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por Talita Abrantes
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

arte sobre foto de Cecília Bastos


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Foto crédito: Cecília Bastos
Criador de uma vacina que breca o crescimento de dois tipos de tumor, José Alexandre Barbuto, do Instituto de Ciências Biomédicas, está animado com a possibilidade de estender a técnica para outros cânceres.


Vacina e laser são novidades na prateleira do tratamento da doença

A cura para o câncer, propriamente dita, ele ainda não descobriu. Mas os olhos brilham como se ele tivesse encontrado a fórmula para aniquilar a doença da face da terra. Com o sorriso de orelha a orelha, o pesquisador José Alexandre Barbuto, do Instituto de Ciências Biomédicas, fala da vacina contra melanomas (um tipo de câncer de pele) e tumores de rim que desenvolveu com a alegria de quem sonha distribuir esperança para o mundo.

Tanto entusiasmo não é para menos. Barbuto entrou na cruzada dos que buscam novos tratamentos para o câncer em 2000. Quatro anos depois fechou o estudo com resultados animadores. A vacina, criada por ele, conseguiu brecar o crescimento de melanoma e tumor de rim nos pacientes por no mínimo três meses em 80% dos casos.

Para desenvolver o novo tratamento, o pesquisador decidiu trabalhar com as células dendríticas, responsáveis por, em linhas gerais, apontar para o sistema imunológico quando há algo de errado com o organismo. " Ela funciona como uma espécie de vitrine que mostra a substância para o sistema imune de forma que ele compre a briga ou não", explica. Nos pacientes com câncer, a célula não trabalha direito. "Ao invés de ser uma vitrine que induz o combate, ela induz a tolerância." Ou seja, o sistema imune entende que o câncer é um tecido normal.


 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
A fototerapia dinâmica, implantada no Brasil pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato, une o laser a uma droga fotossensível para atacar os tumores.

Mostrar a verdadeira face do câncer para o sistema imune não é uma tarefa fácil. Para isso, Barbuto precisa recolher um fragmento do tumor do paciente, fundi-lo com a célula dendrítica de outra pessoa e aplicar no paciente. "Quando mistura esta receita com a 'vitrine errada', o sistema enlouquece", observa. "A idéia é mostrar o tumor como se fosse um órgão transplantado."

O próximo passo do pesquisador é usar a mesma estratégia para outros tipos de câncer. Ele diz já ter alguns sinais de que está no rumo certo. "Em 2004, aplicamos a vacina em uma criança com neuroblastoma grave. Ela tinha dor generalizada", narra Barbuto. "Depois que tomou a vacina houve evidências de que o sistema imune começou a trabalhar." Tanto que a dor parou.

Apesar dos resultados animadores do tratamento que desenvolveu, o pesquisador sugere cautela aos familiares que buscam a cura para o câncer.

"Quem deve saber se o tratamento é adequado para cada caso é o médico", afirma. A vacina só foi testada para câncer de rim e melanoma, mas ainda assim não substitui os outros tratamentos.


 

Foto crédito: Daniel Fassa

Se no método de Barbuto a arma contra o câncer é o próprio sistema imune, no tratamento implantado no Brasil pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato, do Instituto de Física de São Carlos, o laser é usado como principal instrumento de combate.

A técnica do professor Bagnato, chamada de fototerapia dinâmica, alia aplicação do laser com a administração de uma droga sensível à luz do raio. Essa substância é injetada na corrente sanguínea do paciente e se concentra nas células cancerígenas. Um dia depois, o laser é aplicado na área do tumor. A partir daí, acontece uma série de reações químicas que levam a célula cancerosa à morte.

A pontualidade do procedimento é uma das principais vantagens enumeradas pelo professor. “ Quanto menos matarmos as células não tumorais de um indivíduo, melhor”, aponta. Além disso, “é um método de simples aplicação. Não exige grandes investimentos”.

 
 
 
 
 
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