Laguinho da praça da Matriz: o Taj Mahal pirajuense – PARTE 2

Por Leonardo Corey Belleza

Se você, caro leitor, está aqui novamente, provavelmente, ficou curioso para saber como realmente se finda a história de amor que perdura há décadas pela cidade. Como ponto de partida, arrisco-me a dizer que Diva do Val Golfieri, a melhor amiga de Adélia Ferreira, também foi um verdadeiro mistério. 

Devido à diferença de gerações e, com isso, os diferentes valores, protegeu o segredo a sete chaves, nunca revelando a localização exata da casa onde a amiga morava e, muito menos, seu nome. 

Geralda Judica, contadora aposentada, responsável por esta versão, e o jornalista Theo Motta foram privilegiados por ouvirem pessoalmente da única testemunha que estava viva sobre o caso, mesmo sem muitas especificidades. Dona Diva, como era carinhosamente conhecida, faleceu em 2018, sem revelar maiores detalhes, provando a sua lealdade à amiga e ao compromisso com ela e sua história de vida. 

Na época em que ocorreu a história de amor, Adélia, filha de Carlos Ferreira e Thereza, tinha 17 anos, mancava e usava uma bengala como apoio. A protagonista da história tinha uma deficiência física, suas pernas não eram do mesmo tamanho e usava prótese na sola do pé.

O pedido

Diva do Val  tinha por volta de 10 anos de idade, mas um adendo importante é que não se recordava o nome corretamente do rapaz por quem Adélia se apaixonou, se era Lusouza, Lustrousa, Luiz de Sousa ou Lustosa. 

O rapaz ficou perdidamente apaixonado desde o momento em que seus olhares se cruzaram pela primeira vez. 

Adélia adorava brincar na companhia de Diva, porque sempre arrumavam seus cabelos e juntas saiam passear. E, nesse trajeto, elas se esbarravam com Lustosa próximo ao Cine Central. 

Entretanto, Carlos Ferreira, pai de Adélia, começou a desconfiar e a achá-la diferente do que estava acostumado a ver. Por causa disso, em um determinado dia, foi atrás dela e a viu conversando com Lustosa. Ficou muito bravo com a filha, proibindo-a de sair de casa.

O engenheiro, Lustosa, tomou a liberdade e foi até à casa de Carlos para conversar e pedir a mão de Adélia. Porém, Ferreira mal ouviu o jovem apaixonado e as suas intenções, o interrompendo e acusando de não ter verdadeiros sentimentos por sua filha e só estava interessado em seu dinheiro. Novamente tentou se explicar de incontáveis maneiras, mas foi mandado imediatamente embora da casa.

No dia seguinte, Lustosa, se é que podemos chamá-lo assim, viu Adélia graciosamente arrumada, mas com um olhar triste e infeliz, indo embora para o convento. 

Taj Mahal pirajuense

No lugar onde ficavam trocando olhares e flertando perdidamente apaixonados, ele construiu o laguinho em forma de coração e ao seu redor plantou uma árvore juntamente com a flor que sua amada mais gostava. O coração humano de pedra representava como se sentia, pela partida de Adélia e que estava fechado para o amor, como símbolo de que iria aguardar o retorno do grande amor da sua vida. 

A primeira vez de sua volta, Diva já estava com 14 anos na época e acompanhou Adélia a um passeio. No lago, ele estava a esperando com um grandioso e lindo buquê de flores, as suas preferidas. Ali, Lustosa prometeu amar e esperar por Adélia para sempre. Carlos Ferreira, vendo isso, a mandou de volta e não a deixou retornar mais por um longo período de tempo. 

Sem sinais do retorno da amada, Lustosa tornou-se alcoólatra e se encontrou em uma profunda tristeza. Por muito tempo, ninguém ouviu falar dele – período em que Dona Diva perdeu contato com o rapaz e nunca mais se encontraram. 

O romance durou de 4 a 5 anos, desde o primeiro dia que se viram até o término sem possibilidade alguma de dar certo.

Adélia estudou e foi uma excelente professora, mas nunca se casou, e ia ao laguinho todos os dias regar as flores e a árvore, que representava o grande amor de sua vida. 

Interpretações do amor

Contudo, há algumas divergências, como em uma conversa com Luciana Matielo, sobrinha-neta de Adélia, que contou o pouco que se recorda e ouviu. Adélia teve paralisia infantil e, por isso, usava uma bota diferente e, às vezes, um apoio. Além disso, sua família tinha um cartório, onde a moça trabalhava. Os seus familiares não queriam que ela se casasse, independentemente com quem fosse, seja ele Lustosa ou o filho do ex-presidente dos Estados Unidos. Houve boatos que, segundo Luciana, o caso de amor poderia ter ocorrido entre Adélia e Kermit Roosevelt (filho de Theodore Roosevelt, 26º presidente dos Estados Unidos), engenheiro que construiu a ponte de ferro em Piraju na época.

No entanto, caros leitores, foi encontrada uma nota oficial da Prefeitura Municipal de Piraju, datada em 23 de fevereiro de 1929, que remete a Lustosa para exercer o cargo de “encarregado de obras públicas municipais”. 

Portanto, o que podemos concluir sobre o envolvente caso de amor ao redor do laguinho, localizado na Praça da Matriz, é o romantismo da época e como as relações ocorriam. A história supõe o grande amor que Lustosa, que realmente existiu, sentia por Adélia, expresso por meio da construção de um lago no centro da cidade, em formato de coração humano, apontando para a janela da casa da sua grande paixão. 

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Curta-metragem

Curta-metragem inspirado na história do laguinho de Piraju, produzido por Christiano Aro, com a participação de Geralda Judica

Agradecimento especial a Isabella Marin Silva, Theo Motta, Geralda Judica e Magaly Lisboa, que possibilitaram a realização desta matéria, uma história romântica e tradicional da cidade de Piraju.

Leonardo Corey Belleza é bolsista e repórter do Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II do Programa USP MUNICÍPIOS

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