Programa de GarotosProjetos de TCC

PROGRAMA DE GAROTOS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE JORNALISMO E EDITORAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) de graduação em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo, apresentado ao Departamento de Jornalismo e Editoração.

PROGRAMA DE GAROTOS: Uma série de rádio-reportagens sobre os garotos de programa do centro de São Paulo e suas experiências

AUTOR: Luiz Antonio Attié Calil Jorge Junior

São Paulo – SP – Primeiro Semestre de 2024

BANCA

* Nome: Luciano Victor Barros Maluly  (Orientador)

Instituição: Universidade de São Paulo

* Nome: Dennis de Oliveira

Instituição: Universidade de São Paulo

* Nome: Wilton Garcia

Instituição: FATEC Itaquaquecetuba

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família por ter me apoiado na escolha do curso de jornalismo e pelo suporte durante essa jornada. Agradeço também à Universidade por ter me dado a oportunidade de crescer profissionalmente e me descobrir dentro das áreas da comunicação, assim como pelos amigos que ela me proporcionou e que me ajudaram constantemente a tornar o dia a dia mais leve e agradável nesse ambiente.

Agradeço também às Goldens, minha equipe de cheerleading, que foi essencial para eu ter momentos de escape da vida acadêmica e outros amigos que sempre estiveram presentes, vários deles virtualmente, para me escutar nos momentos que eu mais precisei e deram todo o apoio necessário para concluir esse trabalho. Em especial minha amiga Isabella, que sempre se mostrou preocupada com meu bem estar durante a graduação.

Para concluir esse trabalho, pude contar com a ajuda de outros colegas os quais não poderia deixar de agradecer. Obrigado Fernanda por se manter comigo durante todo o processo de escrita e não deixar com que eu me distraísse. Obrigado André, Júlia, Beneval e todo o grupo Muchachos do Facebook pela ajuda para encontrar garotos para entrevistar. E um agradecimento especial ao Gustavo, Giulia, Luiza e Isabella por me ajudarem na edição e em toda a parte técnica desse projeto.

De mesmo modo, agradeço ao meu orientador Luciano Maluly, que aceitou me apoiar nesse projeto e fez o possível para tirá-lo do papel comigo. E, principalmente, agradeço aos garotos que me ofereceram as histórias deles para que eu pudesse repassá-las nesse programa. Por fim, deixo um agradecimento especial ao Raphael, Marcelo, Victor, Bob e Falcão por terem se aberto para mim e compartilhado um pouco de quem vocês são.

RESUMO

A prostituição masculina na cidade de São Paulo, em especial no centro, é parte importante e muitas vezes invisibilisada da cultura local, especialmente da subcultura gay que a região carrega historicamente.As vidas desses homens são alvo de muitos estigmas que envolvem desde sua rotina profissional até suas vidas pessoais e questões sobre seus caráteres. A fim de desestigmatizar essas histórias e expor que esses homens são muito mais do que apenas garotos de programa, o seguinte trabalho se apresenta na forma dos episódios de rádio reportagem.

Palavras-chave: Prostituição, Gay, Prostituição masculina, São Paulo,

INTRODUÇÃO

A cidade de São Paulo carrega consigo histórias muitas vezes invisibilizadas. De mesmo modo, a prostituição masculina no meio gay segue um caminho semelhante, sendo nichada e pouco comentada, seja no meio acadêmico, jornalístico ou social.

A ideia desse projeto nasceu em um trabalho para a disciplina de Legislação em Jornalismo, em que produzi com meus colegas uma reportagem sobre prostituição no Brasil. Na apuração para esse projeto, percebi que as histórias dos GPs raramente são contadas, enquanto que havia uma quantidade maior de relatos da prostituição de mulheres cis, trans e travestis. Pensando nisso, decidi tornar esse projeto que havíamos feito para algo maior e trazer para a pesquisa deste trabalho final.

Para isso, decidi ir atrás de garotos que estivessem dispostos a compartilhar suas histórias e, a partir disso, costurar essa série dando o máximo de destaque possível para eles, a voz deles e o que eles consideraram importante de compartilhar.

OBJETIVO

Demonstrar a vida dos garotos de programa de São Paulo além da prostituição e expor pessoas complexas com histórias de vida diversas, mas que ainda assim são parte importante da cultura paulistana e da cultura gay da cidade, a partir das vivências e das falas dos próprios prostitutos.

METODOLOGIA

IA escolha do formato em rádio veio a partir de uma impressão escutando o podcast  “Brasil para maiores” da Uol, no qual eles comentaram sobre a dificuldade que as personagens tinham de aceitar entrevistas em que o rosto aparecesse. Visando  manter a privacidade dos garotos, mas ainda assim humanizá-los a partir da voz, naturalmente veio a ideia de criar um projeto em áudio. Com a ajuda do meu orientador, fechamos no formato de rádio reportagem.

Com isso definido, continuei a pesquisa procurando quem seriam os personagens centrais do programa. Inicialmente conversei com o Falcão, que já conhecia do outro trabalho que eu havia feito e, a partir da nossa conversa, pude desenhar melhor os temas que eu gostaria de abordar. Entrei em contato com os garotos pelos sites de GPs, aplicativos de relacionamento do meio gay e por indicação de outros caras e, assim, fechei com o Falcão, com a experiência na rua, com o Bob, com a experiência virtual, e com o Victor, que não tinha a prostituição como principal fonte de renda. Deste modo, tentei trazer nos episódios os contrastes entre as experiências deles, transparecendo também a personalidade de cada um.

EPISÓDIOS

1. Lugares de programa

A partir do foco no centro de São Paulo, a primeira reportagem trata da distinção entre os locais que os personagens usam para trabalhar, seja ele virtual (sites e aplicativos), fechados (casa de massagem) ou a própria rua, e a diferença de experiências em cada um deles.

Acesse: https://youtu.be/R-jASg8hQAg

2. Experiências em programas

Neste episódio, o foco é para os personagens contarem histórias envolvendo a prostituição, como o primeiro programa feito ou o momento mais perigoso que eles já passaram.

Acesse: https://youtu.be/65jH7SSI1Cg

3. Manutenção dos programas

Continuando a vivência dos garotos trabalhando, aqui o comentário principal é sobre o uso de drogas e como ele impacta o cenário da prostituição masculina.

Acesse: https://youtu.be/g5uY8T7lTag

4. Internet e performance

Na contemporaneidade, é impossível não levar as redes sociais e a produção de conteúdo pornográfico em conta, num ramo que muitas vezes é intrínseco à prostituição. Nesse episódio, os personagens comentam sobre a necessidade de se vender num personagem, seja para o virtual ou para o real.

Acesse: https://youtu.be/O9arCFvDJnE

5. Família e os garotos

Sobre a vida pessoal, essa reportagem escuta os personagens falarem sobre a relação deles com a família, amigos mais próximos e outros garotos de programa.

Acesse: https://youtu.be/b-azh6m_z8c

6. Além dos programas

Para finalizar essa série de reportagens, os personagens falaram sobre o dia-a-dia, seus hobbies, diversões e planos para o futuro.

Acesse: https://youtu.be/HQUpBQW7TXU

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Produzindo essa série de reportagens, pude cumprir o papel de conhecer melhor a humanidade dos garotos de programa de São Paulo, tentando não reduzi-los apenas a esse trabalho. Nas longas conversas que tive com eles ao longo do semestre, pude conhecer melhor a personalidade de cada um deles e tentei ao máximo transmitir isso durante as matérias.

São principalmente três garotos e nunca pretendi que eles representassem todos os michês da cidade, mas sim que as experiências de cada um deles pudessem estar em foco ao mesmo tempo que mostrasse o quão distintas elas são e, ouvindo o produto final, senti que fiz jus à trajetória deles. Mais uma vez os agradeço por terem sido as partes mais importantes deste produto final.

O formato radiofônico foi essencial para cumprir o objetivo de humanizá-los e a potência desta escolha está justamente no poder que ela tem de transmitir a personalidade de cada personagem mais do que uma transcrição ou decupagem poderia ter.

REFERÊNCIAS

[1] PERLONGHER, Nestor. O negócio do michê. 2aed. São Paulo, Editora

Fundação Perseu Abramo, 2008.

[2] TAB UOL, podcast Brasil para maiores, disponível em

https://tab.uol.com.br/podcast/brasil-para-maiores/

APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro Episódio 1

Sonora Falcão [1:46 – 2:13]

Eu já trabalhei também fazendo ponto na rua também. No conjunto nacional, na Alameda Santos, aqui atrás da paulista que é o famoso trianon – MASP, já fiz muito também aqui na Rego Freitas, aqui no centro. Alí a forma de abordar já era tá na esquina, na rua mesmo, o carro parar e eu já perguntar o que quer, fechar o valor entrar no carro, ir pro drive-in motel e acabou

Off:

Em São Paulo, o centro da cidade é point histórico para michês, GPs, boys e para toda uma subcultura do meio gay que alimenta esses ambientes de prostituição

Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Para esse episódio, conversei com os garotos pra entender como eles atendem e a diferença entre os métodos de cada um deles.

Vinheta

Off

O centro da cidade é o local ideal para quem procura ou oferece programa justamente pela variedade de ambientes distintos na região que sai desde a bela vista, pertinho da Paulista, passando por Consolação, Baixo Augusta, Santa Cecília, República e Arouche.

E essa região já é histórica por isso. Por mensagem, Marcelo conta que, nos anos 80, ele já estava fazendo programas por aqui. Quando faltava grana, ele passava no parque Trianon ou na Avenida São Luís e atendia algum cliente pra complementar a renda.

Além da rua, hoje em dia existem outros meios mais práticos e até mais seguros de marcar os programas, isso além das casas especializadas para isso.

Os aplicativos e sites oferecem uma facilidade para filtrar e escolher o trabalho. O Bob foi outro cara que eu conversei. Ele me disse que em anos de programa, ele nunca foi de atender na rua, e que isso nunca foi um empecilho na hora de marcar os serviços.

Sonora Bob [7:12 – 7:45]

Eu não morava no centro como a maioria dos garotos moram. Eu morava sozinho, mas eu não gostava de levar cliente na minha casa, então não tinha local. E eu não usava droga, que a maioria usa, as pessoas gostam de usar e tal. Então o que eu fazia? Eu saía todo dia da minha casa lá na zona norte ao meio-dia e ia para a Sé. Aí eu ficava lá no wi-fi da Sé, logava em todos os aplicativos de pegação e logava no bate-papo da UOL. Sim, em 2015 ainda era usado o bate papo da Uol. Pouca gente sabe disso, mas funcionava muito para fazer programa

Off

A internet mudou muito as dinâmicas, ou melhor o leque de dinâmicas que a prostituição tem. Não é difícil para qualquer pessoa logar num aplicativo, combinar um valor e ir, mas para viver disso, é necessário um diferencial, como conta Bob. Além do MSN e do bate-papo da UOL, ele viu uma oportunidade de fazer uma marca.

Sonora Bob [04:35 – 5:04]

Eu percebi que a maioria dos meninos tinha blogs com fotos e vídeos. E aí eu fui e ao invés de criar um blog eu criei um site. E aí no site, além de ter minhas fotos meus vídeos, eu colocava histórias de sexo que eu já fiz e de lugares de coisas assim… eu queria que o cliente que entrasse no meu site não entrasse só lá pra olhar as fotos e falar “não, não quero esse” e passasse para o próximo. Eu queria que ele tivesse motivos para ficar voltando no meu site para quem sabe um dia ele falar “tá, eu quero”

Off

Nessas conversas com o Bob, foi claro o quanto ele se dedicou para fazer o melhor possível dessa carreira. Ele aproveitava que estava na Sé, numa área central para poder chegar com facilidade para onde o cliente quisesse. Fosse num motel, na casa do cliente, ou até mesmo num carro, a cidade inteira ficava muito mais acessível. Mas todo o trabalho de filtrar com quem sair era cansativo e, muitas vezes, era pior a espera do que o programa

Sonora Bob [7:51 – 8:25]

Aí tinha o site, o meu site, né? O site que eu pagava para fazer o anúncio. E eu ficava em todas essas coisas ali na Sé o dia inteiro. E conversava com tipo 70 pessoas por dia, mais ou menos, para fazer um, dois, programas. Então essa é a parte que ninguém fala. Ai, é difícil atender o cliente? Não, é super fácil atender o cliente, o difícil é você ficar conversando com um monte de gente que você não sabe se tá alí só pra te enrolar, se vai rolar alguma coisa. Aí eles falam “ai, garoto de programa é tudo mal educado”, é porque enche o saco, chega uma hora que você quer mandar todo mundo tomar no cu

Off

Os sites de anúncio de GPs também oferecem algo a mais, um filtro antes mesmo de sair de casa. Eu conversei com o Victor que atende exclusivamente por site, que ele diz ser ainda mais seguro que os apps

Sonora Victor [5:55 – 6:49]

No aplicativo, qualquer pessoa vai ali e faz o ponto perfil como ela quer, eu posso montar ali um perfil com uma foto do Leonardo DiCaprio se eu quiser e ponto.

Por exemplo, essa semana eu encontrei um perfil de garoto de programa aqui em São Paulo de um amigo meu que é blogueiro no Rio de Janeiro. Eu sei que ele não tá aqui em São Paulo. Ele não é tão conhecido, mas ele é famosinho no Rio de Janeiro, e eu sei que ele não tá aqui. Então eu chamei esse perfil e falei “meu, eu sei que o Jean não tá aqui em São Paulo, tipo, pode excluir esse perfil que eu sei que é fake”.

Então você não tem essa segurança. Os principais sites aqui no Brasil, para você fazer o cadastro, tem que mandar foto do RG, tem que gravar um vídeo mostrando quem é você. É todo um processo pra eles te colocarem ali no site e você ter a visibilidade, senão você não entra

Off

Além disso, ainda mais seguro e estável, tem os estabelecimentos fechados. Lá no comecinho do programa, a gente ouviu um pouco da história do Falcão.Hoje em dia, ele quase não atende mais na rua, as histórias que ele contou são de 15 anos atrás. O foco dele agora é no bar de uma casa de massagem aqui na Bela Vista. E pra ele, a rotina está muito melhor agora.

Sonora Falcão [00:09 – 1:35]

Então, como eu tava te dizendo, eu trabalho também agora atualmente nessa sauna. Lá tem o serviço de massagem, que tem a relaxante, a esfoliante e a tântrica. Cada uma delas é um valor, esses valores se referem ao tempo de duração.

A relaxante e a esfoliante são massagens normais, que todo mundo geralmente faz. A tântrica já envolve o relacionamento corporal de sexo [risos], mas aí tudo acontece de acordo com o que a pessoa determinada. Em si, a sauna é massagem, mas essa parte é abordada entre o cliente e o profissional. A casa oferece sauna de serviço, tipo hidro, cabine, sala de vídeo, piscina, bar, mas o bar e a massagem são valores à parte. O valor da entrada é outro.

É… os clientes que chegam ali são clientes mais retraídos, na deles, contidos… tanto que a sauna funciona das 14h às 22h, um horário totalmente oposto das demais, porque trabalham com pessoas que não tem uma vida muito… como eu posso te dizer? transparente, né? São pessoas mais restritas que acabam querendo ficar no offline, né? Num lado que não querem ser… não querem descoberto ou não qurem ter relação com o meio LGBT ou homoafetivo que fazem dentro da sauna

Off

O lugar realmente parece quase um spa, com hidromassagem e bar, e as salas privativas onde as massagens acontecem. O Bob também trabalha atualmente num local assim e disse que é fã da estabilidade que o trabalho traz. Um rotina de trabalho mais garantida e um salário no final do mês

Sonora Bob [10:22 – 10:42]

 Fiz um curso de massagem, mas tem muitos anos. Eu nunca trabalhei na área e não terminei o curso. Deixei bem claro! Sei fazer? Sei fazer. Mas não é aquela coisa assim uau… Aí ele falou “não vou fazer um teste e tal” fiz o teste. Ele gostou da minha massagem. Aí comecei a trabalhar lá e tô há dois anos

Off

E isso tudo é só uma espiadinha no mundo da prostituição. Hoje a gente conheceu os lugares que eles atendiam, mas no próximo episódio, vou contar um pouco mais sobre a relação deles com os programas

Créditos

APÊNDICE B – Roteiro Episódio 2

Sonora Bob  [14:10 – 14:27]

Teve um cara que tinha uma arma, mas não aconteceu nada. Ele abriu a gaveta. Acho que foi até mesmo para tipo me deixar com medo, pra eu não querer fazer nada. Ele abriu uma gaveta pra pegar o lubrificante e tinha uma arma do lado. Fiquei meio tenso na hora mas não aconteceu nada

Off

A prostituição existe em São Paulo há décadas, dificilmente não existiria em uma metrópole tão agitada quanto essa. E se engana quem pensa que são só as mulheres nesse ramo.

Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Para esse episódio, conversei com os garotos pra conhecer as histórias deles e a relação deles com a prostituição

Vinheta

Off

No episódio passado, eu estava comentando foi justamente da diferença de experiências dos boys conforme os ambientes que cada um deles frequentava. Isso se reflete, não só nos métodos de abordagem, mas também no público dos programas em si. O Falcão trabalhou por mais de 15 anos atendendo nas ruas de São Paulo e segue até hoje na ativa e o que não falta para ele é história pra contar

Sonora Falcão [25:25 – 26:58]

Eu não estou falando aqui pra tu que muitas vezes a pessoa sabe que o cliente não presta e fala “não ele paga bem. pode entrar, vai, foi ótimo comigo…”. Aí quando você quebra a cara a pessoa fala. “ai, eu sabia, falei mais pra você ver como é mesmo”. É… era muito podre!

Isso quando é um clientizinho furreco. E quando é aqueles neuróticos, que tem arma, que gosta de fazer sexo com o revólver sem o… qual o nome do bagulho?… sem o pente, sádicos. Você vê cada coisa na noite que você manda tirar, né? Vai que não é brincadeira e aquilo dispara.

Tem muitos [GPs] que nem entram por medo, tem uns que já ficam em pânico quando mostra… mas eu sempre fui muito frio.

“É, eu ia perguntar isso, como você reagia a essas coisas”

É que quando eu trabalhava na noite eu andava com uma faca. Depois vou te mostrar, ela é desse tamanho assim e quando abre ela fica desse tamanho [meu antebraço]. Ela é daquelas facas de peixe. Sabe de cara que pegou o peixe ali e já… é uma faca ótima inclusive. Você pega, já limpa o peixe com ela mesma…

Pra mim é defesa, né cara? A polícia não vai estar comigo 24 horas. Eu não sei o que pode acontecer. Eu não sei quem tá parando o carro pra mim. Eu não sei se geralmente também o cara que tá parando para mim é um cara que não tem a vida boa a ponto de ter uma vida livre para ser ou pode ser um bandido que também que roubou o carro e quer aprontar, então eu sempre soube lidar com todos os tipos de situação que aconteceu à noite.

Off

A rua é um lugar perigoso, mas um trabalho que depende de encontrar com estranhos toda noite em ambientes de muita vulnerabilidade vai sempre ter seus riscos. Os GPs foram criando mecanismos para se proteger. Uma técnica que o Victor usa é de priorizar apenas encontros marcados em sites. Segundo ele, as burocracias para criar um perfil e agendar o programa acabam garantindo que, do outro lado da tela, realmente tem uma pessoa de verdade. Emesmo assim, ele conta de quando ele pensou que não voltaria pra casa.

Sonora Victor [13:29 – 15:13]

O cliente me chamou “ai, vem aqui para minha casa, eu mando um Uber”, tipo mandou foto, várias fotos etc. Me senti seguro porque era um cliente que já tinha me mandado várias mensagens em vários dias. Tipo, às vezes eu não tava afim de atender, tinha compromisso, eu não achava rentável eu ir até ele, porque era muito longe da minha casa etc. Aí teve um dia que eu tava precisando da grana e falei assim, ai eu vou me sujeitar, vou atender esse cliente. Era muito longe, assim, no extremo da zona norte.

Ele mandou um carro para me pegar. Fui, entrei no carro e quando eu cheguei lá era aquele famoso golpe do sequestro. Saí do carro no local, era tipo uma praça, e tinha já acho que uns quatro caras. Foi uma experiência surreal, bem espiritual, de pedir proteção pros meus guias, para o meu lado espiritual e eles simplesmente não conseguiam se aproximar de mim. Eram 4 caras assim.

E veio uma moça na minha direção, que era a tia de um deles, inclusive. Era uma comunidade ali, e ela me levou para dentro da casa dela, falou assim “meu você ia ser sequestrado, acontece isso com muita frequência aqui no bairro e eles estão fazendo esse golpe do sequestro por aplicativo”. Tipo, ela sabia de tudo porque era uma coisa frequente eu ocorria ali, ela falou assim: “quando eu te vi eu vi uma luz em você que eu não podia deixar isso acontecer.  E a gente sempre deixa porque… é os meninos” aí  é a criminalidade dentro da comunidade que às vezes… não normal… mas é um meio deles. Aí  eu consegui chamar um Uber, voltei, ela me direcionou até a saída, foi um anjo literalmente comigo

Off 

Essas histórias mostram que a prostituição sempre é cheia de riscos e, num meio que já tem o estigma por envolver sexo e gays, esses perigos só complementam essa tensão em volta da prostituição. O Bob comenta que esses preconceitos morais mesmo pesaram muito quando ele fez o seu primeiro programa

Sonora Bob  [2:00 – 2:16 // 2:19 – 2:37]

Primeira vez que eu fiz um programa eu tinha  18 anos, mas eu não entrei para área. Eu tava precisando de dinheiro um cara ofereceu e eu fui lá.

“O caca ofereceu como? Por onde?”

Foi no bate-papo da UOL. Aí eu lembro que eu tava muito assustado, tava com medo. Aí eu  pedi para um amigo e ele ficou esperando na porta do motel. E eu me senti muito mal, me senti sujo. Achei horrível. Entrei no banheiro, sentei e chorei no banho sentado, foi bem ruim

Off

Isso 10 anos atrás, depois que ele decidiu entrar de vez nesse trabalho, ele começou a fazer cada vez mais dinheiro, se promovendo no seu site e realmente fazendo disso uma profissão

Sonora Bob  [06:40 – 07:07]

A ideia era realmente ficar só uma semana, só que aí em uma semana eu ganhei r$ 2000, que era a mesma coisa que eu ganhava trabalhando no shopping em um mês. Aí eu falei “ah, não, vou ficar aqui.” Só que realmente para ganhar dinheiro de verdade naquela época precisava trabalhar muito. As pessoas acham que “ai, você criou um site, faz um anúncio e fica lá esperando”… se eu fizesse isso não não teria dado certo

Off

Já o Victor teve uma introdução BEM diferente na prostituição. Para ele, fazer programa é mais um complemento de renda do que a base do seu trabalho, por isso, sua relação com a prostituição é tão diferente. Ele é formado em design e em turismo e tudo começou em outro continente.

Sonora Victor [2:57 – 3:40]

Quando eu fui pra Europa não foi pra esse sentido, fui mais para estudar mesmo, focado na área de design… e a visão que se tem do brasileiro, eu por ser moreno, é sempre essa coisa, tipo hmmm, voltada ao lado sexual. Nós, como latinos, não só brasileiros, mas como América latina, quando a gente vai para outro lugar, é sempre essa visão da vontade ser um pouco mais intensa.

E as propostas sempre são boas, o dinheiro. É aquela coisa, eu sou brasileiro, sempre via as coisas em real, chego lá e ,tipo, o real super desvalorizado em qualquer lugar do mundo, e você chega lá é um dinheiro muito além, você acaba se sujeitando.

Eu sempre tive os meus princípios, então eu nunca saí com um cara que eu não sentisse nenhum tipo de tesão.

Sonora Victor [4:03 – 4:28]

Aqui no Brasil foi a mesma coisa. Tipo a gente ganha dinheiro, eu tenho o meu trabalho fixo, o trabalho CLT e tudo, tenho uma renda legal. Mas dinheiro nunca é demais. Então as ofertas aparecem, aí acaba se tornando um hobby, um freelance e o prazer. Isso para mim, na minha experiência, mas tem vários amigos que é um meio de sobrevivência total

Off

Cada experiência é única e as oportunidades para construir sua carreira dentro e fora da prostituiçao são tão variadas quanto a vida de cada um dos garotos.

No próximo episódio vamos continuar ouvindo sobre as histórias dos caras e algumas percepções que as pessoas tem da prostituição. O quão embasadas na realidade elas são?

Créditos

APÊNDICE C – Roteiro Episódio 3

Sonora Bob [2:36 – 3:00]

Aí depois, com 22 anos, eu tava num ponto de ônibus ali no Arouche, e o cara parou e falou “quanto que tá o programa” na hora que ele abaixou o vidro, eu vi que ele era bonito, gostei dele, aí eu sabia quanto os meninos ali cobravam… Eu falei e ele falou “entra aí”. Dessa vez foi bom, eu tava querendo e eu não tava ali na intenção do programa era só um bônus.

Off

Após escutar as histórias do último episódio e sobre a introdução dos caras à prostituição, vamos continuar nossa série de reportagens conhecendo melhor como os caras, já introduzidos no ramo, fazem pra se manter

Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Em comparação ao Victor do último episódio que fez seu primeiro programa na Europa, fica clara a diferença entre a vivência de cada garoto. O Bob, por exemplo, passou por vários “primeiros programas”, seja por prazer, pra complementar a renda ou pra pagar o aluguel, ele percebeu que a prostituição era um caminho que ele podia seguir pra se manter.

Sonora Bob [3:00 – 3:40]

Aí depois mais alguns anos, depois eu tava desempregado, morava com amigos e faltava uma semana para vencer o aluguel e eu tinha r$ 20. E eu tava conversando com um menino no aplicativo e eu sou tipo boca de sacola, então você falou um oi para mim e se eu me sentir a vontade eu vou contar tudo da minha vida. E aí eu contei para ele toda a situação que eu tava passando e ele falou “ah, por que você não faz programa”. Eu falei “Ah, já tentei, mas não é para mim não gosto e tal”. Aí ele falou. Ah, tenta fazer só para você pagar esse aluguel que você tá precisando e depois você para. Eu falei ah, é uma alternativa.

Off

Um ponto que eu notei durante essas conversas é que na prostituição masculina parece ter um senso muito maior de escolha do que na de mulheres, cis ou trans. Conversei por mensagem com o Rafael, que hoje em dia não atende mais, e ele comentou que, mesmo se prostituindo para se sustentar depois de perder o emprego na pandemia, ele sente que escolheu a prostituição. Ele me disse que até poderia trabalhar como Uber, por exemplo, mas o dinheiro de programa é mais atrativo. “ganhar em 40 minutos o que eu teria que rodar o dia todo de carro”, ele disse.

Na época, ele estava fazendo de um a dois programas por dia, conciliando com a faculdade de manhã, numa rotina bem puxada. O Victor também passou por algo parecido, conciliando a vida social, o trabalho formal e os programas. Quando nos encontramos, ele comentou que tinha passado dois dias virado sem dormir e a noite ainda iria pra um coquetel. Ele disse tomar alguns remédios pra conseguir se manter acordado, o que, segundo ele, é quase essencial no ramo. Para ele, era melhor se manter assim do que dependendo de drogas ilícitas.

Sonora Victor [1:06 – 2:00]

Eu acho que o público daqui do centro de São Paulo, do mapa gay, mudou muito no quesito mais da droga. Tá uma coisa tipo muito forte, muito marcante, sobretudo para os garotos de programa. Você vê em aplicativos, nos sites próprios de pregação, todos se sujeitando a vários tipos de drogas. Não só as mais comuns como cocaína e bala, mas drogas até um pouco mais pesadas que até lá fora não não se usa tanto, não se fala tanto e quem usa é um público gay mais dos anos 70 e 80 que seria a metafetamina, a heroína, drogas que não não se encontra em qualquer lugar, não são fáceis de usar tá tipo, por, por exemplo, vejo garoto de programa aqui no centro de São Paulo com 20 anos 19 anos já se injetando

Off

E o uso de drogas, querendo ou não, é parte da rotina de muitos prostitutos. Seja pra se manter desperto, pra ajudar a relaxar ou pelo prazer de usar. O fato é que é muitas vezes é esperado que os caras usem algum tipo de sintético e tem quem até transe em troca da droga, um programa que, no fim das contas, não traz um lucro real.

Sonora Falcão [17:00 – 17:24]

Porque às vezes também você falar o que eu faço assusta algumas pessoas, porque hoje você, querendo ou não, vê garoto de programa por aí e é nóia, tem uns que se prostitui para sustentar vício, outros roubam… queimaram o nome do que era. E eu vivi justamente na época que quando fazia isso não tinha… podia até ter mas não com a vazão que tem agora, era outra era outra cultura

Algo que todos os caras me comentaram é a frequência em que eles são chamados para usar cocaína, ketamina ou até injetáveis com os clientes. E recusar já se tornou até um empecilho pra marcar programas, me contou o Bob, que segue recusando.

Já o Falcão, com a experiência que os anos atendendo na rua trouxeram, já viu muita história envolvendo drogas. Principalmente de clientes drogados, ainda mais que os GPs.

Sonora Falcão [38:04 – 41:27]

E eu já fiz de tudo, cara. Já cheirei… de todos os vícios da droga o que fica comigo, a única coisa que eu faço hoje é [a maconha]

É aquela que eu posso chegar aqui de dia e fumar, a gente troca uma ideia e fuma. Porque pó eu já lembro de boate, noite, neurose, sexo… e eu não quero essas coisas pra mim. Pra eu querer isso, tem que ser quando eu falar assim “ai, agora eu quero”. Eu tenho um amigo que quer viver assim. Eu não critico, se ele gosta dessa vibe… mas eu acho que ele tá fazendo como os caras se escondendo atrás de uma realidade que tem prazo e hora, porque quando acaba tudo você vem numa depressão péssima e eu não curto isso.

E meus cliente de agora tão muito na droga tina e slam, que são as do momento agora. E ela tem o fundamento que nem uma pedra. Mas eles fumam no cachimbinho de acrílico, com o maçarico, custa 300 reais porque ela é mais sofisticada, mas a neurose é a mesma da pedrinha.

Já fumei pedra, já fumei tina, a única coisa que eu nunca fiz foi me furar, já tive muito proposta. Aí vai falar “ai, é mentira”, é nada, pode ver até as veias do pé, que tem gente que faz no pé pra não ficar marca.

Eu vou te dar a resposta: quem fica trancado no quarto de hotel com uma pessoa que fica nessa neurose, ela sabe a resposta melhor do que ninguém para não fazer. É, porque quando fala na droga o povo pensa ai, ele está lá na vida já não fez também? Não! Quem vive com uma pessoa que faz qualquer uma delas, ela sabe que ela tá vulnerável, porque você não sabe que o que ela desperta em você. Tem gente que fica mais acuada, tem outras que já traz a coragem que não tem no dia a dia. Você acha que eu quero passar sufoco, né? Não

“e quem propõe essas coisas geralmente é aqui é tipo amigo pessoa próxima tipo cliente mesmo.”

Olha eu não vou mentir todos todos todos todos todos então, mas cabe a você ter discernimento do que você quer ou não e, por exemplo, quando eu falo para você que meus amigos gostam, eu sei que não são viciados porque eu já saí com eles assim em rolezinho de boa e ficou sem acontecer nada. Mas tipo, eu também tem dia que eu falo assim:. Ai mano, seis meses sem fazer nada sem sair para fazer uma loucura. Eu tô vivo, né? To vivo até aqui. Vamo? Se eu falar vamo é vamo. Mas é porque olha quanto tempo passou, seis meses, quatro meses… agora pra “ai, vamo”, “vamo direto”, “to com cliente aqui” “ele tem, chega aí”. Aí eu falo vai pagar o programa do outro. Não, mas tem um negócio. Tem um amigo meu que fala “ele não tem dinheiro pra pagar o programa, mas se você quiser ele tem aqui”. Aí eu digo “uma coisa é curtir eu e você, outra coisa é envolver o cliente”. Tô fora.

Off

O jogo de cintura pra lidar com essas coisas é talvez a parte mais complicada de fazer programa no dia a dia. Dar a cara a tapa, se colocar em risco e continuar atendendo, aprendendo o que quer ou não e sabendo impor limites é necessário para não se perder nesse ramo, me contou o Falcão.

No próximo episódio, vamos nos aprofundar na relação dos garotos com a tecnologia, os vídeos pornôs e os personagens que eles tem que se fazer ser.

Créditos

APÊNDICE D – Roteiro Episódio 4

Sonora Bob [20:08 – 20:50]

É que eu sou preguiçoso. Se eu pegasse firme na criação de conteúdo, acho que eu estaria muito bem e poderia estar vivendo só disso. Mas eu sou preguiçoso. Eu tenho preguiça de conhecer pessoas, eu tenho preguiça de me deslocar. Eu fiquei velho e fiquei preguiçoso. Então eu tenho muita preguiça, tanto é que eu gravo muito mais com pessoas que eu já gravei, tipo, tem 10 vídeos com a mesma pessoa, do que ficar indo atrás de gravação com gente nova. Então, acho que eu faço mais para me manter ali, meu nome tá alí, tá em alta, dá um dinheirinho

Off

Em São Paulo, assim como em tantos outros lugares, existe uma cultura muito forte de prostituição no meio gay. Em ambientes extremamente voltados a sexo, dificilmente não teriam algumas pessoas lucrando em cima disso.

Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Para esse episódio, conversei com os garotos pra entender o quanto de performance entra nessa história de prostituição e como a internet e os conteúdos de pornografia afetaram esse ramo.

Vinheta

Off

De uns anos para cá, o pornô tem se tornado cada vez mais acessível, tanto pra quem vê quanto pra quem faz. A possibilidade de lucrar com os próprios conteúdos, a partir de plataformas como OnlyFans e Privacy mudou completamente a dinâmica das pessoas com os conteúdos adultos. E o X (antigo twitter) como local de promoção desses conteúdos também é essencial. Os caras estão tendo que se adaptar e se transformar em influencers se quiserem se destacar no ramo.

O Falcão faz programas há mais de 15 anos e ele diz que sofreu para se adaptar nessa nova realidade. Ele me contou rindo que teve que contratar um social media até. Sua cunhada ajuda ele a cuidar das redes sociais só pra não ficar tão apagado, mas que o grande foco dele sempre foram os programas. Os conteúdos gravados são mais para complementar a renda e fazer uma divulgação dos seus serviços

Sonora Falcão [06:30 – 8:05]

Eu tenho meu twitter também que é uma plataforma para divulgar, um Twitter +18, tem o OnPlay, tem o OnlyFans, só que essas plataformas eu já deixo para outros tipos de clientes. O meu Twitter, eu já uso mais ele para o povo daqui de São Paulo, é propaganda e ali tem um vídeo de eu fazendo tudo que eu sei fazer então ali eu tenho até que diminuir alguns vídeos meus que tão bem compridos, inclusive.

Porque ali a pessoa olha, bate, e eu já procuro profissionais iguais a mim pra gravar. Ou então se eu ver um cara gostoso que nem eu pego vário aqui da Augusta, da Frei Caneca, se ele deixa gravar… “ai, não posso mostrar o rosto”, tenho a touca eu tenho tudo. “ai, mas eu tenho tatuagem”, aí se eles ficam com muita preocupação, comigo já não vira.

Porque corpo bonito, essas coisas, não é novidade pra mim. Mas se ele quer gravar, ou se eu acho algum cara do twitter que faz isso e fala “ai, vamo gravar, fazer uma parceria” pra fazer o trabalho, pra jogar no twitter pra automaticamente eu jogar num OnPlay ou num OnlyFans, aí já é outra história. Porque aí o meu vídeo no twitter vai ser uma prévia e nos outros vai ser ele inteiro

E se a pessoa não quer gravar, rola ainda?”

Se ela não quer gravar, aí ela vai ter que me pagar o programa. E se não quiser pagar o programa cada um segue seu caminho que ninguém é obrigado fazer nada que não quer

Off

Ele segue comentando que os vídeos pra ele precisam ser um a mais de bons programas e boas transas. Pra ele, que lucra bem mais atendendo clientes, é mais importante a qualidade de um vídeo com química que você até esquece que a câmera está lá

Sonora Falcão [17:25 – 18:25]

Por isso que eu falo para você e vou repetir junto com a tecnologia quebrou o anonimato dos cara. Porque agora eles ligam lá o OnPlay vê seu vídeo lá. Paga e acabou. E o vídeo é o que? 30 reais, 50 reais

“É uma renda extra?”

É, mas para mim, comparado a um programa de 250, não é vantagem. Porque às vezes você faz um vídeo e vai ser vendido em cada três dias, um dia…  e quem precisa pagar conta não pode esperar esse tempo, entendeu? “

“e aí você vai ver o pessoal na internet e é um trabalho muito de se vender uma figura…” 

É. o meu é assim. Vamo supor, aí tem um garoto de programa padrão top. Se ele receber uma proposta pra querer gravar um vídeo pornô, conteúdo adulto, com um urso, não vai vir só eu, vai vir vários. E através dalí ele quem vai escolher, vai ver a performance, porque é lucro na hora.

Sonora Falcão [18:55 – 19:35]

Eu fico mais intimidado pra gravar, mas não significa que não vai acontecer, quando chega algum outro garoto de programa que eu não conheço. É só. Porque a partir do momento que eu gravo vídeo com cliente eu já tenho uma sintonia muito boa de sexo com ele. E aí o vídeo é só um a mais, é só aquele telefone que está pendurado ali, mas quando eu vejo que não bate bem com cliente, aí eu nem estico porque eu sei que não vai dar não vai dar match. Não vai sair legal, vai ficar aquela coisa artificial, porque eu já fiz e não ficou bom. Quando você gosta e quando você tá com a pessoa vai tudo fluindo.

Off

Já o Bob, diz que são dois focos diferentes para ele. Inclusive, o ramo dos vídeos pra ele é até mais forte do que a prostituição. A gente ouviu um pouco dele aqui no começo do episódio. Algo que tanto ele quanto o falcão deixaram bem claro é que, pra eles, o importante é ter química pro vídeo ficar bom. Se nem em programas eles estavam se sujeitando tanto a pessoas que não sentissem um mínimo de tesão, não ia ser pro twitter que eles fariam isso.

O Victor não grava, mas tem vários amigos que vivem disso e que ele “apadrinhou”

Sonora Victor [12:47 – 13:15]

é malhar, é manter direta. É acordar e tipo fotos. É viver como se fosse um famosinho pra agradar aquele público que ele alcança. Que tem aí, sei lá, os seus 20, 30 mil seguidores no Instagram. Acordes de manhã já tá de cueca, tentando mostrar o corpo para provocar e instigar tudo o que é isso faça uma rotina de influencer. É uma rotina de influencer totalmente, tá influenciando um lado sexual das pessoas

Off

E se engana quem pensa que essa persona fica só pra se promover. O cara tem que conseguir se adaptar aos gostos e pedidos do cliente. Claro que tem gente que se mantém mais fiel a sua essência e gente que nem passa o nome verdadeiro, mas, na medida do possível, eles sempre tem em mente que cada cliente vai ser tratado de um modo específico de acordo com o que ele estiver esperando.

O Bob, por exemplo, se diverte brincando com esses personagens

Sonora Bob [11:14 – 11:30]
  

No programa, o que eu mais gostava era de não saber o que eu ia encontrar não saber como ia ser e criar mais ou menos um personagem para cada cliente então isso era divertidíssimo pra mim

Sonora Bob [13:03-13:24]

Alguns pediam uma coisa específica e alguns não deixavam claro o que que eles queriam. Então quando eles não deixavam claro o que queriam era eu mesmo. Era mais quando o cliente falava eu quero um cara dominador, eu quero um cara e faz isso, aí eu entrava no personagem e ia

Off

O Bob, na verdade, sempre foi muito comprometido com, não apenas esse personagem, mas com como ele se promovia e era percebido. E, sem dar ponto sem nó, ele montou o cara que ia ser a partir de muito estudo

Sonora Bob [03:40 – 04-07]

Aí eu fui e comecei a estudar sobre. Eu assisti entrevistas com garotas de programa, assisti documentários, reassisti o filme da Bruna Surfistinha. Reli o livro. E aí eu falei tá? Acho que eu tô pronto.

Sonora Bob  [05:20 – 05:54]

E aí eu percebi que a maioria dos meninos atendiam de forma muito fria, sabe? Era muito uma coisa eu vou ali como cara, dou pro cara, faço o que eu tiver que fazer e acabou. Então eu pensei: não quero fazer isso. Eu quero que todos os clientes que estiverem comigo, se sintam como se estivessem num encontro. Não quero que pareça uma coisa de serviço. E deu muito certo, porque uma coisa que é muito engraçada é que nenhum cliente meu nunca deu dinheiro na minha mão, nunca acabou o programa ele pegou falou tô, tá aqui o dinheiro era sempre uma coisa, tipo. Ah, tá ali em cima. Ah, coloquei na sua bolsa

Off

A real é que, de acordo com o porte físico, o jeito e as preferências do garoto e como ele se vende, ele costuma ter um público alvo mais claro. O Falcão por exemplo é parrudo, barbudo e faz muito sucesso com um público fetichista que, como ele mesmo colocou, curte uma vibe mais de caminhoneiro

Sonora Falcão [31:12 – 32:02]

É que eu sou um cara bem Pig, sabe o que é isso, né? Tipo então meu cheiro natural, o suor da barba, do sexo, tudo… Se eu falar para um cara agora, se um dos meus clientes pig me procurava já chega perguntando se tá suadão, como tá a cueca e tal. Eu já falo tá tudo no grau. Às vezes uma cueca de uma semana de duas semanas eu vendo por 50 reais. Mas aí você tem que ver que os que competem comigo é no meu perfil. É mas tipo barbudão forte, alto… então esse perfil não tem nada feminino, não tem nada nada, é bem rústico. Tanto é que eu saio com os caras assim e ninguém nem cata que eu sou garoto de programa

Off 

Algo que os caras repetiram bastante nas nossas conversas foi essa necessidade de se adaptar. Seja todo dia para cada cliente, para as oportunidades que aparecem, no mercado profissional ou nas adversidades. Até mesmo na vida pessoal, para lidar com família, amigos, conhecidos… nas palavras do próprio falcão, a vida te ensina a ficar esperto.

No próximo e último episódio, vamos conhecer essa vida pessoal e quem são os caras além dos programas

Créditos

APÊNDICE E – Roteiro Episódio 5

Sonora Victor [11:37 – 12:02]

Não é todo mundo que sabe o que eu faço. Então, tipo, não que eu tenha vergonha disso nem nada, mas… aí não procuro divulgar. Tem ali os sites né? O meu Instagram eu divulgo ainda algumas fotos um pouco mais eróticas. Quem quer entender, entende, chama, mas não coloco lá o link de Privacy e Only Fans ou algo do tipo

Off

Os garotos de programa são, antes de tudo, garotos. Pessoas que intercalam entre trabalho, descanso e vida social como todos nós.

Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Para este episódio, vamos sair um pouco desse ambiente da prostituição e entender como é a vida dos meninos além do trabalho, mas também ver como o trabalho afeta essa vida

Vinheta

Off

Dentre os vários estigmas que existem sobre a prostituição, um que muitas pessoas tem é sobre a relação dos caras com as famílias. Cada relação é diferente, claro. Assim como cada família vai reagir de um modo diferente, mas foi interessante poder ouvir histórias de aceitação e de respeito também se mostrando presentes nessa pesquisa. O Bob conta que a mãe dele sacou rapidinho que ele tava com uma renda a mais e fez questão de sanar toda a curiosidade que tinha

Sonora Bob [17:14 – 17:59]

Toda a minha família sabe de tudo o que eu faço. Não escondo de ninguém, nunca foi… na verdade, no começo eu não cheguei contando, mas houve um dia que eu cheguei na casa da minha mãe de táxi e ela falou “você veio de taxi?” Nem uber tinha naquela época. Aí eu falei “vim”. E ela “de onde você arranjou dinheiro pra vir de taxi?” E eu falei “ai, to trabalhando, to fazendo eventos e tal”. Ela falou “você sempre fez eventos, nunca teve dinheiro para andar de táxi. Agora tá morando sozinho, tá pagando aluguel e tem dinheiro para andar de táxi. O que você está fazendo?” Aí, eu fiquei quieto. Aí ela virou para mim e falou: Você tá fazendo programa? E eu falei “tô”, aí ela quis saber onde, como, quando, por que, quanto eu cobrava, o que eu fazia e que eu não fazia

Off

Por outro lado, o Falcão teve uma relação mais conturbada. Assumir que ficava com caras e, depois sobre a prostituição fizeram com que eles se afastassem por anos.

Sonora Falcão [43:48 – 44:32]

Por causa de família, minha mãe fez da minha vida um inferno. Me botou para fora, jogou minha mala, tudo, na época. Aí foi na época, foi quando foi o gatilho pra ser puto mesmo também. Mas depois disso, quando ela ficou com o pé fodido, que as mesmas pessoas que deu o gatilho para ela fazer… acho que ela se viu sozinha… foi quando eu voltei e botei no prato branco para ela. Falei ó agora, desse tempo que ela ficou de se separado a vida é assim, assim, assim, se quiser É assim, porque eu tava vivendo sozinho do mesmo jeito.

Off

Não foi uma jornada simples, mas dava pra ver conversando com o Falcão que ele não trazia arrependimentos de nenhuma escolha até então, e que ele seguia pronto pra se adaptar conforme as condições fossem mudando. Ele e a mãe se reaproximaram, mas a relação carrega muito desavença ainda

Sonora Falcão [44:33 – 45:00]

Aí ela me abraçou e chorou e a gente tá até hoje. Hoje ela tá esquizofrênica, não fala com a família, eu acho que isso daí é uma forma de ela ver que no final ela virou as costas para mim e quem tá do lado dela sou eu hoje, com a situação que ela tá. E tem hora que me irrita, tem hora que dá vontade também de jogar ela pro alto que nem ela fez comigo porque você lidar com uma pessoa assim que o humor é por hora não é fácil 

Off

No fim, o que ele cobra dos familiares nada mais é do que respeito. Que ele possa viver a vida sem ficar sendo criticado pelo o que é

Sonora Falcão [45:00 – 45:25]

E hoje, contato com a família é o básico. Tem uma com uma que eu gosto que sempre me apoiou. Me apoiou, que eu falo assim, não é me apoiou tipo vai ser puta na rua, ser puto. Nunca me criticou 

Apoiar para mim é você ser neutro é você não apedrejar, é você não vê uma situação que não tá boa e você ir lá e piorar, entendeu? Não atacar, porque as pessoas, queiram ou não, elas são muito influenciáveis

Off

Mas no meio gay (e de tantas outras minorias), se percebe rápido que as amizades são muitas vezes mais importantes que a família. Que a rede de proteção que se tem vai muitas vezes vir desses colegas e amigos. O Victor, que a gente ouviu no começo, pode até não contar pra família sobre essa vida de prostituição, mas com os amigos, ele enxerga um outro tipo de relação, mais transparente, inclusive, entre os próprios GPs

Sonora Victor [4:40 – 5:10]

Eu acho que dentro da comunidade gay, em todas as tribos, sempre tem aquele conjuntinho meio que por proteção, por por sermos um pouco mais vulneráveis em questão a homens hétero, né? Então como as travestis são unidas, como as trans são unidas, os garotos de programa tem um pouco dessa união assim e do contato também. Eu não vejo como uma rivalidade, porque é um mercado de venda também querendo ou não, mas eu não vejo essa competitividade

Off

O Bob, por outro lado, que sempre fazia um atendimento mais próximo e íntimo com os clientes, acabou entrando na vida de vários além dos programas, ele me contou que o melhor amigo dele hoje é um ex-cliente. E que até viajar pra conhecer a família de cliente ele já foi. Mérito, segundo ele, desse modo que ele tinha de tratar os caras com menos frieza.

Já o falcão teve uma experiência muito diferente ao longo dos anos. Tanto com os outros GPs quanto com os clientes. O que ele contou foi que ele perdeu muitos amigos com o passar do tempo e hoje em dia ele tem dois amigos que ele pode contar.

Sonora Falcão [12:10 – 12:52]

Eu não entendo muito ele nem procuro entender porque é aquela coisa que tem época que ele tá bem aí não quer saber, aí quando despenca vai atrás. Aí eu peguei e falei assim, eu cansei de procurar pessoas assim, mas ele é meu amigo.

Cara, eu acho que você sendo um garoto de programa, você entende várias coisas da cabeça das pessoas. Tudo o que você se aprofunda para querer saber depois a pessoa te cobra um jeito de você… É então quando você escuta é um “ai tá bom, tá certo”. Ele é meu amigo e tudo eu já falei meu ponto de vista para ele. Já falei só que eu também não fico que nem uma mãe em cima, se você acha que é conveniente assim, viva assim

Off

Além disso, falando do cenário atual da prostituição, ele diz ser muito mais difícil conseguir ter amigos ou sequer confiar nas pessoas. Se no início dos anos 2000 ele estava vivendo aventuras com os amigos no interior de São Paulo, hoje ele diz que tem que tomar muito mais cuidado pra não te puxarem o tapete. Especialmente numa era de redes sociais e brigas por ego.

Sonora Falcão [11:10 – 11:58]

Eu ia também com uns dois ou três amigos, que um tinha carro. A gente dividia as despesa de pedágio, gasolina, e saía louco. Ih, quantas vezes eu não fui em república de gente de faculdade. É porque a gente ia se hospedando em lugarzinho e tinha que ser barato, senão não vinga. Você acha que eu vou ficar pegando flat, eu só pegava flat, quando eu tava com o viado top assim que viado batia que me abatia, mas às vezes você ganhava eu nã. Ah, não, a gente tava em parceria, então eu vou fazer a sua parte. Eu vou te deixar lá na cidade? Não né. Vou te largar? Mas a amizade de hoje em dia já deixa viu? As de hoje, às vezes sabe que a pessoa não presta e fala “não, entra, pode ir que ele ele paga bem”. Hoje é muita trairagem também. Não foi só as pessoas em si, os campos de trabalho que mudou, foi tudo. Até nesse mundo também.

Off

E além dessas relações no meio de trabalho e de família, algumas mais ou menos tensas ou agradáveis, os caras também tem uma vida social, de sair, ver amigos e se divertir. E é sobre isso que eu vou falar no próximo episódio.

Créditos

APÊNDICE F – Roteiro Episódio 6

Off

Após todos esses episódios, eu me apresento uma última vez. Eu sou Luiz Attié e nessa série de reportagens eu quero mostrar melhor como é a vida, os ônus e bônus de ser um cara fazendo programa nessa cidade.

Para fechar essa série, eu perguntei sobre o que os meninos gostavam de fazer no tempo livre, se eles iam pras festas do meio gay se divulgar ou se iam se divertir. Nisso, o Victor trouxe um ponto relevante sobre esses ambientes que eu notei o Falcão trazer também. Quando o pessoal quer se divertir, eles não querem também trabalhar. E pra quem trabalha com a própria imagem, isso também significa querer poder ser livre pra se portar como quiser

Sonora Victor [10:24 – 11:06]

Meus amigos que são GPS que que usam isso como sobrevivência, precisa disso para pagar aluguel e, tipo, eu não preciso porque tem uma tem outras outras rendas. Eles criam um perfil, um estereótipo, para se apresentar para o cliente na rua. Então, aconteceu várias vezes de tá com um amigo meu em festa, que vive disso, com o famoso leque na mão. Aí tava lá se soltando, a fêmea que existe dentro dele.Aí lembrou ai não, vai que tem algum cliente meu aqui, eu preciso me resguardar um pouco, então você tira um pouco essa liberdade de fora pra quem tá na cena

Sonora Falcão [21:44 – 22:01]

Sauna até que eu vou, mas eu vou como cliente, não como um prestador de serviço essas coisas. Mas aí eu já vou naquelas outras que é lá… tudo fora do povo que me conhece. E assim mesmo eu ainda encontro pessoas que falam Ah eu te conheço.

Off

Essa separação entre trabalho e lazer também é bem conhecida pelo Bob, que sabe diferenciar a festa que ele é contratado e a festa que ele tá só pra se divertir. Ele contou que por 3 anos ele fazia “boy interativo” nas festas, que é o cara que fica lá no palco pros caras… interagirem com ele. Tipo um strip, mas que faz mais do que só tirar a roupa. Ele ia pelo cachê e aproveitava, mas como cliente ia já com outra energia.

Outra coisa que ele separa é o sexo por prazer e o sexo por trabalho. Um ditado popular da internet diz: “trabalhe com o que você ama e você nunca mais vai amar nada na vida” e eu admito que eu mesmo parei pra pensar, será que eu não enjoaria? Mas o Bob me disse que com ele não foi assim. Para ele, são simplesmente relações diferentes entre as pessoas

Sonora Bob  [20:59 – 22:15]

Mas eu sempre separei muito o sexo trabalho e o sexo pessoal. Eu vejo que tem essa dúvida, né? Como que é o sexo para quem trabalha com sexo? Porque se eu tô fazendo sexo a trabalho o meu interesse é dar prazer para o outro, eu não tô interessado se eu senti prazer, se eu vou gostar, então a minha cabeça tá num lugar onde eu não consigo relaxar plenamente e curtir plenamente aquilo. Não que não seja bom, às vezes é muito bom, mas ainda assim não é a mesma coisa porque eu tenho preocupações que no sexo normal eu não tenho.

No sexo normal a preocupação é curtir ali, a pessoa curtir ali. Por exemplo, se eu tô trabalhando, eu fico pensando “ela tá gostando disso”, “ela não tá gostando disso?” “será que assim ela gosta, assim não?” Aí tem que ficar prestando atenção na respiração, prestar atenção na pele e se arrepiou. Tem que prestar atenção numa porção de coisa, então acaba sendo uma coisa muito técnica. Eu nunca deixei ficar frio, mas eu to com outra mentalidade.

“Quando não é a trabalho, quando é só prazer você aproveita também?”

Sim, e aí eu consigo curtir e eu consigo me satisfazer sexualmente. No trabalho eu não consigo. Posso transar 40 vezes no dia que eu não vou estar satisfeito sexualmente porque foi trabalho

Off

Mas não só de sexo vivem os caras. Os hobbies, os passeios são muito mais profundos do que isso

Sonora Falcão [19:58 – 21:40]

Quando eu to de boa assim, beber uma cerveja com os parceiro, jogar conversa fora, relembrar o tempo bom das coisas que nem eu tô te dizendo agora… pegar o carro, que nem às vezes meu amigo tá aqui ele chega aqui nós vamos para Osasco. Cara, viver coisas totalmente oposta do que eu já vivi. Às vezes a gente paquerada no bar. Aí a gente se rende e faz essas coisinhas tipo “ah, vou ficar de boa” para não falar o que a gente faz.  Se eu tô no intuito com ele também, que eu te falei que é que nem andar de bicicleta. Se grana tá curta, aí eu já encaixo uma coisa na outra. E se ele não pode soltar o que a gente espera, então pelo menos pague pela presença. Você sabe o que é isso, né? Assuma a conta. É, assuma a conta da mesa. Uhum, porque se ele falar que também não assume a minha conta da mesa, eu falo então pode ser retirar. Pode se retirar que eu prefiro dar atenção para o meu parceiro do que uma pessoa que vai me consumir que eu nunca vi, vai me trazer problema. Não vai fazer nada, ainda vai gastar meu dinheiro com ela. Deus me livre.

Fora esse Hobby também, o que eu gostava de fazer, eu gostava muito de ir no parque do Ibirapuera, eu ia e voltava a pé pegava aquela brigadeiro eu já fui e voltei várias vezes. Eu gosto de tomar cerveja com os parceiro. Ah, cara, eu não sou de cinema não, gosto de ir na casa dessa minha amiga que é de escola que ela é casada com meu primo, aí a gente almoça. Olha cara, eu vivo uma coisa totalmente oposta

Off

E assim, um dia após o outro, os caras vão seguindo, sobrevivendo, vivendo, aproveitando o que tem para aproveitar e se preparando para o futuro. Futuro esse que pode estar cheio de planos. Conversei faz um tempo com o Raphael, que disse que queria parar assim que terminasse a faculdade para crescer na área. Quando retornei com ele recentemente, ele me disse que não faz mais programa.

Não que os caras necessariamente queiram parar de fazer, mas eles todos falam com consciência de que é um trabalho muitas vezes com prazo de validade. O Victor tem seu trabalho CLT, o Falcão sempre se adaptou em bicos como pôde, trabalhou em telemarketing, pet shop e hoje trabalha no bar de uma casa de massagem. E o Bob quer criar e crescer com o próprio negócio!

Sonora Bob  [15:00 – 15:15]

Ano que vem eu quero abrir alguma coisa minha. Eu queria um bar na verdade.

Sonora Bob  [15:46 – 16:23 ]

“Você pensa em voltar pro centro? Você está na zona norte ainda, né?”

Não gosto do centro pra morar, eu acho que para morar aqui tem que ter muita cabeça e eu não tenho, então eu sou muito sincero comigo mesmo e eu sei que se eu viesse morar aqui eu ia me afundar. Então não venho, acho que aqui é tudo muito fácil, então me deixa lá no bairro que eu to bem lá.

“E aí não volta mais para essas bandas?” 

Nunca morei aqui. Nunca quis morar aqui. venho só pra trabalho, pra me divertir

Créditos