O legado “esquecido” das olimpíadas: os futuros atletas
Por Aline Oliveira, Felipe Ribes e Pedro Henrique Silva
Se o governo comemora o aumento do turismo no Brasil e a melhora da imagem do país lá fora e o COB vibra com o histórico total de medalhas, os clubes brasileiros também devem ter o que comemorar.
Quando a chuva apagou a pira naquela noite de 21 de agosto de 2016, acabava um dos momentos mais intensos da história da cidade do Rio de Janeiro. Durante três semanas, os maiores atletas do mundo entregaram uma das mais emocionantes Olimpíadas que a era moderna já viu. Não apenas em razão de performances memoráveis dos atletas veteranos como Michael Phelps e Usain Bolt e de novatas como Katie Ledecky e Simone Biles mas também pelo tempero da torcida brasileira, que vibrou muito – até demais para alguns – tanto nas arenas como em suas casas, bares e até mesmo nos cinemas.
O sucesso olímpico, porém, não se mede apenas em números de audiência, medalhas ou vendas relacionadas ao turismo. Depois que a pira apagar, se o número de esportistas brasileiros não aumentar, não há sucesso.
Durante visita técnica ao Esporte Clube Pinheiros, tradicional agremiação esportiva da zona oeste de São Paulo, fomos investigar melhor os impactos que as Olimpíadas tiveram para o esporte do clube que tem grande experiência em formar atletas olimpícos.
Segundo Érica Brito, assessora de imprensa do clube , “Todos os esportes com escolinha tiveram aumento da procura”, confirmando a dúvida sobre o impacto dos jogos entre os associados. Isso é bom para o clube mas melhor ainda para o esporte nacional, que não precisa só de jogadores de futebol e vôlei, mas também de judocas, ginastas e esgrimistas, apenas a título de exemplo.
Isso porque são nesses esportes, muitas vezes ignorados pelo brasileiro, nos quais talvez a diferença se torne mais perceptível. Sobretudo no Pinheiros, onde o futebol está bem longe de ser o carro chefe. Durante entrevista no dia 22 de setembro deste ano, o supervisor técnico de esgrima Gennady Miakotnykh brincou que “Precisamos fechar as portas da escolinha pra poder dar aula(em razão do aumento da procura)”. Acrescenta o técnico que “Depois da Olimpíada, tivemos 70 crianças de 9 até 12 anos participando no campeonato brasileiro desse ano”.
Não foi então apenas a procura pelo esporte que aumentou, mas também cresceu o número de crianças praticantes. A longo prazo, podemos estar diante de uma mudança de cenário interessante no esporte de alto rendimento.
“Sem estrutura, porém, a gente não vamos conseguir ir para frente”, pondera Miakotnykh. Isso, porém, é algo que o Pinheiros tem e de sobra. O clube investe uma quantia considerável de dinheiro nos seus atletas de alto nível, possui quadras em ótimo estado de conservação, uma piscina olímpica elogiada até mesmo por atletas internacionais e uma academia especializada em melhorar o condicionamento físico dos seus atletas, com equipamentos de ponta e equipe multidisciplinar formada por profissionais de educação física, psicólogos, nutricionistas e companhia.
Infelizmente, toda essa estrutura é exceção no Brasil. São raríssimos os clubes que persistem sem a ajuda substancial do futebol, o que nos deixa cada vez mais dependente da “modalidade oficial do país”. Se os clubes e o Estado não investirem o necessário para acolher devidamente esses novos esportistas, assim como a pira olímpica, nosso potencial para formar atletas de ponta irá se apagar com o fim das olimpíadas.
É importante, então, que os governantes e também os clubes saibam aproveitar o momento para transformar esse interesse no esporte e dar o salto necessário para formar a próxima geração de atletas brasileiros vitoriosos, seja investindo em estrutura, seja fomentando o esporte de alto nível.