por Maria Clara Matos
foto por Cecília Bastos


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Apesar da aparente inocência, os resíduos de computadores e eletroeletrônicos em geral causam danos à saúde e ao meio ambiente


Embora poucos saibam, os resíduos gerados por materiais eletrônicos podem ter um fim ecologicamente correto

A marca dos 50 milhões de computadores em domicílios brasileiros já foi ultrapassada faz tempo. Segundo os últimos dados do IBGE, o crescimento da aquisição dessas máquinas na casa de cada cidadão é vertiginoso. De 2005 para 2006, mais de 2 milhões de microcomputadores ganharam novos lares. E esses sortudos lares, além de estarem incluídos na tão falada era digital, ganharam o que futuramente será uma grande quantidade de... lixo. A USP não fica fora desse panorama. Segundo o Anuário Estatístico de 2007, a universidade conta com cerca de 37.420 microcomputadores. Foi pensando nisso, que o Centro de Computação Eletrônica (CCE) desenvolveu um projeto para fazer uma faxina geral. O programa recupera e destaca as possibilidades de reúso e de reciclagem do lixo de informática.

Milhares de monitores, mouses, placas, teclados e telefones empilhados em salas. É fato que cada prédio da USP separa um quartinho para receber esses ilustres enteados (também chamados e-waste ou e-lixo) com os quais ninguém sabe muito bem o que fazer. O CCE, órgão responsável pelo atendimento em informática a todas as unidades da USP na capital, implementou em 2008 o Plano para a Cadeia de Transformação de Resíduos de Informática, projeto desenvolvido em parceria com alunos do S-Lab (Laboratório de Sustentabilidae) da Sloan School do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA.


 

 

 

Crédito foto: Cecília Bastos
“Nossa proposta é criar uma cadeia para o lixo eletrônico, o que significa dizer que no final do uso as pessoas saberão para onde vai esse material”, destaca Tereza Cristina Carvalho


Segundo a diretora do CCE, Tereza Cristina Carvalho, “pela pesquisa que o próprio MIT fez, a iniciativa da universidade é pioneira em nível mundial, mesmo o MIT não tem esse projeto, eles vão usar nosso como referência”. No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, foi realizada, o que, a diretora do CCE, chama de uma “simulação de pequeno porte” do que será o projeto futuramente. A ampliação do plano contará com o apoio da Agência USP de Inovação, que, como Tereza cita, também será parceiro importante para levar a universidade a adquirir computadores e impressoras verdes, ou seja, que não contenham elementos perigosos, que possam ser reciclados e visem à diminuição de resíduos.

Os funcionários do CCE foram convidados a entregar disquetes, telefones, mouses e todo tipo de eletroeletrônico que já não serviam mais e esses equipamentos totalizaram quase uma tonelada de material. “A partir de então nós vamos tentar contatar algumas empresas de reciclagem para ver o valor que é possível conseguir com essa mercadoria e revertê-lo para o próprio projeto de sustentabilidade. Em um segundo teste, nós reuniremos equipamentos maiores como microcomputadores”, avalia a diretora.

Quando os materiais são patrimoniados, ou seja, fazem parte dos materiais que compõem o patrimônio uspiano, a burocracia é maior. Elizabeth Teixeira, diretora de Inovação para a Sustentabilidade da Agência USP de Inovação, destaca que o processo envolve até mesmo modificar alguns procedimentos do Mercúrio, sistema interno da USP em que constam todas as aquisições da universidade. Hoje um microcomputador fica obsoleto em aproximadamente 3 anos, quando isso ocorre pode ser colocado em disponibilidade para outros departamentos. No entanto, Elizabeth salienta que atualmente esse computador pode ficar muito tempo no local, ocupando espaço. Assim ela conclui: “Faz parte de toda essa logística fazer com que o sistema seja mais inteligente, e perceba que se em 30 dias ninguém se interessou avise o dono para que possa disponibilizá-lo para fins de venda ou o que for definido no projeto”.


 

 

Crédito foto: Cecília Bastos
Elizabeth Teixeira destaca que a idéia do CCE junto à Agência USP de Inovação é trabalhar com manuais de procedimento e capacitação de pessoal, para que as pessoas tenham desenvolvem a consciência ecológica em sua formação

 

Crédito foto: Cecília Bastos
“A USP é um complexo que em todos os campi movimenta cerca de 100 mil pessoas, gerando uma quantidade significativa de resíduos”, destaca Oswaldo Massambani


Oswaldo Massambani, diretor-geral da Agência USP de Inovação, destaca: “Coisas sem uso, nós pretendemos dimensionar, quantificar e provavelmente fazer um leilão”. Nesse aspecto a preocupação demonstrada por todos especialistas é com as empresas que irão comprar esse material. Elizabeth enfatiza: “Muitas empresas compram, ou mesmo levam de graça os resíduos, mas não dão o encaminhamento adequado a eles, o que pode causar danos ao meio ambiente e à saúde humana”. Assim as empresas participantes dos pregões deverão ser credenciadas pela universidade. Tereza ressalta: “Deverá haver uma documentação técnica que comprove que as empresas de fato estejam acostumadas a fazer reciclagem de lixo eletrônico”.

Outra possibilidade que já é vislumbrada em um projeto futuro, comenta a diretora do CCE, seria a própria USP ter uma área com recursos humanos especializados para desmontar os eletroeletrônicos. Tereza ainda comenta que um quilo de equipamentos de um microcomputador vale R$ 4,00, sendo que uma máquina dessa tem de 10 a 20 quilos. Assim, afirma que a reciclagem de e-lixos, além de ser um imenso ganho para o meio ambiente, “é um grande negócio”.

Tereza avalia que a receptividade das pessoas em relação ao projeto é grande e que uma das medidas mais urgentes a ser tomada é a conscientização e a implementação dentro da universidade de um edital de “compra verde”. Ela chama atenção aos números. “Calculamos que a universidade tenha entre 37 e 40 mil computadores e que 10% deles ficam obsoletos todo ano. Assim deve haver no mínimo 4 mil deles fora de uso.”

A opinião de Elizabeth corrobora a de Tereza. Ela opina: “É necessário que se crie uma cultura dentro da universidade. Alguns hábitos e costumes devem ser incorporados e a consciência ecológica deve existir desde o momento em que determinado produto é adquirido ou certo serviço, contratado”.

 
 
 
 
 
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