AS CANÇÕES QUE MUDARAM O MUNDO
Faz tempo que o mundo não é envolvido por uma única canção. Como mudou a maneira de se ouvir música, mudaram também os parâmetros do que antes se costumava chamar de “sucesso”, que hoje é medido pelas plataformas musicais. Hits hoje são definidos pelo Spotify e seus congêneres.
Ouve-se muita música, hoje em dia, pelo celular. Pessoas com fones de ouvido com os fios balançando (ou não, se forem sem os dito cujos) já se tornaram um clichê. Há não muito tempo atrás, ouvia-se música em alto e bom som naqueles Sony pretos com um monte de coisas empilhadas uma em cima da outra: toca-discos, amplificador, toca-fita, caixas e o diabo a quatro: era o sonho de consumo de toda uma geração. Custava os olhos da cara e apenas alguns poucos iniciados, endinheirados, tinham. Os remediados tinham que contentar-se com os Gradientes da vida, uma porcaria cujo som fraquinho dava até raiva.
Bem, a Sony saiu do mercado engolida pela Aiwa e a Gradiente, felizmente, desapareceu de vez. Nesses bons tempos, quando ainda se ouvia música em volume bem alto, canções às vezes se tornavam hinos planetários e dominavam o mundo. Me lembro de algumas, que chegaram nessa privilegiada posição. Por exemplo, “Hey Jude” dos Beatles ficou em Primeiro Lugar em TODOS os países do mundo por um bom bocado de tempo. Então, lá por 1965 foi uma das primeiras canções pop a durar mais de seis minutos (na época, a média era de 2 a 3 minutos) e carregou o seu refrão inesquecível, o “lálálálálá hey Jude” para todos os rincões do planeta, da pequenina Islândia, passando pela Europa até chegar a Patagônia. John, George, Paul e Ringo não ficaram mais ricos com “Hey Jude” mas deram o pontapé inicial para que as músicas pop se tornassem mais longas.
“The Winner Takes It All” do ABBA foi outra a dominar o mundo: da Suécia para o planeta, poderia ser o slogan de sua propaganda. Mas nem precisou, já que o quarteto sueco, à época, era o queridinho de todo mundo. Que bacana ouvir-se ABBA desde a Argentina até o Cazaquistão, passando, no meio, pelo Brasil e Puerto Rico! A canção tornou-se ainda mais lendária (ganhando outra conotação) quando se soube que ela seria uma espécie de despedida dos quatro escandinavos, que pouco tempo depois se separaram, deixando milhões de fãs órfãos espalhados por todo o mundo.
Já Whitney Houston, com seus trinados e agudos insuperáveis, espalhou “…and I – Will Always Love You” como se fosse uma praga contagiosa, pelo mundo todo. Tema do filme de sucesso da cantora “O Guarda Costas” fez tanto sucesso Terra afora que todo mundo até se esqueceu que era um cover: o original, da cantora country Dolly Parton só foi redescoberto anos depois, quando Houston morreu de overdose no banheiro e sua obra foi revisitada.
Um fato curioso sobre esta música: nos EUA uma fã da canção colocou para ouvi-la no modo “repeat” de seu aparelho de som ligado no volume máximo e a coisa foi tocando por dias e noites a fio sem parar, aos berros, até que a vizinhança, exausta e de saco cheio, chamou a polícia, que invadiu a casa da louca, levou-a presa e ufa!!! desligou o som. Bye, bye, Whitney! Quem quiser que ouça o original da Dolly.
O caso mais impressionante de dominação planetária por uma canção deu-se com a mítica “My Heart Will Go On”, tema do filme “Titanic” e interpretada pela canadense Celine Dion. Essa sim ficou no topo das paradas de todas as emissoras de rádio do mundo inteiro por meses e meses a fio: se, na época, alguém subisse ao cume do Everest, lá, com certeza, estaria tocando “My Heart Will Go On”. Ou, para entrar no espírito da coisa, se alguém mergulhasse e fosse ver os destroços do Titanic, com certeza seria obrigado a escutar “My Heart Will Go On” até debaixo d´água.
Celine ganhou o Oscar de Melhor Canção mas nem precisava disso, já que era Musa Consagrada, a maior delas, no mundinho do pop. Para completar, a trilha sonora do filme, quase que só orquestrada, também fez sua parte, permanecendo por um tempo enorme na lista dos Mais Vendidos. Conheço gente que até hoje não consegue mais ouvir essa música: se começa, dá-se logo um jeito de desligar o que estiver tocando.
“Good Bye English Rose” foi cantada por Elton John na catedral de Westminster em Londres durante os funerais da princesa Diana, sua amiga. Transformada em compacto simples e em vista da comoção do momento, vendeu milhões e milhões e milhões de cópias mundo afora. Como Elton doou toda a renda da venda dos discos para a caridade, todo mundo preferiu “esquecer” que o cantor, decerto com preguiça, só tinha mudado a letra – conservando a melodia – de uma velha canção sua, “Candle in the Wind” (Vela ao Vento) feita em homenagem a Marilyn Monroe nos Anos 70. Quer dizer, de Marilyn para Diana Elton engabelou todo mundo com essa história de vela no vento e ainda saiu-se como o herói na despedida da princesa morta. “…English Rose” também tocou até a exaustão mundo afora, mas com um desagradável sabor de deja-vu.
O Brasil também fez bonito com o hino tropical “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que emissoras do mundo todo executaram sem parar na delicada voz de Astrud Gilberto, a mulher do João. Mesmo a música sendo o desprestigiado Lado B do compacto em que foi lançado e a plateia do planeta inteiro que a ouviu e cantou achando que Ipanema era uma praia do Hawaii. Ou da Tailândia. Quem sabe do Sri Lanka. “Garota..” é, até hoje, ao lado de “Yesterday” dos Beatles uma das canções mais gravadas de todos os tempos.
Dito tudo isso, encerro afirmando que nunca vi uma canção de Harry Stiles fazer a tal de “dominação mundial” hoje em dia. Nem de Ariana Grande. Ou de The Week´nd. E, infelizmente, nem da banda Imagine Dragons ou algum outro grupo de pop-rock. Nem a poderosa Lady Gaga conseguiu, até hoje, fazer uma canção como essas citadas aí em cima, que envolvesse o planeta por completo e deixasse todo mundo assobiando. Talvez Madonna ou Michael Jackson nos bons tempos e olhe lá. Fiquemos então, hoje, com o sonzinho mixuruca de músicas nos celulares ou laptops sem que nenhuma Grande Canção esteja lá para embalar nossas vidas e nos fazer melhores por uns breves momentos. Isso, nos áureos tempos, valia para o mundo inteiro.
* Carlinhos Barreiros é professor, jornalista e escritor.
FONTES:
https://www.farolnoticias.com.br/variedades/as-cancoes-que-mudaram-o-mundo/
https://www.folhadepiraju.com/noticias/detalhes/as-cancoes-que-mudaram-o-mundo
OBS: Matéria reproduzida com a autorização do autor