Por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

Foto crédito: Francisco Emolo

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Depois de 25 anos de seu primeiro envolvimento com a Antártica, a USP mantém forte atuação no continente

 

 

 

Foto crédito: Cecília Bastos
Segundo Antonio Carlos Rocha-Campos, a USP foi muito importante para as pesquisas iniciais do Programa Antártico Brasileiro


O pioneirismo da USP nas pesquisas antárticas brasileiras alcançou conquistas científicas e a integração de seus pesquisadores

Um continente de extremos. A Antártica, segundo publicação oficial do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), é o mais isolado, frio, ventoso, elevado e seco dos continentes. A menor temperatura já registrada foi de -89,2°C e a maior velocidade registrada dos ventos foi de 327 quilômetros por hora. Nessa área, que guarda 90% do gelo do mundo e 80% da água doce, foi instalada em 1984 a Estação Antártica Comandante Ferraz. Ela foi um dos desdobramentos da primeira expedição científica brasileira na gélida região que ocorreu no verão austral de 1982/83. Dela faziam parte os navios Barão de Teffé, da Marinha do Brasil, e Prof. Wladimir Besnard, do Instituto Oceanográfico (IO).

A Antártica é o único continente sem divisão geopolítica, ou seja, como conta Antonio Carlos Rocha-Campos, coordenador científico do Programa Antártico Brasileiro, “a região não é de ninguém em especial”. O Brasil aderiu ao Tratado da Antártica, cujos países membros gerem a região, em 1975 e sete anos depois se tornou membro consultivo, o que significa dizer que passou a ter direito a voz e voto em relação as decisões do continente. Isso ocorreu principalmente devido às pesquisas que passou a realizar no local.

Segundo o professor Rocha-Campos, a Universidade contribuiu muito para isso. “A participação da USP não só foi pioneira, como foi muito importante para a fase inicial do programa antártico, deu mais densidade e conteúdo a ele.” O navio Prof. Besnard participou de seis expedições e na segunda delas estava Vicente Gomes, hoje professor do IO e um dos membros do Centro de Pesquisas Antárticas da USP. Gomes viajou em 1984 e conta que o trabalho de seu grupo centrava-se no estudo do krill, crustáceo parente do camarão e importante para a cadeia alimentar da região. “Nós estudávamos o krill em volta da antártica inteira para sabermos se ele compunha uma mesma população ou se havia populações diferentes.”

 

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Vicente Gomes destaca que “um dos objetivos do Centro de Pesquisas Antárticas é divulgar os estudos não só da USP, mas do Brasil”


Após dez anos de participação no Proantar, foi criado em 1993, sob coordenação de Rocha-Campos, o Centro de Pesquisas Antárticas da USP. Segundo o geocientista o núcleo foi principalmente com o objetivo de congregar e de discutir problemas relacionados às pesquisas científicas dos diversos profissionais como de biociências, biomédicas e geologia envolvidos nos estudos. “A partir disso criamos o Seminário de Pesquisas Antárticas que hoje se chama Simpósio Brasileiro de Pesquisas Antárticas”, revela. Ele ainda enfatiza: “Era uma coisa doméstica, somente uspiana naquela época e foi durante vários anos. Mas no momento em que anunciamos para o mundo que a USP estava realizando o seminário todos quiseram vir”.

Este ano o Instituto de Geociências irá sediar o 15º Simpósio Brasileiro de Pesquisas Antárticas e não mais com 20, mas 100 participantes e com três dias de duração – 24, 25 e 26 de setembro de 2008. Rocha-Campos comenta que o simpósio não está ligado oficialmente ao Proantar, mas desenvolve uma pesquisa de interesse do projeto, recebendo representantes de diversas organizações federais como do Ministério da Ciência e Tecnologia (MIT), da Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar (Secirm) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Para divulgação, o centro conta com a Revista Antártica Brasileira que nasceu de um convênio entre a Secirm e a Academia Brasileira de Ciências. Uma outra iniciativa citada por Rocha-Campos foi a criação, no Instituto de Geociências, de um setor de documentos antárticos. “Como eu participei de várias atividades antárticas não só científicas, mas administrativas nos diversos órgãos nacionais e internacionais, acumulei uma quantidade enorme de documentos desde 1982”, revela o especialista. Daí o acervo de documentação.

Quando o assunto é o futuro, o professor comenta sobre projetos que ainda estão em fase de discussão, mas que tem como objetivo criar uma agenda de pesquisas para o centro. “Desejamos montar uma equipe multiinstitucional da USP e conseguir recursos e material de pesquisa para criarmos uma logística própria no sentido de ter um programa antártico uspiano. Claro que harmonicamente organizado em relação ao programa nacional”, destaca.

 

 


 
 
 
 
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