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Uma Paixão sobre Grama – Entrevista com Brunno Mendonça

Davi Melamed Gemio

Domingo passado ocorreu a final do campeonato brasileiro de hóquei sobre grama, na qual o Rio Hockey Clube consagrou-se campeão pela primeira vez, sobre a Sociedade Germania, após bater na trave no ano anterior. O placar do jogo no tempo regulamentar foi de 1×1, sendo decidido o jogo nos shootouts, onde a equipe carioca levou a vantagem, com um placar de 3×2.  Para a maioria dos leitores, os nomes citados acima muito provavelmente nunca haviam sido lidos ou ouvidos sobre.

O hóquei sobre grama existe oficialmente desde o século XIX, criado pelos ingleses, e acredita-se que Charles Miller, o introdutor do futebol no Brasil, foi em parte responsável pela introdução do hóquei em solo nacional. Países europeus como Inglaterra e Holanda possuem tradição extensa no esporte, mas a nação que conquistou a maior quantidade de medalhas Olímpicas foi a Índia, obtendo mais da metade das medalhas de ouro distribuídas. Embora tenham sido introduzidos durante a mesma época em solo brasileiro, um dos dois esportes viria a se tornar a maior paixão do brasileiro, enquanto o outro adquiriria uma fração apenas do reconhecimento desse.

No entanto, isso não quer dizer que o esporte não tenha seu público e competições, atualmente, o Brasil possui seleções masculina e feminina que disputaram as Olimpíadas do Rio de Janeiro e também campeonatos brasileiros feminino e masculino, além de campeonatos de uma outra modalidade, praticada em áreas fechadas, chamada hóquei indoor.

Tive a oportunidade de entrevistar uma das estrelas e ex-capitão da seleção brasileira de hóquei sobre grama, o zagueiro Brunno Mendonça, que recentemente consagrou-se campeão brasileiro pelo Carioca Hockey Club, e que também já representou o Brasil na modalidade nos jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. O atleta contou sobre o início de sua carreira, suas conquistas, seus projetos futuros, entre outros assuntos, na entrevista a seguir:

 

Qual foi o seu primeiro contato com o hóquei?

Brunno Mendonça: Foi no final de 2008, eu era militar da aeronáutica e fui fazer um evento na vila militar do exército, um encerramento de ano, se não me engano, e lá estavam presentes as seleções masculina e feminina de hóquei na grama, mas até então não conhecia. Eu avistei de longe o campo e achei um pouco diferente de um campo de futebol por causa das marcações feitas, que são características do hóquei. Eu não tinha identificado e eu perguntei para uma pessoa lá, que eu não sabia que a pessoa era gerente geral, na época, do hóquei, o Eduardo Leonardo, e ele me apresentou tanto o técnico da seleção quanto a comissão técnica toda, e eles perceberam que eu tinha um porte físico, um preparo de atleta, e eu expliquei que eu fazia atletismo, e eles me convidaram para estar fazendo os treinamentos no início de Janeiro do ano de 2009, para ver se eu podia aprender sobre o esporte, e assim foi, tomei gosto e estou nele até hoje.

 

Em que momento você percebeu que seria jogador de hóquei profissional?

Brunno Mendonça: Logo em seguida que eu comecei a praticar o esporte, o treinador da época falou que eu levava jeito e que se eu treinasse a técnica eu serviria bastante tanto para a equipe quanto para a seleção. E assim foi, tomei gosto, em 2009 mesmo já tinha disputado duas competições, a nível estadual e outra nacional, e tomei gosto pela coisa. Eu realmente percebi que ali eu poderia ter um futuro no esporte, o qual sonhei desde criança, que era participar de uma Olimpíada, mas o sonho era muito distante e eu não fazia ideia em que cenário o Brasil estava no hóquei.

Brunno defendendo a seleção brasileira durante o evento Aquece Rio (23, Nov, 2015 – Foto: Buda Mendes/Getty Images South America)

Queria que me contasse um pouco sobre sua relação com a seleção brasileira. COmo foi sua primeira convocação?

Brunno Mendonça: Em 2009/2010 eu continuei jogando com a minha equipe, a primeira, Deodoro Hóquei Clube, e quando o Cláudio Rocha assumiu a seleção ele me falou que se eu continuasse treinando bem e focado, eu poderia ter uma chance na seleção brasileira, e em 2011 surgiu a primeira convocação para os playoffs contra Cuba. Foi lá em Deodoro, Rio de Janeiro, para uma vaga nos jogos Pan Americanos lá no México, Guadalajara. Então eu consegui ficar na equipe, foi minha primeira convocação, em Dezembro de 2010, e em 2011 eu consegui passar pela primeira vez dos playoffs.

 

Como você descreveria o cenário do esporte aqui no Brasil?

Brunno Mendonça: No cenário que eu vejo, ainda falta bastante oportunidade de apresentarmos nosso esporte para os diversos cantos do Brasil, onde só temos cinco estados brasileiros que compõem o hóquei, federações no caso, e isso faz com que diminua a participação de equipes no campeonato, são poucos jogos ao ano, e isso faz com que a própria seleção também fique um pouco abaixo do esperado nas competições internacionais. Então precisamos dar mais visibilidade e ter mais federações participando para termos uma melhora.

 

Qual foi sua maior conquista ou momento mais memorável no hóquei?

Brunno Mendonça: Sem dúvida foi entrar com a equipe, com a seleção brasileira nessas Olimpíadas do Rio no ano passado. Isso pra mim sem dúvida é um marco, é o momento mais glorioso que eu pude ter em relação ao esporte. Outro que eu posso destacar também foi quando eu recebi o prêmio de maior atleta do Brasil, eleito pelo Comitê Olímpico Brasileiro, no hóquei, em 2014, além de ter sido capitão da seleção, outro fato marcante que vai ser memorável. São três aspectos que eu me esqueço jamais. Eu fiquei de capitão entre final de 2013 e 2015, foi quando eu passei a braçadeira para o meu amigo e também vizinho e companheiro. Esses três fatos me marcaram bastante.

 

Qual o seu maior sonho no esporte?

Brunno Mendonça: O meu maior sonho no esporte eu posso dizer que eu realizei, que foi ter jogado a Olimpíada, mas não paro por aí. Eu sou bem ambicioso, eu sou um sonhador, e como conquistei o sonho de jogar as Olimpíadas eu não paro, eu quero mais. No esporte sempre desejo ser campeão, e acabei de ser campeão brasileiro anteontem (Domingo dia 26/11/2017), mas na seleção brasileira eu quero mais também. Eu quero ser campeão, finalista Panamericano, é uma medalha que me entusiasma bastante para poder buscá-la, e se tudo der certo ano que vem no Sul Americano a gente vai poder concluir nossa missão da classificação para 2019 e assim concluir nosso objetivo.

Além disso, um dos meus maiores sonhos é fazer com que o esporte cresça no Brasil, nas regiões, e até mesmo onde não existe, poder desenvolver. Eu sou responsável por um projeto social chamado Hóquei Life, onde eu atuo nas comunidades do Rio de Janeiro, em escolas, onde são abertas as portas para que eu ministre as atividades, por ser formado em Educação Física e conhecer o esporte. Eu tenho uma grande participação na formação dos atletas de hóquei no Rio de Janeiro, e isso faz com que a gente consiga ter um bom campeonato de base, ter atletas de categoria de base sub-18, sub-15, com bastante repetitividade. Então um dos maiores sonhos é que o esporte seja divulgado não só no Rio de Janeiro mas como em todo o Brasil.

 

 

 

Comemoração do título brasileiro conquistado pelo Carioca Hockey Clube (26 de Nov, 2017. Foto: Marcelo Wance)

 

Quais são suas dicas para quem está interessado em começar a praticar o esporte?

Brunno Mendonça: Para mim seria alegria. Sem alegria em praticar esporte não há motivo nenhum pelo qual fazê-lo. Acredito que sempre quando a gente tem uma alegria contida dentro da gente a gente quer por pra fora, então, quando você vai praticar um esporte, se for feito com alegria, com certeza aquilo vira paixão, assim como foi comigo. Eu sempre gostei de praticar esporte, e quando tive a primeira oportunidade de conhecer um esporte o qual não conhecia eu me dediquei e fui muito feliz em realizar. Então essa é a minha dica para quem está interessado: tudo o que for fazer, faça com alegria que os resultados virão sem dúvida nenhuma.

 

Por fim, o que você espera para o futuro, tanto de sua carreira quanto do esporte em si?

Brunno Mendonça: Eu espero ter o retorno de todo o investimento, de todo o tempo que eu investi no crescimento do hóquei. Eu sou um sonhador, eu planejo bem as ações em relação ao cenário esportivo, eu gosto de estar presente, envolvido com o cenário esportivo, por isso eu dou o meu tempo para poder estar trabalhando com as divisões de base, o sub-18, o sub-15, com diversos atletas de outras equipes até, ensinando as técnicas, as bases, eu dou uns toques em relação a jogos, até mesmo fora de campo, as doutrinas e as responsabilidades deles como atletas, e é isso que faz o cidadão ser bem sucedido, até mesmo como atleta.

 

Brunno descansa e comemora após a conquista do título brasileiro, mas sem deixar de dar continuidade a seu projeto social e focado nas próximas competições pela seleção brasileira, que ainda sonha em conquistar um campeonato Pan Americano.