Atriz, pedagoga e comediante na internet: um pouco mais de Celinha Marcato

Por Wálace de Jesus

O isolamento social causado pela pandemia de covid-19 mudou a forma como as pessoas se comportam na internet. A oportunidade de crescimento na rede durante esse período foi a grande onda em que muitos usuários surfaram. 

Célia Regina dos Santos ou Celinha Marcato, como é popularmente conhecida nas redes sociais e na cidade de Piraju, já criou fotos e vídeos para o Facebook, Instagram e para o YouTube. Mas muito antes da pandemia já registrava o seu cotidiano em forma de humor para a internet.

Primeiros atos da vida

Após um ano do seu nascimento em Piraju, Celinha se mudou para uma colônia de férias chamada Pousada Jurumirim, que fica a 22 quilômetros da sua cidade natal e atualmente está desativada. Foi nessa vila residencial que Celinha estudou e passou a maior parte da sua infância. A razão para a mudança foi o emprego do pai, que trabalhou durante seu contrato como fiscal e, posteriormente, no posto de mecânico em uma companhia de energia: a Fundação CESP. A estadia na colônia era um benefício aos funcionários da organização. “A gente sempre teve uma vida muito simples e nunca faltou nada”, destaca. 

Com uma infância tipicamente interiorana às beiras de rios, aos trotes de cavalos e a partir da pesca, Celinha relata que teve uma infância maravilhosa junto aos seus irmãos e que desde muito cedo teve contato com performances. “Desde criança eu já gostava de colocar as roupas da minha mãe e fingir que estava representando ou então fazendo apresentações com os amigos”.

Formação e contato com o teatro

 Aos 16 anos, Celinha retornou a Piraju. “Todos os funcionários tiveram que mudar de lá porque a pousada se transformou apenas em colônia de férias”, destaca. Foi no período do colegial que Celinha começou a ter contato com o teatro: “tinha um salão de teatro na escola e eu imitava o Silvio Santos e fazia esquete”. 

Estabelecida em Piraju, Celinha começou a trabalhar nos comércios locais, mas uma experiência em específico mudou os rumos da sua formação. “Me chamaram para trabalhar em uma escolinha como assistente de sala. Como gostei muito de trabalhar com a educação infantil, decidi cursar pedagogia”, ressalta. 

Além da pedagogia, outra grande inspiração de Celinha sempre foi o teatro. O primeiro grupo que ela fez parte foi o San Francisco, que era dirigido por Sylvio Pansanato. Era composto por Toni, Marião, Val, Edinho e ela. “A princípio esse grupo fazia peças para arrecadar dinheiro para uma amiga com leucemia que precisava. Isso já faz uns vinte anos”, revela. As apresentações aconteceram na Casa da Cultura em Piraju, que hoje é um cinema.

Na época, o grupo conseguiu juntar o dinheiro necessário para ajudar a amiga de Celinha. O que era um ato de compaixão se tornou um sucesso entre a população na cidade e as apresentações continuaram. “O pessoal gostou demais e começamos a fazer peças para arrecadar fundos para ajudar as entidades de Piraju”, descreve. O Asilo e Educandário são exemplos de instituições que foram beneficiadas pela ação filantrópica do grupo. De acordo com Celinha, em uma dessas apresentações em que o valor do ingresso era um brinquedo, o grupo coletou mais de 700,  que posteriormente foram doados para as creches da cidade.

A atriz e comediante também revela que o último ato do grupo foi para benefício dos próprios integrantes. “Foi uma alegria ganhar dinheiro fazendo o próprio trabalho”. Mas com a crescente demanda, a falta de incentivo e infraestrutura da cidade o grupo cessou as atividades. “Era tudo com recurso próprio e cada um tinha o seu trabalho, daí acabamos parando por isso”, revela. 

Outras oportunidades surgiram ao longo da vida de Celinha. “Há dois anos, aproximadamente, fiz uma nova peça, mas desta vez em um novo grupo”. Favorável ao improviso, Celinha descreve que no último teatro que apresentou passou a noite anterior ao evento decorando texto. “Meu diretor me deu a lição de casa que era terminar de decorar o texto. Fiquei preocupada porque eu gosto mais do improviso”. E foi criando vídeos engraçados para a internet que Celinha Marcato encontrou a oportunidade perfeita de unir a improvisação à vontade de alegrar a vida das pessoas.

Celinha na terra da improvisação

O nome artístico Celinha Marcato foi escolhido pela pedagoga para soar menos formalizado. “Marcato é por causa da minha mãe, porque ela veio de uma família italiana, mas meu pai não colocou esse sobrenome em nosso nome”. Como sempre gostou do sobrenome materno, Celinha usou-o como parte do seu nome artístico. 

Em 2016, começou a gravar vídeos para as redes por causa da toxicidade e dos conflitos entre as pessoas na internet. “Eu via muita coisa negativa, uns provocando os outros, outras coisinhas chatas também, principalmente no Facebook”, destaca. Tudo começou com fotos engraçadas e depois de um tempo as pessoas interagiam mais com Celinha, o que a fez partir para a produção de vídeos curtos e engraçados. “Eu me divirto muito com os vídeos e com os comentários das pessoas”, relata. Ela também explica que a produção de conteúdo para internet era ingênua e que o único objetivo era fazer as pessoas rirem.

A internet proporcionou à Celinha o espaço perfeito para fazer o que ela mais gostava: a improvisação. “Os meus vídeos são todos improvisados, a não ser quando eu vou em algum lugar específico porque daí eu dou uma planejada”. As palhaçadas que Celinha cria estão disponíveis no Facebook e no Instagram dela. Ela também criou um canal no YouTube, mas desabafa que não era o que esperava: “Tem a questão da inscrição no canal e das curtidas, meio complicado. Mas nunca tive o intuito de ficar famosa ou de virar uma YouTuber”. 

Com o YouTube de escanteio, Celinha passou a se engajar mais nas outras duas redes. “Como eu posto meus vídeos no Instagram também, então o Facebook e o Instagram são os principais”, destaca.

O sucesso dos vídeos com o público de Piraju foi imediato. Com seu carisma e ótimo senso de humor, Celinha arrancou muitas risadas dos seus seguidores e se sente realizado por ter alcançado o objetivo. “Como Piraju é pequeno, encontro as pessoas na rua e elas falam que adoram meus vídeos e isso é muito gostoso”, comenta.

Celinha também revela que já teve vontade de seguir carreira como comediante nas redes sociais, mas que atualmente não pensa muito nisso. “É claro que se uma Globo ou uma emissora me contratasse para ganhar um bom dinheirinho eu ia correndo, mas só assim mesmo”, finaliza.

* Wálace de Jesus é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS