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“Em primeiro lugar não está o medo da gravidez ou o risco de doenças
sexualmente transmissíveis. Primeiro vem o medo de não agradar
o parceiro”, afirma a médica Albertina Duarte Takiuti sobre os/as adolescentes.

Jovens confirmam saber como se prevenir durante as relações
sexuais, mas acabam se expondo por causa de “emergências”.
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Ingredientes que expõem os jovens na
hora H
A gravidez precoce
e a contaminação por doenças
sexualmente transmissíveis em jovens com menos
de 20 anos estão mais relacionadas à baixa
auto-estima do que à falta de informação.
Quem chega a essa conclusão é a equipe
da Casa do Adolescente, programa criado pela Secretaria
da Saúde do Estado de São Paulo nos
anos 90 para prestar atendimento médico e
psicológico a adolescentes de ambos os sexos,
entre 10 e 19 anos.
Eles divulgaram uma pesquisa mostrando que 67% das
garotas entre 10 e 20 anos são insatisfeitas
com o corpo. Outras 37% têm vergonha do físico
e se afastam do convívio social (deixam de
sair com os amigos, têm timidez excessiva e
tristeza constante) por causa disso.
“Os adolescentes não têm falta de informação.
No século 21 isso é impossível”,
afirma Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do
Programa de Saúde da Adolescente e professora
da Faculdade de Medicina da USP.
“Se as meninas têm vergonha do próprio
corpo, elas não negociam. Elas não
têm coragem de falar de suas emoções
e sentimentos. Elas não têm coragem
de dizer: sem camisinha eu não transo”, continua
a professora.
“Em primeiro lugar não está o medo
da gravidez ou o risco de doenças sexualmente
transmissíveis. Primeiro vem o medo de não
agradar o parceiro. E o menino também é assim,
só que o medo é o de falhar. Por isso
aceitam qualquer migalha de amor, porque procuram
aprovação”, arremata Albertina.
Aprovação x informação
A Casa do Adolescente, no bairro de Pinheiros, em
São Paulo, promoveu uma roda de bate-papo
entre os jovens e educadores para falar do assunto.
Camila, 16 anos, participou da conversa e contou
que já se expôs precipitadamente. “Desde
o começo do ano, eu já tomei a pílula
do dia seguinte por duas vezes. Eu sei que não é certo
tomar essa pílula sempre, mas foi caso de
emergência”, disse, mesmo concordando com o
uso de outros métodos contraceptivos, como
preservativo e anticoncepcional.
Mirian, 14 anos, retrucou: “Eu acho que a gente
tem que pensar bem antes de fazer qualquer coisa.
Depois que já foi, tem que agüentar as
conseqüências”, argumentou, condenando
a pílula do dia seguinte.
Na USP, os adultos também dão seus
pareceres: “Acho que não é bem falta
de informação, é falta de princípios.
A educação começa em casa e
os pais precisam orientar mais as filhas. Hoje, elas
estão mais atiradas porque se iludem com o
que aparece nas novelas”, opina Iracema da Silva,
mãe, avó e funcionária da FAU
(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo).
Carlos Ramos, do IP (Instituto de Psicologia) concorda
que não falta informação. Pai
de dois moços que já ultrapassaram
os 20 anos, ele entende que muitas vezes há falta
de diálogo na família: “Eu nunca deixei
meus filhos sem respostas. Eles têm o livre-arbítrio
e, na minha opinião, nunca erraram nesse ponto”. |