A andropausa existe?

 

 

 

 

 

Cecília Bastos
“Nos Estados Unidos, o mercado de anabolizantes e testosterona movimenta US$ 2 bilhões por ano. É uma exploração”, diz o professor Miguel Srougi.

 


“A dieta também é muito importante como preventivo dos sintomas da andropausa. Os homens nesta faixa etária devem restringir o colesterol e o açúcar, além de comer alimentos com maior teor de sais minerais e vitaminas, tais como hortaliças em geral e frutas.” Jocelem Salgado, professora de nutrição da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz)

A expectativa de vida cresceu significativamente nas últimas décadas e a longevidade deixa mais evidente nos homens os efeitos da diminuição do testosterona ao longo dos anos. Por isso, fala-se mais em andropausa hoje em dia. Alguns médicos consideram o fenômeno responsável direto pela perda de qualidade na vida masculina, e julgam necessário iniciar o tratamento com reposição hormonal. Outros, no entanto, entendem que a reposição deve ser feita apenas em indivíduos afetados pelo Daem, isto é, quando existe uma alteração comprovadamente anormal.

“Como a andropausa não é algo muito claro, e a reposição da testosterona pode causar transtornos, só deve ser usada em casos fora do comum para os homens”, recomenda Miguel Srougi, urologista e professor da Faculdade de Medicina da USP. Ele também cita um artigo de outubro do New England Medicine Journal, uma das publicações médicas mais importantes no mundo científico. O artigo coloca em xeque os resultados da reposição hormonal, geralmente utilizada para combater os sintomas da andropausa - perda de libido, aumento da gordura corporal e descalcificação óssea. Segundo os estudos divulgados, o uso de testosterona só é capaz de amenizar a descalcificação. Isso confirma o equívoco na utilização do hormônio para garantir bom desempenho sexual, como muitos consumidores desavisados pensam ao comprar medicamento sem recomendação médica.

A caminho do consultório

Um tratamento adequado com reposição hormonal não provoca câncer. A contra-indicação é feita somente em caso de pessoas que já possuem um tumor na próstata.

O não acompanhamento da andropausa e do Daem implica na convivência com sintomas muito perturbadores para o homem. A irritabilidade, apatia e desinteresse sexual atrapalham a qualidade de vida. “A consulta ao médico vai certificar que as perturbações não foram causadas por fatores psicológicos. Aí tem início o tratamento”, explica o urologista Aguinaldo Nardi.

Por isso, é importante quebrar o tabu que afasta homens do consultório médico. “Meu marido só faz consultas porque é uma exigência da empresa”, acusa Leonor Andrade, bibliotecária da Escola Politécnica. “Ele tem medo de descobrir que tem algum problema no organismo”, completa. Na USP Leste, a secretária Rosana Cunha afirma: “É preciso entender que ir ao médico é uma coisa natural”.

Reginaldo Mariano da Silva, da Escola Politécnica, concorda que existe o tabu: “Acho até um defeito. A gente nunca vê um grupo de homens falando sobre isso. Por conseqüência, tem menos divulgação das informações.” Por outro lado, João Notoriano, funcionário da Reitoria, em resposta à enquête da revista Espaço Aberto, deu uma luz: “ Desconheço qualquer menção a esse tipo de preconceito. Seria descabido e inconseqüente, pois nada melhor que procurar atendimento médico nesses momentos. A opção pela dor e sofrimento por conta da desinformação é aceitável, mas por preconceito, é ignorância pura”.

< anterior página 1 | 2

   





web
www.usp.br/espacoaberto