texto: Por Circe Bonatelli
Fotos: Cecília Bastos/ João Neves


 


O estresse

Segundo a pesquisadora Roselene Crepaldi, do Laboratório de Psicopedagogia, o ritmo da sociedade provoca o afastamento dos pais, mesmo que todos tenham a real vontade de passar mais tempo com seus filhos. “O problema é o convívio esquecido. As famílias acabam por transmitir a responsabilidade da educação para as escolas, que oferecem um aprendizado cheio de regras e fórmulas. Onde ficam os valores humanos que se aprendem em casa?”, questiona.

A pesquisadora Roselene adverte que presentes não substituem a presença dos pais

 

créditos: João Neves
Sandra precisa organizar a vida dos três filhos. Para evitar aulas extras, procurou uma escola com período estendido e mais atividades. Quem não pode pagar, precisa de outra solução.

 

 

créditos: João Neves
“Melhor deixar a correria para os adultos. Senão, quando elas vão poder ser criança?” Clélia Cardoso.

 

 

 

O resultado do afastamento são crianças com agenda completa para compensar essa ausência. Então, de maneira natural e impensada, os pequenos procuram estratégias forçadas para conseguir algum tempo livre. É aí que surgem as birras, manhas e fingimentos, além dos sintomas do estresse como falta de concentração, irritabilidade e carência.

A funcionária Clélia Camargo Cardoso, do Centro de Informática do campus de Ribeirão Preto (Cirp), testemunhou esses casos durante um período em que trabalhou como professora antes de chegar à Universidade. “Eu via muitos alunos com tempo contado. Depois da aula eles já tinham outras coisas marcadas, viviam numa correria igual a de adultos.”

O professor Lino de Macedo, do IP, ressalta que a tendência é exatamente essa: crianças imitando adultos. “Eu entendo a preocupação dos pais em organizar a agenda dos filhos. Mas, a agenda cheia na infância provoca hábitos idênticos aos dos mais velhos: chegar em casa e deitar no sofá, ficar assistindo à TV, ir dormir, etc. Enfim, a criança fica passiva.”

De acordo com o psicopedagogo, o recomendado é que meninos e meninas de até 12 anos não fiquem mais que seis horas do dia ocupados. “São quatro horas de escola e mais duas com atividades programadas. Esse valor é variável, há crianças mais tranqüilas e outras mais excitadas. O importante é que tenham tempo livre em um ambiente familiar, com companhia e brinquedos, podendo exercitar, sem compromissos, a própria realidade.”

A funcionária da seção de eventos do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica), Sandra Nava, procurou um modo de amenizar a distância dos três filhos, um com sete anos, e os gêmeos, com quatro. “Eu sei que eles sentem minha falta, e eu não confio em babás ou empregadas para cuidar deles.” A solução de Sandra foi procurar uma escola em período semi-integral, onde já são oferecidas todas as aulas que costumam ser complementadas em cursos particulares, como inglês, informática e natação. “Eu fico aliviada ao deixa-los sob cuidados de adultos bem orientados. Já em casa, para suprir nosso afastamento, eu e meu marido pensamos em atividades para fazer os filhos participarem da nossa vida. Eles me ajudam a preparar a mesa do jantar, lavar uma salada, e eu os ajudo com lição de casa ou brincamos de desenhar. Quando estão mais cansados, eu leio uma história ou rezamos.”

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