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BRASIL ACIMA DE ZERO

                                                                                                        Foto: CBDG

CAIO MENDONÇA GORGULHO

O programa Sessão da Tarde, da Rede Globo, foi responsável por alegrar as tardes de pessoas que tinham as tardes desocupadas e definir clássicos do cinema. Um desses filmes é Jamaica Abaixo de Zero, que trata das aventuras e confusões como uma equipe de bobsled durante os treinamentos e a participação das olimpíadas de inverno de 1988, em Calgary, no Canadá. O que torna esse filme engraçado e inusitado é o fato de uma equipe de um país tropical, onde ver neve é impossível, lutar para participar de uma competição.

O bobsled é uma modalidade onde equipes de duas ou quatro pessoas descem uma pista de gelo em um trenó. No trenó, a pessoa que fica na frente controla a direção do trenó e pessoa de trás controla a frenagem. O esporte começou a ser praticado no final do século XX, na cidade de St. Moritz, na Suíça. Inicialmente, era praticado nas ruas, mas os trenós foram proibidos de serem usados nessas ruas e, em 1902, a primeira pista exclusiva de bobsled foi construída.          A federação internacional do esporte (FIBT, que também engloba a modalidade de skeleton) foi fundada em 1923 e atualmente é conhecida como IBSF. A competição de bobsled com quatro participantes apareceu em Olimpíadas pela primeira vez em 1924, em Chamonix, na França. Para as mulheres, a primeira competição Olímpica envolvia duas competidoras, e se deu nas Olímpiadas de Inverno de Salt Lake City, em 2002. A equipe mais vitoriosa em eventos olímpicos é a Suíça, com 31 medalhas, seguida dos EUA, com 24 e da Alemanha, com 21.

Seguindo essa linha, é possível se traçar paralelos entre a participação da Jamaica em competições envolvendo gelo e a participação do Brasil nessas mesmas competições. Pode parecer um sonho distante, mas é isso que Marcelo Unti, membro da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, almeja. Ele assumiu a Confederação em um momento difícil, sob intervenção, e busca maneiras de consolidar os esportes de gelo no Brasil e criar um centro de treinamento no Brasil para o desenvolvimento de atletas. Praticamente todos os atletas que participam de competições no gelo, representando o Brasil, são brasileiros que moram no exterior. Entre as modalidades estão o bobsled, curling, hóquei, patinação, skeleton e luge.

Atualmente, o Brasil possui tanto equipes femininas quanto masculinas de bobsled. Ambas as modalidades participaram das Olímpiadas de Inverno de 2014, em Sochi, na Rússia. A equipe feminina contava com duas participantes e a masculina com quatro. Na competição, a equipe masculina obteve o 29º lugar e a equipe feminina, o 19º lugar. Com exceção de 2010, o Brasil sempre mandou pelo menos uma equipe de bobsled para participar das Olimpíadas de Inverno.

Conversei com o Marcelo no mês de novembro, enquanto ele acompanhava o campeonato brasileiro de curling, disputado no Canadá. O Marcelo é advogado de formação, com interesse na área esportiva. Quando não está envolvido com os esportes de gelo, ele se ocupa com o Santos Futebol Clube. Foi assim que se iniciou seu envolvimento com os esportes de gelo, como pode ser visto na entrevista a seguir:

BJE: Como surgiu seu interesse pelos esportes no gelo?

MARCELO UNTI: Eu sou advogado, mas sempre gostei de esportes, principalmente, de marketing esportivo e organização no esporte. Fiz especialização em marketing e administração esportiva em 2010 e comecei a prestar serviços para o pessoal de hóquei in line e algumas coisas de hóquei no gelo. Fiquei dois anos trabalhando com a Copa do Mundo e, quando saí, comecei a prestar consultoria para a CBDG, que passava por uma reestruturação. No ano passado, fui contratado para abrir e cuidar do escritório da Confederação em São Paulo, já que a sede fica em Porto Alegre.

BJE: Poderia falar sobre a situação anterior na Confederação e sobre a intervenção que ocorreu na mesmo?

MARCELO UNTI: A CBDG foi criada pelo Eric Maleson, que era praticante de bosled. Só que a situação era controlada totalmente por ele, assim como a distribuição de recursos provenientes apenas da Lei Piva. Desviou valores, deixou atletas sem assistência e teve repasses bloqueados pelo COB. Dai os atletas foram à Justiça pedir intervenção, que foi concedida em caráter liminar com nomeação do interventor Emilio Strapasson, ex-atleta de skeleton e que morava no RS. Depois que a intervenção foi confirmada, após todos os recursos judiciais cabíveis, o Emilio foi eleito presidente, mudou a sede para Porto Alegre e começou uma nova forma de administração, com transparência e governança.

BJE: Quais as dificuldades para a construção e manutenção de um centro de treinamento para esportes no gelo no Brasil?

MARCELO UNTI: As maiores dificuldades são o alto investimento necessário para a construção e montagem e a falta de benchmarket para analisarmos a questão da viabilidade. Mas estamos trabalhando forte para elaborar um plano de negócios sustentável e que possa atrair investidores.

Assisti a uma palestra do Marcelo e ele considera que o centro de treinamento seria a parte mais importante do desenvolvimento do esporte no país. Ajudaria a formar atletas dentro do país, já que a maioria dos atletas mora no exterior, e ajudaria e criar uma fonte de renda constante para a Confederação. Ele considera que, com o centro pronto, as pessoas que tem interesse nos esportes poderiam pagar para ter aula, praticar e se divertir com os amigos, e isso seria essencial para que novos atletas e praticantes sejam conquistados.

Contato: caio.gorgulho@usp.br