Emilyn Matsumura, a cientista que conquistou o mundo
Maria Laura López *
Na adolescência, com uma pilha de revistas e livros que ganhava nas feiras de profissões que participava, Emilyn Matsumura buscava algo que a ajudasse a decidir qual carreira seguir. E foi folheando esse material que ela encontrou a resposta na imagem de uma mulher segurando frascos e pipetas: uma cientista. Hoje, aos 34 anos, Emilyn é bióloga, fez mestrado e doutorado no Brasil, pós-doutorado na Universidade de Davis nos Estados Unidos e, recentemente, conquistou uma vaga de professora e pesquisadora na Universidade de Wageningen, na Holanda.
“Eu nem acreditava que ia conseguir porque é muito concorrido, essa é uma instituição bem conceituada por aqui”, conta ela, que ainda está se adaptando à nova cidade. O processo de seleção teve várias etapas, desde cartas de motivação até entrevistas e uma apresentação sobre tudo com o que ela já havia trabalhado. “A vaga é como professora e cientista, então eu vou ter meu próprio laboratório, grupo de pesquisa, além do trabalho como educadora”.
Matsumura também contou que sempre gostou da área de biológicas, mas demorou para encontrar o melhor caminho. “Eu comecei a pesquisar mais sobre os cursos e inicialmente queria biotecnologia, mas nos vestibulares seguintes prestei para biologia”, afirma. Passou na Universidade de Ponta Grossa e foi de Fartura, município vizinho de Piraju em que nasceu, para o Paraná.
Essa foi a primeira mudança das muitas que acompanham a trajetória acadêmica de Emilyn Matsumura. De lá, foi para o mestrado na Universidade Estadual de Londrina, onde se especializou em microbiologia. O passo seguinte seria o doutorado, mas a bióloga preferiu fazer uma pausa para dar aulas. “Eu queria continuar minha carreira acadêmica, só que ainda sentia falta de uma experiência como professora”, explica.
A bióloga apresentando sua pesquisa na Universidade Davis Emilyn em frente à Casa Branca nos Estados Unidos
Passou um ano trabalhando no Senai de Londrina até ser selecionada para o doutorado na Unesp de Botucatu, quando voltou para São Paulo. No entanto, a estadia aqui também durou pouco tempo, Matsumura logo conseguiu uma bolsa de estudos para terminar a pesquisa na Universidade de Davis na Califórnia. “Fiquei um ano lá, nesse doutorado sanduíche. Eu aprendi bastante e foi muito produtivo, tanto que recebi o convite do meu orientador para retornar em um Pós-doc”, conta ela sobre o pós-doutorado que realizou de 2017 a 2020.
Agora na Holanda, Emilyn Matsumura irá continuar sua pesquisa em virologia de planta. “Meu trabalho é focado em desenvolver estratégias sustentáveis para diminuir a infestação de vírus em plantações, substituindo os agrotóxicos”, explica. Ela espera aproveitar ao máximo a oportunidade e por enquanto ainda não se vê voltando ao Brasil, a não ser para visitar a família que mora em Piraju. “Claro que a gente gostaria de estar fazendo o que ama no nosso país, mas eu prefiro ficar aqui onde eu vou ter suporte e estrutura para trabalhar do que voltar hoje para o Brasil”, afirma. No entanto, ela não descarta totalmente a possibilidade de voltar um dia; só espera que até lá a situação de educadores e cientistas no país tenha melhorado.
A filha da cabeleireira Maria Dognani é o orgulho da família. No salão da mamãe, próximo ao Posto BR 2000 na saída da cidade, é possível encontrar os jornais com a notícia da conquista de Emilyn, assim como observar o misto entre a preocupação e a alegria pela vitória e o caminho escolhido.
* Maria Laura López é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS