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Flag Football com Luiz Khaled

por Pedro Paulo Argôlo

Da esquerda para a direita: Leonardo Mellace, o treinador de ataque, Luiz Khaled e Ademilson Miúdo Marchezzoni, treinador de defesa. Autor da foto: Pedro Paulo Argôlo.

 

Elenco do Tatuapé Black Panthers após o treino. O Luiz está com uma camiseta branca sobre o ombro na última fileira no canto direito da foto. Autor da foto: Pedro Paulo Argôlo

 

Inicialmente utilizado nos Estados Unidos como uma forma de inserir as crianças no futebol americano (chamarei football), o Flag Football (ou futebol americano de flag) hoje é muito praticado, especialmente no Brasil, até mesmo por adultos, pois é muito mais acessível para se jogar: exige menos pessoas, não exige todo o equipamento de proteção, que é muito caro e pesado, e também é bem mais seguro.

No Brasil, a base do esporte está em São Paulo, com campeonatos amadores e universitários do esporte. Destacamos a FeFASP, (Federação de Futebol Americano de São Paulo), fundada em 2012, que conta com times de tradição dentro do cenário nacional como o Corinthians Steamrollers, e que organiza o Campeonato Paulista de Flag FEFASP; a APFA (Associação Brasileira Pró Futebol Americano), que conta com o Politécnica Rats, time formado na Faculdade Politécnica da USP, e que é responsável pela Liga Paulista de Futebol Americano de Flag, que é dividido em duas conferências: a Caipira (para times do interior) e a Metropolis (com times da região metropolitana). No cenário nacional, a instituição responsável tanto pelo flag football como pelo full pad football (como é chamado no Brasil a categoria tradicional por ter full – total – uso dos pads – do inglês almofada, são as proteções usadas pelos jogadores de football, como o shoulder pad, proteção para o ombro) é a CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano), fundada em 2013, em substituição à Associação Brasileira de Futebol Americano (AFAB), fundada em 2000, que tenta expandir o esporte no país, e em 2015 pela primeira vez, a seleção brasileira participou do campeonato, com destaque para a equipe feminina de flag football 5×5, que alcançou o sexto lugar entre as doze equipes do torneio. Em 2018, o Brasil voltará a disputar a Copa do Mundo de Flag Football. No cenário nacional, chamamos a atenção para o Circuito Nacional Flag Football 5×5, o maior torneio da categoria na América Latina.

Existem diversas subdivisões do esporte: dividindo entre feminino e masculino, temos o flag football de campo, que pode ser 5×5 (5 jogadores por equipe), onde não é permitida qualquer forma de contato físico, 8×8, 11×11 (esse não muito comum no Brasil), onde em ambos permite-se algum contatos físico, especialmente nas chamadas linhas (a divisão entre onde o time de ataque se posiciona para trás dessa linha e o de defesa para outro), além do beach flag football.

O flag pode ter menos jogadores que o tradicional football, mas os principais jogadores se mantém: o quarterback (QB), responsável por dar passar e organizar as jogadas do time ofensivo, os da linha ofensiva e defensiva, que têm a missão de proteger ou atacar o QB, respectivamente, os wide receivers (WR), que têm a missão de receber passes, os tight ends (TE), que têm a missão de receber passes e realizar bloqueios para os jogadores do seu time avançarem, os running backs (RB), que têm a missão de correr, receber passes e fazer bloqueios, os cornerbacks, que têm a missão de tentar marcar os jogadores de ataque e tentar impedir que eles recebam a bola, os safeties, que cobrem os jogadores de ataque em jogadas longas e os kickers, que tentam realizar o field goal (que pode não ocorrer em algumas categorias)i, punts e chutes iniciais.

Como no tradicional, os times são divididos em time de ataque e de defesa, onde o de ataque luta para atravessar o campo e marcar o chamado touchdown em no máximo 4 jogadas para cada 10 jardas, senão a bola vai automaticamente para o rival, enquanto a defesa do time adversário tenta impedí-los de avançar. O ataque pode dar um passe para frente (geralmente dado pelo QB) e quantos quiser par trás, ou correr com a bola, e quando cada jogada para o time de ataque deve se reposicionar para outra jogada, ou o chamado time especial, caso o ataque não creia que conseguirá concluir a jogada em pontos, devolve a bola para o time de ataque do adversário iniciar sua tentativa de marcar. Os jogadores jogam com um cinto onde ficam amarradas duas faixas (flags), assim se um jogador de defesa conseguir arrancar uma das duas flags do jogador de ataque da equipe adversária, a jogada pára, isso é uma substituição ao tackle (que consiste em derrubar o adversário no chão, encostando os joelhos) do futebol americano tradicional, que muitas vezes causa lesões. Normalmente o campo de flag football tem 50 jardas, com 10 jardas para cada endzone (que são as últimas 10 jardas para a equipe de ataque tentar realizar o touchdown), por 25 jardas de largura, não existe field goal nessa variante do football tradicional, assim touchdown vale 6 pontos sem bonificação. Oficialmente, o tempo é de 40 minutos, dividido em dois tempos de 20, com o play clock (tempo para a equipe iniciar uma jogada) de 25 segundos.

O esporte foi implantado no Brasil pelos professores e educação física Cláudio Telesca, Paulo Arcuri e José Maurício Bertacci em 1999 em algumas escolas da cidade de São Paulo, e hoje é principalmente jogado em parques da capital paulista, e atrai cada vez mais simpatizantes do tradicional esporte e que querem aprendê-lo de forma barata, segura e divertida.

Nesse contexto é que convido o cornerback do time de Flag Football do Tatuapé Black Panthers – que é semifinalista esse ano do Campeonato Paulista de Flag FeFASP –, Luiz Carlos, conhecido como Khaled. Ele é o camisa 20 do time e também já atuou como safety. Ele é brasileiro, natural de São Paulo, tem 18 anos e atualmente cursa o quarto semestre de Engenharia Civil na UNINOVE.

BJE: Boa tarde, Luiz, como vai? Agradeço por ter aceitado o meu convite. Antes de qualquer coisa, nos conte como você começou a praticar Flag Football.

Luiz Khaled: Eu conheci pelas redes sociais, me interessei… Primeiro, eu já gostava muito de futebol americano, aí surgiu uma oportunidade de uma seletiva aqui e eu vim apenas por… questão de dizer: “Vai no que dá, né?”. Aí eu vim, passei na seletiva como corner e até hoje tô aqui. Então, a gente participa do campeonato da FeFASP, nós já estamos na semi-final, nós vamos jogar contra o Corinthians Steamrollers dia 19 [de novembro], lá no estádio Ponte Grande onde a gente busca chegar na final que provavelmente vai ser contra a Lusa ou contra os Greens (na verdade é o Caniballs), se não me engano.

BJE: Existe diversas modalidades de Flag com número de jogadores, restrições quanto ao contato, etc., diferentes. Qual a modalidade da qual você participa e quais as principais diferenças em relação a essas outras?

Luiz Khaled: Eu participo, primeiramente, do Futebol Americano Flag, que é um paralelo ao Full Pad, que é a categoria do Futebol americano que usa equipamento. No Flag você usa duas bandeiras na cintura, onde o intuito da defesa é tirar essa bandeira. Tirou a bandeira acaba a jogada. É como se você desse um tackle no Full Pad. Têm duas categorias: o masculino e o feminino. O feminino é cinco contra cinco e o masculino é oito contra oito. Os jogadores de linha podem ter um contato chamado bump, eles só podem dar um empurrão na parte frontal do peito. Não pode dar nas costas. E nem pode dar segurada, que é chamada holding, que é uma falta.

BJE: Quais os motivos que fizeram você praticar o Flag ao invés do tradicional Football (Full Pad)?

Luiz Khaled: Ah… Por exemplo, assim: o full pad tem muitas coisas restritas aí: exige mais tempo de treino, exige mais resistência. Porque é muito contato, é contato o jogo inteiro e é contato brutal. Então, por exemplo, pra mim que tenho 18 anos e estudo e trabalho, imagine se eu me machuco, entendeu? É mais isso… O Flag é a mesma coisa, só que não tem o tackle que é aqueles contatos, de resto, dentro das 5 jardas ou em 5 jardas da bola você pode bater no cara à vontade no peito.

BJE: Como funcionam os treinos e os campeonatos no Tatuapé? Quais os horários e a exigência fisica?

Luiz Khaled: Os treinos aqui funcionam às duas, das duas às cinco, na maioria das vezes. A gente sempre chega antes, se prepara pra começar às duas horas em ponto o treino. Aí a gente faz um aquecimento simples aí depois a gente vai pro suicídio que a gente corre o campo, vai de uma a cem jardas no pique, aí volta trotando. Aí depois de uma jarda às noventa jardas vai no pique e volta trotando aí vai isso até a linha acabar. Por exemplo, se a gente fez todo o percurso e a linha ainda não acabou a gente começa de novo. Os treinos são só aos sábados. Em casos específicos, como agora, que a gente vai jogar contra o Corinthians. Eles estão treinando dois dias: sábado e domingo. Então o que a gente vai fazer: vamos treinar hoje (sábado), vamos descansar amanhã, vamos voltar na quarta-feira que é feriado, vamos treinar de manhã, treinar à tarde. E sábado que vem vai ser um treino tranquilo. Fora isso, é só sábado os treinos. Tinha uma parceria entre o Black Panthers, o Osasco Soldiers e o Strongbears, que era Full Pad em Quitaúna, mas parece que não tem mais essa aliança. E exige muito fisicamente os treinos, principalmente quando é muito intenso. Tudo bem que têm algumas jogadas paradas, mas de resto é muito intenso. É muito pique que você dá. É cansativo, mas vale muito a pena.

BJE: Você acompanha os campeonatos nos clubes e seleções do esporte no Brasil e mundo afora? Como você vê o crescimento do Flag nos últimos anos?

Luiz Khaled: Do crescimento desse esporte no Brasil eu não conheço muito. É porque assim: o Flag é uma categoria abaixo do Full Pad. Aqui no Brasil o Full Pad já não é muito valorizado, imagine o Flag então… Mas existe, existe a liga de futebol americano no Brasil e tudo o mais

BJE: Como você crê que se desenvolverá o Flag Football nos próximos anos aqui no Brasil e no mundo?

Luiz Khaled: Bem, tomara! Tomara que um dia pudesse ter essa evolução porque é um esporte muito gostoso de jogar. Porque pra quem gosta de futebol americano e não quer ter exatamente contato, poder se machucar… Porque aqui no Brasil aonde você vai ter uma assistência médica pra isso? Não existe. Num clube que é licenciado, praticamente não vai ter nenhum clube para ser licenciado no Brasil porque não tem exatamente esse avanço na medicina. Então o Flag é uma maravilha, cara!

BJE: Para quem deseja aprender o Flag Football, como você sugere que ela pode começar a praticá-lo?

Luiz Khaled: Primeiramente tem que gostar de futebol americano. Saber, ter em mente as regras, porque as regras são fundamentais, saber as funções dos jogadores, saber as posições, saber o que cada um faz, entender um pouquinho, no ataque, entender um pouco sobre rotas. A parte da defesa, entender mais o lado do QB, o que que o QB faz. A defesa joga, quase que praticamente, em função do QB. O que o QB vai fazer: ou ele vai correr ou vai dar pro running back ou ele vai, entendeu? A defesa praticamente tem que pensar junto com o quarterback. E aqui no Black Panthers a gente tem seletivas no começo do ano e no meio do ano. A gente divulga no nosso Instagram, que é Tatuapé Black Panthers. A gente divulga no Facebook também. Twitter eu não sei se o time tem, mas acho que não tem não. Mas a gente sempre divulga. Quem quiser participar, pode vir. Não tem, vamos dizer assim, restrição física. Qualquer um pode jogar, só basta ter força de vontade e gostar de futebol americano

BJE: Tá certo. Obrigado!

E-mail para contato: pedro.sousa.silva@usp.br