Por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos

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Foto crédito: arquivo pessoal
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Exilar e torturar músicos, professores e políticos foi pouco para um governo que teve a pretensão de censurar uma epidemia

Crescendo em meio à ditadura, em pleno AI-5 (Ato Institucional nº 5) Paulo Narvai não deixou de participar de reuniões clandestinas para a reorganização da UNE (União Nacional dos Estudantes), presenciou o sumiço de amigos, e sofreu agressões da polícia responsável por “conter” as manifestações contra o regime. Os métodos repressores mencionados por Narvai são muitos, mas o cirurgião-dentista é categórico ao lamentar a ação do governo diante de uma epidemia de meningite.

Narvai lembra com pesar sua época da juventude marcada pela ditadura e comenta: “A infância e a juventude são períodos aos quais sempre voltamos com alegria. Eu volto com alegria a minha infância, mas não a minha juventude”. Foi durante essa época que o hoje professor e cirurgião sanitarista trabalhava na rádio Cruzeiro do Sul, em Curitiba. Era por meio de um mural, que a direção se comunicava com os funcionários, e que Narvai tinha acesso aos boletins da Polícia Federal, às notificações da polícia de que tal música ou notícias a respeito de guerrilhas urbanas e rurais haviam sido censuradas.

“Na época entre 74 e 75, o governo brasileiro chegou ao ponto de censurar uma epidemia de meningite.” Isso ocorreu como uma tentativa do Conselho de Segurança Nacional de manter a boa imagem do Brasil no exterior, explica o professor. Os casos de meningite começaram a aumentar até o ponto em que os epidemiologistas detectaram a epidemia, o que fez com que órgãos de imprensa começassem a noticiar. Mas o governo “censurou a epidemia”, proibindo a divulgação de informações. Depois de algum tempo, no entanto, não havia mais como controlar a doença e o governo admitiu o problema, iniciando uma campanha de vacinação em massa para conseguir controlar a epidemia.

O professor destaca que depois de algum tempo o acontecido virou mote para piada, isso porque a “informação faz parte do enfrentamento da epidemia. Se você nega a informação, você contribui para a epidemia aumentar”. “É risível o governo se ocupar de censurar a esse nível. Censurar uma epidemia é o máximo do máximo do absurdo.”


 

 


 
 
 
 
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