AO PONTO
aqui donde vos falo
nas confluências de um major mariano
com a mercadante sobrinho
um ponto do hemisfério que eu chamo:
esquina
tudo que sei pousa, faz ninho e voa.
céus, sonhos, sons, sombras,
as lamparinas do tempo
fazem-me presente neste facho de luz
em órbitas cruzadas em cruz
aqui sei das ruas
dos homens com seus sapatos transeuntes
aqui, como em qualquer outra esquina,
tudo é igual
só o que muda é o “meu” ponto de vista
todas as sabedorias me convergem
ao sabor do vento
de sol a sol, na cela lúcida,
do meu pensamento
quando chove a água lava os paralelepípedos
com um frescor de rios
logo, os pássaros estão por cá,
à caça do seu dia a dia
insetos contam-me peripécias com as suas antenas
e aquecem minhas válvulas
de sensações celestiais
dilatam os meus olhos em mil
onde cada poro de suor é um olhar
aceso balbucio frases de cigarras à ventania
e por todas as cascas dos jardins
desatam respostas em ecos
sou bem recebido na tribo das árvores
bebo o chá fumegante das suas telepatias
e sento-me em paz para ouvir seus cânticos milenares
a vida pulsa nas raízes que acariciam meus pés
as folhas beijam meus cabelos
e excitam a minha viagem
ao ponto, ao centro
à cidade que eu invento