Ester Samara, a radialista que encanta Piraju

Por Wálace de Jesus

Diferente de uma infância típica do interior de Piraju, Ester Samara Rodrigues foi uma criança tímida, que gostava de brincar sozinha e ficar dentro de casa. Cresceu ao lado de seu pai, sua mãe, suas quatro irmãs, uma televisão, um rádio e bons livros. Dividia escola e trabalho ainda pequena, tanto que começou a trabalhar como secretária de uma psicóloga, ainda com 13 anos, e com o passar do tempo foi descobrindo sua vocação para a comunicação social, especificamente como radialista. Agora, aos 31 anos de idade, a pirajuense Ester tem seu próprio programa na rádio Piratininga, o Manhã 96, alegrando o dia a dia dos seus ouvintes de Piraju e região. 

Ester diante da mesa de som da rádio Piratininga de Piraju, onde começou a trabalhar ao lado do pai, Nelson Rodrigues, mais conhecido como Casquinha [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara Rodrigues]

Influência paterna, psicologia e reviravoltas

Por influência do pai, Nelson Rodrigues ou “Casquinha”, o rádio sempre esteve muito presente em sua vida. “Meu pai levantava às quatro horas da madrugada para sintonizar o rádio e acordava a família inteira com sertanejão”, relatou. Porém, como ainda era criança, não gostava muito de acordar cedo. Foi durante a adolescência que o rádio começou a chamar mais sua atenção, ainda sem muita efetividade. “Eu passei a gostar do rádio antes mesmo de começar a trabalhar, escutando os principais comunicadores da época na rádio Piratininga”, revelou.  

Ester ao lado de seu pai, Nelson, quando estava começando sua trajetória no rádio em 2009. [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara Rodrigues]

A passagem pela clínica de psicologia ajudou na escolha da atual profissão, especialmente em decorrência do contato com o público. “Foi aí que eu comecei a desenvolver minha comunicação e percebi que eu tinha um dom de conversar com as pessoas”, descreveu. 

Outra experiência que contribuiu para sua descoberta como comunicadora foi na área de finanças. Foi trabalhando com vendas e conversando com clientes que ela deixou a timidez um pouco de lado. “Mas eu ainda sou tímida”, brincou. 

Sempre muito atenciosa e carismática, conquistava todos que a procuravam para um bate-papo. Então, a vontade de ser psicóloga surgiu dessa capacidade de escutar e conversar com o outro, e do incentivo das irmãs também. Todavia, um desfalque na equipe da rádio onde o pai de Ester trabalhava mudaria a trajetória dela.

Trajetória na rádio Piratininga FM 96,3 MHz

Ester trabalha atualmente na Rádio Piratininga FM 96,3 MHz, que iniciou suas atividades em 1960. A rádio é uma das mais tradicionais do sudoeste paulista, onde está localizada a Estância Turística de Piraju, e foi nela que teve seu primeiro contato com o radialismo. Ela começou sua jornada no rádio ao lado do pai, o Casquinha, que apresentava o Risadão Sertanejo.

Casquinha, pai de Ester, é colaborador, humorista e locutor do Risadão Sertanejo na rádio Piratininga. [Imagem: Divulgação/ Rádio Piratininga]

Certa vez, uma funcionária da equipe estava grávida e precisou se afastar do trabalho. Como era a responsável pela técnica do programa, foi preciso encontrar uma pessoa urgente para substituí-la. E foi assim que a oportunidade surgiu.

Logo quando chegou no rádio já teve que mexer com a mesa de som. Sem nenhuma experiência na área, Ester foi treinada durante dois dias. Ela ouvia e via como fazia em um momento e depois replicava sozinha. “Eu fiz tudo errado, mas fiz e fui aprendendo”, revelou. 

Inicialmente, Ester era responsável por fazer a técnica do programa do pai e com o passar do tempo foi anunciando as horas, atendendo os pedidos dos ouvintes e participando ao vivo. “As pessoas começaram a gostar de mim e da minha participação, então ajudei meu pai e fiquei nessa função durante três anos”, descreveu.

Nesse período, Ester ainda trabalhava na financeira e quando seu pai não podia, ela apresentava o programa da rádio sozinha, ainda de forma amadora com o que tinha aprendido durante essa jornada. Tempo depois, a rádio foi vendida e um dos programas que era apresentado na manhã ficou sem locutor. Foi com o esforço, as participações no programa do pai, a experiência adquirida ao longo do tempo e todo o carisma que a fez receber o convite para apresentá-lo: “Eu não sabia que iria assumir um programa de três hora de duração e, então, pedi demissão da financeira para trabalhar só com o rádio”, revelou. E as pessoas que antes eram seus clientes na financeira, passaram a ser ouvintes da rádio.

Ester ao lado de seu pai, no estúdio da rádio [Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal/Ester Samara]

O gosto pela radiocomunicação começou a aflorar. Ester diz que na época ainda se sentia muito “crua” e despreparada para o rádio, mas que foi o estopim para buscar se profissionalizar na área. “Foi quando encontrei o curso do SENAC de radialismo”. Ela se profissionalizou na área e percebeu que muitas de suas percepções sobre a profissão estavam erradas. “O primeiro dia ao vivo eu estava tremendo dos pés à cabeça”, disse quando assumiu o programa. Ela também revelou que pretende entrar no curso de comunicação social – radialismo.

A radialista pirajuense se formou no curso de radialismo setor locução do SENAC de Bauru em 2015. [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara]

Para Ester, o primeiro dia apresentando o programa foi muito difícil, mas também muito especial. “Eu tinha que atender o público ao vivo e logo na segunda ligação uma mulher ligou perguntando o que eu estava fazendo no lugar da outra locutora; precisei ter jogo de cintura”, explicou. 

Também foi neste dia quando a ouvinte Ana Maria de Jesus Teles entrou na vida de Ester. Durante a última ligação do programa, a ouvinte fez questão de recebê-la de “ouvidos” abertos. “Ela me deu o maior apoio e é minha ouvinte até hoje. Ela me acompanha desde o primeiro dia que a mulher me xingou até hoje”, relatou Ester.

Ana é aposentada e tem 67 anos. É natural de Suzano, mas mora na vizinha cidade de Timburi há 12 anos e acompanha a rádio Piratiniga desde então. A ouvinte disse que acompanhou toda a evolução de Ester na rádio. “A gente ouvia à noite o programa do Casquinha, que é o pai da Ester, e de vez em quando ela participava”, revelou. Ela também disse que a evolução da Ester na rádio foi gradativa e que, quando percebeu, ela já estava à frente do antigo programa Manhã 680. “A partir daí eu passei a acompanhá-la porque ela passou a ser não só uma radialista, mas uma companheira do dia a dia, uma amiga”, complementou.

Na foto, Ana recebe um brinde da rádio. Ela acompanha Ester desde quando ela fazia pequenas participações no programa do pai até agora, locutora do próprio programa matinal: o Manhã 96. [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara Rodrigues]

Manhã 96: comunicadora e amiga dos ouvintes 

Atualmente, o nome do programa é Manhã 96 e é apresentado de segunda à sexta por Ester das nove horas da manhã ao meio dia. A história do programa começa junto a fundação da rádio Piratininga. Ester está à frente do programa há 12 anos e esteve presente na mudança de frequência da rádio de AM para FM em 2018, assim como na mudança do nome do seu programa, que passou de Manhã 680 para Manhã 96. “Eu dei minha característica para o programa”, relatou. 

Ester também explica que o programa Manhã 96 é voltado para o entretenimento musical e que tem como público geral a família. “Eu sou a amiga do horário: eu chego para fazer companhia e colocar um sorriso no rosto de alguém”, ressaltou. Ela também lembra que, em muitos momentos difíceis, teve que entrar ao vivo e apresentar o programa, e que o carinho dos ouvintes sempre a motivou nesses dias complicados. “Uma vez uma senhora ligou e disse que estava me esperando para ouvir minha voz e melhorar o dia dela”, disse. 

Além de locutora do programa, Ester também é a programadora da Rádio e participa na produção do Jornal Rotativa no Ar, também da rádio Piratininga. “Eu faço a técnica do jornal que começa meio dia e vai até às 13h30”, acrescentou. 

Ester observa que ser radialista é estar aberto de coração para o público e que trabalhar com comunicação é não saber como suas palavras vão impactar as pessoas, que elas podem mudar a vida de alguém. “No programa da Ester eu encontro bons exemplos, bons conselhos, boa música, bom entretenimento. Um programa de família completo”, disse Ana sobre o programa Manhã 96.

Na foto estão Ester (radialista), Estela, do lado esquerdo, que já foi locutora da rádio, e a empresária e presidente da APAE de Piraju, Elza Scott.À direita estão dois ouvintes que foram premiados. [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara Rodrigues]

Trabalhar com rádio é repetição, mas a dinâmica de proximidade com os ouvintes de Piraju e região sempre inovam o programa. Ester relata que durante o seu programa há dois tópicos principais: o lema do dia e a mensagem reflexão. “Geralmente, o lema é sobre temas construtivos, como amor próprio e responsabilidade coletiva. A mensagem reflexão é crucial para os ouvintes porque muitos relatam como ela é inspiradora para o dia deles”, explica. 

Ester revela que sempre tenta manter o conteúdo do programa saudável para contemplar todos os públicos e, em especial, para as crianças que também a acompanham. “Tudo que a gente consome influência nas nossas vidas e é, por isso, que construo esse ambiente coletivo no programa”, completa. Ana também reforça a profissional que Ester se tornou e que foi isso que a fez gostar cada vez mais dela. “Ela é impecável”, elogiou Ana.

Rádio, pandemia e ouvintes 

Para manter a rádio e todos os programas no ar, Ester se disponibilizou a frequentar a emissora durante a pandemia enquanto todos estavam em casa. Como não era grupo de risco e ficava sozinha no local da rádio, Ester passou a planejar os programas e a receber os materiais produzidos em casa por seus colegas de trabalho. “No período da pandemia tive que alimentar 24 horas de programação da rádio”, revelou. Ela também relata que muitas vezes teve medo e crises de ansiedade enquanto tinha essas longas jornadas, tanto porque o vírus ainda era cercado de incertezas quanto por conta da pressão sobre ela para manter a programação da rádio. “A gente fala para milhares de pessoas, mas continua sozinha no estúdio. Foi muito angustiante fazer toda a programação da rádio e estar sozinha”, complementou.

Apesar de toda a pressão e estresse associado ao trabalho exaustivo que Ester estava fazendo, ela também destaca que a relação com os ouvintes ficou ainda melhor. “A gente percebeu que ouvintes que participavam às vezes passaram a interagir todos os dias e que os filhos de alguns passaram a participar ativamente do programa”.

Ester trabalhando na rádio piratininga de máscara. Ela disse que sua maior preocupação sempre foi seus familiares, mas que tomou todos os devidos cuidados sanitários para evitar a infecção pelo coronavírus. [Imagem: Reprodução/ Acervo pessoal/ Ester Samara Rodrigues]

Wálace de Jesus é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

3 thoughts on “Ester Samara, a radialista que encanta Piraju

  • 7 de junho de 2021 em 20:25
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    Parabéns à Ester! Sou fã! Ela me inspira sempre!!!

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  • 8 de junho de 2021 em 08:25
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    Deixo aqui os meus parabéns à Ester, essa excelente comunicadora que admiro muito e que tive a oportunidade conhecer ao apresentar o Programa “Bom dia Jesus” na Rádio Piratininga. A reportagem acima apresenta uma linda história e trajetória da nossa querida e amiga Ester Samara. Ela encanta todos os ouvintes e colegas com seu carisma e profissionalismo. Que Deus a abençoe e ilumine sempre!

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  • 19 de outubro de 2021 em 15:10
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    Parabens Ester.Sinto muito orgulho por ter a oportunidade de trabalhar contigo por algum tempo. Você e guerreira. Aproveito para agradecer o que aprendi com esta grande colega de trabalho. Parabens

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