Eremita

Há dois meses não ligo televisão, não compro jornais, não leio revistas. Só me permito alguma olhadela mixuruca cá nesta rede e uma leve sintonia na Rádio Inconfidência. Descobri então que posso sentar-me à varanda, no segundo andar de onde habito, e depois de colocar a cabeça em ordem, fabricar a minha própria notícia. Apenas para registro informo que a minha sacada é para o poente. E o poente daqui é majestoso.

A primeira notícia que coube neste meu jornal de entardecer, voava tão elegantemente que ganhou méritos de manchete. Agora sei de uma Garça Branca a qual vive logo abaixo, no ribeirão Boa Vista. Diariamente, por volta das dezenove horas ela alça voo e deita-se no tronco da árvore mais alta. Amiúde disputa pacificamente com alguns Biguás pelo direito ao galho mais confortável. Depois se aconchega.

Lá pelas vinte e duas, chega o trem das estrelas, um jato que passa por entre o planeta Marte e a constelação do Cruzeiro. Pisca como vaga-lume e depois desaparece na curvatura da montanha. Quando garoto era bom ver o trem dos passageiros, o qual trazia novidades de São Paulo para a cidade da minha infância. Dos olhinhos da criança saltavam duas jabuticabas para viagem. Ainda que fugaz, era bom saber de tanta novidade escrita no terno dos homens e chapéu das suas namoradas. Há um vão na memória, há um vão na rota desse trem que liga São Paulo a Curitiba. E isso chegou como segunda notícia.

Quer saber, estou gostando de alimentar meu olhar com notícias caseiras, dessas que você mesmo faz. É como puxar assunto e contar um causo. Tente, beba da tua fonte, se ligue na tua própria notícia!

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