Julio Antonio Pinto: o amor pelo rádio e por Piraju

Por Luísa Hirata

Julio Antonio Pinto é natural de São Paulo, mas, quando o pai, Sebastião Lázaro Pinto, conseguiu se aposentar, em 1987, a família, composta também pela mãe, Suerli de Jesus Pinto, e a irmã, Elizabete Beatriz Pinto, se mudou para Piraju, para onde antes tinham se mudado seus avós. Todavia, a relação de amor com a cidade começou com a carreira na rádio. 

A escolha por esse meio veio em parte do gosto pelo som desde os tempos de menino. Porém, o que o fez entrar na Rádio Paranapanema, onde trabalhou por sete anos, foi o amigo e locutor Fernandinho que o convidou a aprender a operar rádio. “Você não quer ajudar a gente lá, fazendo a folga dos operadores de áudio?”, relembra ele sobre o pedido. “Nessa brincadeira,” ele diz, “eu não saí mais”. 

Piraju como base para São Paulo

Essa experiência em Piraju rendeu a Julio grande parte de seu conhecimento em sonoplastia. “O interior me proporcionou quase tudo que eu sou nesse aspecto de trabalhar na área de rádio, em especial rádio no jornalismo”, afirma, destacando que, como no interior as equipes de trabalho são menores, ele aprendeu várias funções do meio. “Você pode fazer tudo dentro da rádio; foi isso que me qualificou pra, anos depois, quando eu voltei pra São Paulo, arrumar um emprego na área. Foi assim que adquiri minha carreira sólida no meio da Comunicação.”

Ele faz um elogio aos pirajuenses que definiram as bases técnicas de sua trajetória. “[São] Muitos profissionais, que ensinaram muito, e não deixam a desejar em relação aos profissionais de grandes veículos de comunicação. [Piraju foi] Uma grande escola pra mim.”

Em 1998, o sonoplasta voltou para São Paulo e passou a trabalhar, especialmente com o Jornalismo, no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), onde ele está até hoje como gestor de 49 laboratórios práticos, que vão além da área da Comunicação.

Julio Antonio Pinto comenta sobre os preconceitos que existem em relação às cidades do interior quanto às oportunidades de educação e desenvolvimento que elas podem oferecer. “Pra mim foi ao contrário: foi lá [em Piraju] que eu criei a minha conduta profissional e o aprendizado pra que eu desempenhasse um papel importante em São Paulo.”

Sobre as novas tecnologias, ele afirma que as técnicas já usadas em Piraju ainda não eram aplicadas na faculdade, por exemplo. “Eu já trabalhava com o digital lá na rádio [Paranapanema], e, quando entrei na FMU, eu tive que trabalhar com o analógico, com rolos e até fitas cassetes. Então, a minha experiência estava à frente do que estava sendo exigido na universidade.”

Julio em frente à sede da Rede Globo [Arquivo Pessoal]

Julio atribui a essa bagagem de Piraju a razão de seu sucesso, tendo sido ele o responsável pelas inovações tecnológicas aplicadas na universidade.

O empresário José Luiz Leal de Oliveira sente um grande orgulho pelas conquistas do amigo. “Munido de uma enorme vontade de trabalhar e uma capacidade ainda maior, e com bons amigos, o destino logo começou a lhe abrir as portas. Ele foi aproveitando cada oportunidade com sabedoria, e se tornou um profissional que sempre aceita os desafios que vão aparecendo”, descreve José. 

Durante a pandemia do coronavírus, Julio vem atuando na produção das transmissões ao vivo, de congressos a formaturas, que exercem o mesmo papel da televisão a partir de estruturas semelhantes. Ele está atento às novas possibilidades de produções midiáticas com as entrevistas remotas, como a que foi feita para esta reportagem. Além disso, também acompanha o desenvolvimento de outras tecnologias, que ganharam espaço com o isolamento social e dão acesso a pessoas de todo o mundo, dos mais variados níveis de notoriedade.

Áudio x imagem

Julio acredita, como profissional apaixonado pelo rádio, apesar de o rádio com imagem já existir, e a tendência ser de que ganhe mais espaço, o formato tradicional se manterá. “Ele nunca vai deixar de ter ouvinte. Perguntar se ‘o rádio vai acabar?’ não [é algo que] procede e nunca vai proceder, porque o rádio é informação rápida. A imagem passa a ser um apoio somente”, argumenta.

“Enquanto o rádio tiver essa eficiência de [quando] ‘aconteceu’ eu poder narrar, não tem veículo que o bata”, continua ele, citando exemplos práticos da utilidade do meio, como o acesso à informação sobre o trânsito ao vivo, que, sem imagens, permite ao motorista continuar dirigindo sem perder o foco.

Citando o locutor Gil Gomes, Julio diz que “o vídeo impressiona, mas só o áudio emociona. Se você linkar esse áudio para uma situação e uma imagem adequada, você vai arrepiar, [com] sensações que só o áudio consegue passar”, especialmente a partir da sonoplastia.

Retorno

Para a aposentadoria, Julio quer voltar a Piraju. Junto com um sócio, ele pretende comprar um veículo de rádio e passar seus ensinamentos para as próximas gerações, como fizeram os pirajuenses com ele quando era mais novo. “Quero ser lembrado como um fomentador da educação, uma pessoa que quer trocar experiências”, afirma, apontando que, nesses 25 anos trabalhando com educação, ele poderia ter ganhado dinheiro, mas “eu escolhi fazer o que amo”.

Ele faz um elogio especial ao professor doutor e coordenador do projeto USP Municípios em Piraju, Luciano Maluly, por suas pesquisas acadêmicas em rádio e seus incentivos aos apaixonados pelo meio, “que vão levá-lo até o final da vida”, ele diz, incluindo-se nesse grupo. “Rádio é meu amor”.

Mensagem aos pirajuenses

Julio Antonio Pinto guarda um grande carinho pela cidade e pela generosidade de seus habitantes. “Mesmo eu não nascendo em Piraju, eu me coloco na posição de pirajuense. Piraju nunca vai sair do meu coração”.

Para o povo pirajuense, ele pede que continuem se cuidando e também oferece condolências àqueles que perderam entes queridos para a covid-19. “Nosso eterno pesar, e espero que a gente volte e comemore o fim dessa doença, que deixou todo mundo desordenado, mas que vai passar.”

“Deem valor à cidade de Piraju, uma cidade grande, plural, que tem muito a oferecer”, continua ele, destacando a qualidade de vida única de Piraju se comparada com a de outras cidades. “A gente que mora em grandes centros sabe muito bem o que é não ter qualidade de vida. Você só trabalha e consome, você não tem tempo de diversão”, o que explica a vontade de Julio em voltar a trabalhar em Piraju – por prazer.

“Piraju é uma cidade pujante, que vem se renovando com pessoas novas, mesclando o conhecimento tradicional das pessoas que vivem lá há anos somadas às que viveram fora, trazendo de volta pra cidade educação e cultura”,  e depois completa.

“Amem essa cidade porque poucas são iguais”, finaliza Julio.

Luísa Hirata é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

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