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Oito
milhões de animais. Tantos que talvez fosse preciso anos para
vê-los todos. Empalhados ou conservados com ácidos, guardados
em inumeráveis gavetas e vitrines, esses exemplares fazem parte
da coleção do Museu de Zoologia da USP. Três anos
longe dos olhos do público, trancados no prédio da av.
Nazaré, no Ipiranga, que passou por uma longa reforma, eles
podem agora ser vistos novamente na exposição Pesquisa
em Zoologia a biodiversidade sob o olhar do zoólogo,
que abre no próximo dia 7. Nas novas instalações,
o conjunto exposto é considerado o maior do planeta no gênero,
e sua organização foi iniciada há 109 anos. O
edifício que abriga atualmente o museu, construído em
1939, nunca havia sido reformado. A exposição permanecia
intocada, tal qual na época em que fora idealizada, no início
do século, quando o museu ainda era a seção de
História Natural do Museu Paulista. Parecia um enorme
catálogo e para os padrões daquela época quanto
mais animais fossem expostos, melhor. Havia tantos bichos que ficava
difícil saber onde começava um e terminava o outro,
conta a professora Miriam David Marques, diretora da divisão
de difusão cultural. Com a casa nova, o conceito da exposição
também será diferente. Será um ponto de
virada na história do museu. Não queremos mostrar uma
porção de bichos mortos, empalhados e sujos, e sim qual
é a nossa função e o nosso trabalho. Os
exemplares foram limpos e agora serão apresentados não
mais soltos em vitrines. Jaguatiricas, tamanduás, onças-pintadas,
tartarugas, macacos, entre muitos outros, estarão dentro de
cenários que reproduzem o seu hábitat natural.
O mote da mostra a pesquisa em zoologia saiu das discussões
feitas durante seis seminários que reuniram todo o corpo científico
do museu. Para ajudar a dar forma às idéias dos pesquisadores
a divisão cultural contou, pela primeira vez, com a assessoria
de um museólogo. Maurício Candido da Silva lançou
mão de recursos cenográficos, tecnologia e efeitos de
iluminação para contar um pouco da história da
evolução e como as espécies se diversificam.
Para abrir a mostra, a seção Origem dos Grandes Grupos
traz réplicas em tamanho natural dos fósseis de uma
preguiça gigante e de um tigre de-dente- de-sabre. Há
no Brasil a maior biodiversidade do planeta e por que isso acontece?
Porque há aqui uma multiplicidade de ambientes geográficos
que proporciona essa fixação de uma grande diversidade.
É isso que queremos mostrar, explica Miriam.
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Quando
passar para o salão principal o visitante verá uma tentativa
de apresentar esse conceito tridimensionalmente. No chão, ele
deve caminhar em cima de um mapa da América do Sul que, com
11 metros de comprimento, apresenta quatro grandes ecossistemas. Quando
estiver, por exemplo, sobre a região da Amazônia terá
a sua frente uma vitrine ou um cenário aberto em que se reconstitui
o ambiente da região a vegetação característica,
os animais e também a maneira como se relacionam. Haverá
ainda painéis explicativos e mapas complementares. Uma outra
novidade é a seção dedicada ao tipo de atividade
que um zoólogo desenvolve. Com esse módulo pretende-se
não só mostrar como é feito o trabalho, mas sobretudo
desmistificar a idéia de que os animais expostos foram simplesmente
coletados depois de terem morrido naturalmente. Isso não
é verdade. Eles foram capturados e mortos, explica a
professora. O importante, no entanto, é deixar bem clara
a diferença entre essa coleta científica e a caça
predatória.Na caça se mata indiscriminadamente e com
finalidade privada; aqui o animal coletado é preservado, conservado
e estudado. O objetivo é entender o ambiente e a plasticidade
do material biológico. Serão apresentados instrumentos
antigos de pesquisa, equipamentos e imagens que ilustram cenas de
coleta na natureza.
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Novos
cenários tentam reproduzir hábitat natural dos
animais. Vitrais da década de 40 agora limpos e restaurados
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O museu,
que pertence à USP desde 1969, fechou suas portas há
três anos. O objetivo não era tratar do que ficava exposto
mas sim daquilo que sempre esteve escondido do público
a divisão científica. Nesse setor, que ocupa cerca de
90% da área do prédio, ficam abrigados os animais que
são material de pesquisa. Diferentes dos que são mostrados,
eles nem sempre são bonitos. Os pássaros, por exemplo,
não exibem plumagens coloridas. Depois de terem sido abertos
para estudo parecem um tanto amassados e têm, no lugar dos olhos,
chumaços de algodão.
A verba para reforma veio da Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo). As salas de coleções
foram todas pintadas e, para proteger esses milhões de exemplares,
ganharam compactadores deslizantes. Grandes armários, que diminuem
de tamanho quando fechados, guardam muito mais do que se julga à
primeira vista e facilitaram a organização e a proteção
do material. Só depois disso foi possível pensar na
exposição. O dinheiro para essa outra reforma, desta
vez de nove meses, veio mais uma vez da Fapesp e também da
própria USP. No edifício tombado, os vidros estavam
quebrados, algumas janelas não abriam, outras não fechavam.
O chão havia se destruído com o passar dos anos e o
sistema de iluminação era precário. A reforma
feita foi estrutural, sem extravagâncias. Conserto do piso,
dos vidros, uma boa pintura e uma caixa de força para aumentar
a carga elétrica que não permitia boa iluminação.
Segundo Miriam, nada disso tem grande apelo popular. Custa caro,
dá trabalho e não aparece muito. Mas era preciso. Só
assim conseguimos ganhar um verdadeiro espaço expositivo.
Nada de novas vitrines, o mobiliário ainda é o mesmo
que veio do Museu Paulista. Uma atração à parte
nessa nova fase de casa em ordem fica por conta dos vitrais da década
de 40. Feitos com cristais belgas, alemães e o famoso Murano,
da Itália, retratam belas paisagens com animais, mas estavam
tão sujos que tinham se tornado opacos. Depois de uma cuidadosa
limpeza eles voltaram a ser transparentes e o interior do edifício
ficou também mais iluminado.
Exposição
Pesquisa em Zoologia a biodiversidade sob o olhar do
zoólogo
A partir de 7 de setembro, de terça a domingo, das 10h às
17h
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
Avenida Nazaré, 481 - Ipiranga, tels: 6165-8100 e 6165-8140
Ingressos: R$ 2,00
Grátis: escolas públicas e visitantes até 6 anos
e acima de 65 anos. |
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