Os ensinamentos inspiradores do professor Celso Luiz Junior
Por Karolina Monte *
A educação muda vidas. Paulo Freire, maior nome da filosofia da educação no país, possui uma célebre frase: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Um grande exemplo disso é Celso Luiz Junior, pirajuense de nascença que saiu de casa para realizar o sonho de lecionar.
Professor adjunto do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Celso revela seu ponto de vista sobre a importância que a educação pública possui não somente para sua formação como indivíduo, mas para a sociedade como um todo.
A história de Celso começa em Piraju, onde fez todo o ensino fundamental na Escola Estadual Ataliba Leonel. Morou na cidade até os 14 anos, mas voltou aos 16, junto dos pais, e terminou os estudos até os 18 anos. E não dispensa elogios para o tempo que passou na instituição e os momentos vividos com amigos e colegas, com quem criou memórias calorosas da infância andando de bicicleta, brincando e nadando às margens do rio Paranapanema e indo aos bailes no Iate Clube e blocos de carnaval da cidade.
O caminho até se tornar docente
Em 1998, aos 18 anos, por meio de um incentivo do Estado de São Paulo que concedia vagas de licenciatura para jovens de destaque durante a carreira estudantil, Celso entrou para a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), onde cursou Ciências Sociais apenas por um ano. O desejo maior de Celso não era de se tornar cientista social: “eu gostava da ideia de ser professor. Na minha família, ninguém era professor, mas eu queria ser. Gostava do desempenho e do ambiente da escola. Eu sempre gostei de escola e ainda gosto”.
Celso foi aprovado para o curso de História na Universidade Estadual de Maringá (UEM), no estado do Paraná, logo no ano seguinte, onde cursou dois anos. Sem grandes vontades de ser professor de história, matriculou-se em mais um curso, dessa vez no de Geografia. Entretanto, decidiu por voltar ao curso de História para terminar a graduação.
Nele, Celso entrou em um projeto de pedagogia na área de didática, com foco nas políticas educacionais, no ensino da aprendizagem e da educação, e eis que encontrou sua vocação. “Aí eu me encontrei! Eu falei ‘ah é isso que eu quero ser então, quero estudar a educação mesmo […], eu quero ser professor, mas não de uma matéria específica’”. Graduou-se no curso de História e logo em seguida foi aprovado para dois mestrados, escolhendo o focado em Educação na mesma Universidade.
Aos vinte e cinco anos, tendo concluído seu mestrado, Celso tornou-se professor do ensino superior, e dava aula em duas faculdades de Maringá. Anos depois, foi aprovado na seletiva para professor colaborador da Universidade Estadual de Londrina em um cargo de dois anos, mas que se estendeu; Celso leciona até hoje na Universidade, onde ministra o curso de História da Educação. “Eu dou aula de história da educação brasileira, como se deram os processos da escola no Brasil. Dou aula nos cursos de Pedagogia, mas também trabalhei com diversas licenciaturas, sempre no campo da educação”.
As dificuldades durante o processo
Celso também relata as dificuldades para chegar até o desejado cargo de professor. “Trabalhar e estudar ao mesmo tempo, isso é difícil. Não é fácil. É o que eu sempre converso com meus alunos. Se deu certo pra mim, vai dar certo pra vocês porque, pra mim, tinha tudo pra dar errado. Nasci pobre na cidade do interior que não tinha nada de acesso. Ninguém da minha família era professor, ninguém estudou e foi difícil, e é difícil. Vai dar certo pra vocês, eu sempre falo isso pros meus estudantes, meus alunos.”
[O] Incentivo que eu dou é não desistir, sabe? A gente tem que ser insistente. Tem que ser [insistente] é isso, tem que insistir naquilo que você quer mesmo e tentar várias vezes, levar muito não. […] Enquanto eu estudava, eu trabalhava com tudo quanto é coisa. Trabalhei de pesquisador de mercado, que ficava lá no mercado pesquisando pra saber o que as pessoas gostam de comer, gostam de beber. Trabalhei até de atendente de videolocadora, uma coisa que não existe mais. E tinha que usar internet na universidade. Não tinha computador, tinha que usar computador na universidade, então vamos dizer que o acesso à [educação] pública me fez conseguir isso. Eu estudava muito em biblioteca. Não tinha nem grana pra Xerox, eu pegava o livro mesmo, na biblioteca, e estudava lá. Mas hoje está muito mais fácil.
O incentivo para os jovens
Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), com bolsa conquistada no CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Celso, que sempre batalhou pelo seu caminho dentro da educação brasileira, é um ferrenho defensor dos serviços públicos, sobretudo da educação, e a importância do ensino público dentro da permanência dos jovens nos estudos. Ressalta que o papel da escola vai além do ensino intelectual, e que “a escola não é e não pode ser olhada como um um elemento de mercado, de ascensão financeira, porque de fato não é”.
“Hoje, estudar não é uma garantia mais de trabalho. Então, você tem que estudar e tem que pensar para além disso. Porque hoje a escola não tem mais o papel também de ensinar os conteúdos, […] ela deve ser encarada enquanto um espaço de crescimento, de maturidade da pessoa. [A escola] te melhora enquanto cidadão, enquanto pessoa, enquanto ser humano. A vida é muito maior do que o trabalho. Trabalho é só uma dimensão da vida. Então, [é importante] entender que a escola e a universidade vão proporcionar isso pra você”.
Ao final, Celso deixa um recado importante para a sociedade e o governo brasileiro, no qual reforça o papel da educação pública, também como de outros serviços, para uma efetiva evolução social: “estar na escola pública te coloca em contato com realidades diferentes, faz a gente se ver enquanto povo diferente. Nós estamos aí, uma sociedade muito múltipla, muito variada […]. A diversidade é muito grande. E a escola pública te coloca dentro disso”.
Frisa o papel do Estado em garantir saúde, educação, segurança, moradia e justiça para toda a população, que, por ser o mínimo necessário, deve ser assegurado a todo e qualquer cidadão, para que assim nossa sociedade possa mudar e se transformar para melhor, como pregava Paulo Freire. As instituições privadas “têm que ser a opção, e não a falta dela”.
Karolina Monte é bolsista e repórter do Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II do Programa USP MUNICÍPIOS