mas o esporte que eu mais amo é o vôlei.

 

Davi à esquerda (arquivo pessoal)

Você teve alguma inspiração especial, além da sua irmã?

Davi: Ah o Giba, que foi melhor jogador do mundo já, e principalmente o Serginho, pela história de vida dele também, era um cara muito pobre… e foi eleito o melhor líbero do mundo várias vezes e o que é incrível, conseguiu ser eleito o melhor jogador do mundo jogando de líbero! Que é uma coisa que é… que nem no futebol você eleger um zagueiro (para ser o melhor jogador do mundo).  Que nem acho que o Cannavaro foi em 2006, ou o Neuer sendo indicado para melhor jogador… que é uma coisa (função) que acho que não se destaca tanto assim, é impressionante. E o Serginho foi eleito o melhor jogador agora das Olimpíadas também!

Potencialmente, como você classifica o vôlei brasileiro a nível mundial?

Davi: O melhor. Eu acho que é o melhor.

Não tem ninguém no páreo?

Davi: Tem, tem alguns times que são muito bons, que sempre tiveram tradição, como a Rússia, a Sérvia, que é um time novo porque separou da União Soviética… os Estados Unidos têm um time jovem mas já ganhou Liga Mundial. Outros times novos melhoraram e agora estão no nível do Brasil, como o Irã, que é um time muito bom, tem um levantador excepcional, acho que é o melhor levantador do mundo, na minha opinião. E tem a França, que também tem um time muito bom. Tem jogadores muito bons, como o N’Gapeth, o líbero que não me lembro o nome agora, mas que ano passado foi considerado o melhor líbero do mundo. Então estas equipes são muito boas. A Argentina também tem um time bom, mas dá uma oscilada… mas o vôlei do Brasil é um pouco melhor.

Já que você acha tão bom, acha que algum dia a mídia brasileira vai dar tanto destaque ao vôlei quanto dá ao futebol?

Davi: Igual ao futebol aqui no Brasil é difícil. Vou dar o exemplo do handebol feminino: as meninas foram campeãs mundiais, Brasil tem um time muito forte, mas a Liga de handebol feminino aqui não é forte. Mas a Liga de vôlei no Brasil é muito forte. A Superliga é um nível absurdo; tanto que o atual campeão mundial, se não me engano, é o Cruzeiro. Bicampeão mundial. Também tem o time do Sesi, que é muito bom, o Taubaté, o Rio de Janeiro… times muito bons. Mas não sei se vai chegar ao nível do futebol aqui, acho que está muito impregnado isso no brasileiro. Acho que o pessoal aqui só dá importância pro futebol, tanto que pra você ir nos jogos de vôlei é de graça. E é altíssimo nível. Os ginásios também são pequenos.

(Arquivo pessoal)

                                                               Falando mais de vôlei universitário agora, quais semelhanças você vê entre o vôlei profissional e o Universitário?

Davi: Nenhuma! (risos) É muito diferente o nível, principalmente no Brasil. Nunca viajei pra fora, nunca vi como é o vôlei universitário lá fora, mas é outro jogo. É muito rápido, os caras são muito altos, batem muito forte. Aqui, pelo que eu entendo de vôlei, pelas minhas experiências de sete anos de vôlei aqui no Brasil, no Universitário, os times basicamente (principalmente no masculino) têm um atacante que é muito bom e o jogo gira em torno dele, é sempre assim que funciona. E o feminino é um time que saca e passa melhor. Se você tiver uma menina que saca muito bem você consegue se destacar muito. E isso também é estrapolado para o profissional. No profissional masculino, por exemplo, são jogos feitos mais de saque, bloqueio e ataque. É mais violento. O feminino, não, é mais saque e passe, só que isso ficou um pouco mais discrepante no universitário: se tiver um time feminino que saque bem aqui acho que se pode ganhar um campeonato por causa disso. No masculino, se tiver um cara que pega bem alto ( que é o que acontece aqui na USP) acabou o jogo; é difícil pegar.

Já que você mencionou outros países agora, acha que aqui no Brasil tem muito preconceito ou resistência com o esporte universitário em geral?

Davi: Ah, é totalmente amador né… não tem nada ligado ao profissional. Nos EUA, o pessoal sai do universitário e vai pro profissional. Tanto que tem um jogador lá que ele saiu do universitário num ano e foi para o profissional jogar a liga mundial dos EUA e no primeiro ano profissional dele já ganhou a Liga Mundial e foi eleito o melhor jogador. Aqui já é tratado como amador mesmo. Não tem incentivo. Os técnicos, pelo que eu saiba, recebem por volta de R$ 300,00 para treinar um time duas vezes por semana, exceto as medicinas, pois treinam quatro vezes por semana, fazem academia e tal. Mas isso tem a ver com a faculdade. Vou dar o exemplo da medicina novamente: lá eles estudam de manhã e à tarde e não conseguem trabalhar, pois o curso é puxado, então eles treinam à noite, sempre. Mas a Farmácia, por exemplo, temos o (curso)integral e o pessoal noturno; então você não consegue um lugar pra colocar um treino com todo mundo junto. Tem que ficar faltando em aula (eu já faltei muita aula pra ir em treino) e isso é um problema. Não tem incentivo nenhum da faculdade. A faculdade não dá nenhum centavo também…

 

E pra finalizar, Davi, você sonha que haja algum tipo de incentivo por parte da faculdade?

Davi: Ah, difícil, ainda mais com essa crise agora. Na USP eu acho difícil da faculdade dar algum tipo de incentivo financeiro. O que eu acho que pode acontecer é dar algum tipo de incentivo acadêmico, que é uma coisa que eu defendo. Eu acho que a faculdade poderia contar créditos de optativas se alguém joga ou faz parte de algum centro acadêmico, bateria… acho que isso seria bem válido, porque as pessoas, pelo que estou vendo hoje em dia, passam em branco na faculdade: vêm, fazem o curso e vão embora. E isso é ruim pra faculdade, porque acho que quanto mais as pessoas se envolverem com a faculdade vai melhorar muito, com o tempo.

 

Por Antoine Troccaz, Wagner Oliveira e Yasmin Svea