Clube Pinheiros: um espaço para judocas
Por Lázaro Campos Júnior e Rafael Paiva
O judô é um esporte tido como referência nacional em relação às competições de alto rendimento. Não é à toa que essa é a modalidade individual que trouxe mais medalhas olímpicas para os solos brasileiros: 22 no total (quatro ouros, três pratas e quinze bronzes).
Dentre esse expressivo número, os atletas do Esporte Clube Pinheiros contribuíram com quatro conquistas. Em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, Douglas Eduardo de Brito Vieira tornou-se o primeiro judoca brasileiro e pinheirense a participar de uma final. Obteve, na ocasião, a medalha de prata.
Passados 24 anos, já em terras asiáticas, mais precisamente em Pequim, um esportista do clube voltou a obter uma honraria olímpica. O paulista Leandro Guilheiro garantiu um bronze para a coleção. Na sequência, o gigante de mais de 2 metros, Rafael Carlos da Silva, conquistou duas medalhas de bronze, uma nas Olimpíadas de Londres, em 2012, e outra na do Rio de Janeiro, em 2016.
Referência na modalidade há décadas, o E.C.P fornece toda a infraestrutura necessária para que o praticante desenvolva o seu melhor. No local, os atletas usufruem de equipamentos de ponta e são treinados por grandes especialistas da área. Vale destacar que o tatame, inaugurado há menos de 5 anos, conta com três áreas de competição, iguais às utilizadas nos maiores torneios internacionais.
O clube na atualidade
Em entrevista concedida aos alunos do curso de “Jornalismo Esportivo” da Universidade de São Paulo (USP), ministrado pelo professor Luciano Maluly, o membro da comissão técnica do Pinheiros, Raphael Silva, fez questão de ressaltar a importância do clube, que conta com mais de 200 crianças (de 6 a 17 anos) e 45 atletas de alto rendimento treinando no local.
“O foco principal do clube é atender o associado, mas também tem a importância de ter suporte ao alto rendimento. Até por conta disso, o clube tem essa visibilidade toda e ganhou recursos através do governo para manter essa equipe que gera muitos frutos”, enfatizou.
No momento, além dos já citados Leandro Guilheiro e Rafael Carlos da Silva (conhecido por todos como “Baby”), outros(as) judocas ilustres vestem o quimono dessa importante agremiação paulistana, entre eles (as) estão: Tiago Camilo (prata nos Jogos de Sydney, em 2000, e bronze nos de Pequim, em 2008), Anne Caroline do Carmo (bi-campeã sul-americana), Flávia Rodrigues Gomes (Campeã Mundial Sub-18), Charles Chibana (medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto) e Eric Takabatake (campeão pan-americano).
Terceira Idade
Embora o país esteja dando sinais claros do envelhecimento de sua população, é de se lamentar o fato de que um clube tão conceituado na cidade quanto o Pinheiros não tenha um trabalho específico na área.
“Não tem um programa específico. Mas se um idoso chegar, que queria fazer judô, nós vamos atender. Lógico, ajudando em determinadas situações até por conta das limitações. Mas atendemos o associado. O treino é separado do pessoal do alto rendimento, mas é um em que pode entrar pessoas dos 16 aos 90 anos”, comentou o treinador.
Comunidade/Seletiva
Sabe-se que no Brasil, as pessoas mais carentes possuem um acesso deveras restrito para se desenvolverem em quaisquer atividades esportivas. Pelo fato de não poderem arcar com mensalidades altíssimas nos tradicionais centros de desenvolvimento, elas dependem das famigeradas seletivas.
O fato do E.C.P não promovê-las para o judô, reafirma a visão de muitos indivíduos que o consideram elitista e excludente. “Infelizmente, ainda não temos seletivas […] Isso não quer dizer, entretanto, que não vemos o social. Todos os atletas de alto rendimento tem que estudar. Tem que fazer faculdade em paralelo. Tem bolsas com essas faculdades que tem parceria com o clube. Já o trabalho dos associados é social, de inclusão dos alunos na atividade esportiva.”, relatou.
Enquanto essa atitude não for repensada, a imagem do clube azul, preto e branco permanecerá marcada pelo contraste, isto é, ao mesmo tempo em que se encontra com um olho nos objetos olímpicos, mantém o outro fechado para a população.