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A crise da Portuguesa aos olhos de um lusitano

Por João Victor Escovar, Rafael B. Popp e Rafael C. Florio

Manoel Cardoso, de 58 anos, é torcedor fanático da Portuguesa. Morador da Zona Norte de São Paulo e descendente de portugueses, acompanhou a Lusa durante sua vida inteira, inclusive nos últimos 4 anos, considerados por todos como os piores da história do clube.  Após um rebaixamento muito contestado para a Série B no ano de 2013, as coisas só pioraram para o time do Canindé, que acaba de cair para a 4ª divisão do campeonato nacional e não integra, por mais um ano, nem a elite estadual, pois disputa a Série A-2.  Para completar,  o clube está afundado em dívidas e vê seu estádio ir a leilão sem poder fazer nada.

Dentre tantos problemas administrativos e políticos que rodearam a Portuguesa nesses últimos tempos, fomos conversar com alguém que realmente sofre com essa crise, o torcedor. Confiram:

Tradicional, Portuguesa vive derrocada sem fim

 

JE: O quê ou quem influenciou você a torcer pela Portuguesa? De onde vem essa paixão pelo time?

Manoel: A influência para torcer pela Lusa vem de minhas raízes familiares. Meus avós são portugueses, e em casa o futebol sempre foi tradição. A paixão vem de uma mistura do sentimento da família, de meu gosto por futebol e pelas situações pela qual a Lusa passa. Mesmo não sendo um grande time, acostumado a disputar títulos, a tradição da Lusa é muito bonita, e eu não troco por nada.

JE: Sua torcida pela Lusa é mista, dividindo seu coração com algum time grande, ou ele é apenas rubro-verde?

Manoel: Sou totalmente lusitano. Acompanho os jogos dos times grandes também, mas isso porque gosto de futebol. Torcer, no entanto, é apenas para a Portuguesa.

JE: Segundo dados do instituto Datafolha, a torcida da Portuguesa vem caindo. Na última pesquisa realizada, sobre as maiores torcidas da capital paulista, a Lusa mal somou 1% da preferência dos entrevistados. Além disso, o público que frequenta o Canindé é pequeno, com média de 1695 presentes. Você acredita que a má fase da equipe pode fazer com que os torcedores abandonem a Lusa?

Manoel: Como acontece com toda equipe, parte da torcida some quando o time está numa má fase. Acho que isso ocorre com os torcedores não tão apaixonados, ou ainda com os simpatizantes da Lusa, mas que torcem para outros times. Para o torcedor apaixonado, contudo, não tem essa de abandonar o clube: podemos cobrar e reclamar, mas estaremos com a Lusa onde quer que ela esteja.

JE: Você acredita que houve injustiça no caso Héverton, em 2013, que rebaixou a Portuguesa à Série B do Campeonato Brasileiro? Esse foi o único fator responsável pelas sucessivas quedas da Lusa nos anos posteriores?

Manoel: Acho que houve injustiça sim, pois a Lusa não merecia o rebaixamento naquele ano, pelo futebol que jogou. Porém, não acredito que seja certo ficar culpando o Fluminense, pois ele fez o que era possível para se livrar. Vejo mais como culpa da própria Lusa, que se descuidou, do que do Fluminense ou do STJD. Pessoalmente, acho que tem coisa mal explicada pelo meio, que nós só vamos descobrir daqui a 20 ou 30 anos. Sobre as quedas nos outros anos, tudo é culpa da falta de planejamento da diretoria, que ficou sonhando com a questão da Série A e não soube enxergar a realidade concreta do clube.

JE: Apesar dessa derrocada da Portuguesa, no ano de 2015, a Lusa figurou entre um dos classificados à fase final da série C, lutando por uma vaga na 2ª divisão. No entanto, neste ano, acabou  fazendo uma das piores campanhas e vai disputar a série D em 2017. O que você acha que mudou nestes últimos 12 meses, responsáveis por levar seu clube à 4ª divisão?

Manoel: Acredito que a Portuguesa brigou pelo acesso no ano passado porque a diferença de nível entre as Séries B e C é muito grande. Assim, o time rebaixado teria condições de voltar tranquilamente. Para mim, o fato de não ter subido naquele ano já era mais um sinal da queda constante, que culminou com o rebaixamento à Série D.

JE: Como torcedor da Portuguesa, qual a sua perspectiva para o futuro do time? A Lusa estaria caminhando para o fim de sua história ou ainda é possível crer em uma redenção, como aconteceu com o Santa Cruz a partir de 2011 e hoje em dia está ocorrendo com o Guarani de Campinas?

Manoel: Olha, acho muito difícil a Portuguesa acabar. Mesmo não sendo um time grande, ela tem uma torcida muito apegada e uma história muito bonita no futebol pra acabar na sarjeta. A torcida não vai deixar a Portuguesa acabar. Mas não sei quanto tempo vai levar para que a Lusa suba para a elite estadual e nacional. Isso depende de diversos fatores, como apoio externo. Veja, por exemplo, a Ferroviária de Araraquara, que tem menos tradição que a Lusa, e depois de 20 anos voltou à Série A-1 do Paulista com um lindo estádio. Acho que com planejamento e pés no chão, podemos fazer o mesmo.

JE: Conte-nos uma história marcante nessa sua trajetória como torcedor da Lusa. Qual o momento mais emocionante para você?

Manoel: Fiquei muito emocionado com a campanha de 2011 da Lusa na Série B, que ficou conhecida como Barcelusa, em referência ao Barcelona de Messi e Cia. Foi a época em que comecei levar meu netinho ao estádio, e vê-lo torcer e se emocionar com a Lusa, ver o estádio cheio, toda aquela movimentação gostosa do futebol, foi uma experiência muito alegre para mim. Além disso, nós estreitamos muito nossos laços afetivos.

JE: Encerrando nossa entrevista por aqui, abrimos o microfone para suas considerações finais. Você tem algum recado à deixar aos leitores, torcedores ou dirigentes da Lusa?

Manoel: Como eu disse antes, a Lusa tem uma história muito bonita, e não pode acabar. É importante que os torcedores apoiem nossa equipe, e que os dirigentes saibam ter consciência para alavancar o time com a força e tradição da torcida. Eu não vou desistir da Lusa.