“Há leitores para o Paulo Coelho e há leitores para o Osmar, o
público dele não está nas livrarias.” Plínio Martins
“Escrevo para o público universitário, os vizinhos, os freqüentadores
da região, o pessoal do CEU Butantã, para aqueles que me viram
crescer, mas quero fazer meus livros chegarem ao maior número possível
de pessoas. Aqui tem uma lição de vida.” Osmar Afrísio dos
Santos
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Entre
1985 e 1989, com o apoio financeiro de
seu Manoel, Osmar cursou pedagogia nas
Faculdades Integradas Hebraico-Brasileiras
Renascença. Dos trocadilhos com
o jargão científico, o
garçom logo passou aos versinhos,
que cativavam ainda mais os freqüentadores
do Rei das Batidas. Conhecendo seu talento
para a comunicação e sabendo
de sua longa trajetória no bar,
alguns fregueses passaram a incentivá-lo
a escrever um livro que contasse a história
do bar.
“Quando comecei a escrever era para
um grupo de cerca de 200 amigos que me
incentivavam. Pessoas da FFLCH, da Odontologia,
da FEA, da ECA, entre outras, que freqüentavam
o Rei”, conta o garçom-escritor.
Finalmente decidido a publicar um livro,
Osmar foi à luta: para conseguir
fazer a impressão, buscou patrocínio
com amigos, fregueses e até com
os patrões; a editoração,
por sua vez, ele conseguiu gratuitamente,
na Com-Arte, uma editora-laboratório
da ECA.
Plínio Martins, diretor da Edusp
e professor responsável pela Com-Arte,
relata que, inicialmente, houve resistência
de alguns alunos em investir no livro
de Osmar. No entanto, essa barreira acabou
sendo superada: “Não deveríamos
ser elitistas e publicar no laboratório
apenas aquilo que o establishment considera
como bom. Um livro como o dele poderia
ter um público muito maior do
que o de muitas teses”. De fato, a previsão
de Martins se concretizou. Lançado
em 1996, Sem Rei Nem Bar, Somente
Osmar já está em
sua quarta edição.
Considerado pelo autor “um despejo amorfo
de idéias e pensamentos”, o livro
vem sendo vendido principalmente no boca
a boca, nas conversas com os freqüentadores
do Rei das Batidas, que, por sinal, são
o principal assunto da obra. Ele chegou
a ter espaço em algumas livrarias,
como a Belas Artes, mas isso não
ocorre mais atualmente. Supervisor do
trabalho de editoração
do livro, Martins julga normal essa rejeição: “Há leitores
para o Paulo Coelho e há leitores
para o Osmar, o público dele não
está nas livrarias”.
Hoje, mais de dez anos após a
publicação de Sem Rei
Nem Bar, Somente Osmar, o autor
começa a divulgar e vender sua
segunda obra. Copos na mão,
idéias em vão é uma
continuação da primeira
e apresenta ao leitor uma compilação
de pequenos poemas em verso e prosa,
sempre baseados nas experiências
diversas vividas por Osmar nesses mais
de 30 anos como garçom do Rei
das Batidas. O livro traz organização
e comentários de Antônio
Celso Xavier de Oliveira, um antigo freguês
que atualmente trabalha no Itamaraty.
Osmar não objetiva apenas fazer
um relato poético de situações
muitas vezes inusitadas. Seus livros são,
para ele, quase uma missão: “Acredito
que eu posso ser um veículo de comunicação
para as pessoas. Aqui dentro tem uma lição
de vida: falo de Deus, das relações
humanas, da humildade, dos exageros e suas
conseqüências”. Embora escreva
para o público local, Osmar sonha
em fazer seus livros chegarem ao maior
número possível de pessoas. “Meu
objetivo não é fazer disso
um comércio. Quero fazer uma divulgação
social, um incentivo à cultura popular
e, principalmente, quero ajudar a mudar
a vida das pessoas, especialmente na parte
sentimental.”
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