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Olhos eletrônicos espiam o campus. Dia e noite. Movimentação no setor dos bancos, entrada e saída de carros nas portarias, barbeiragens em ruas e avenidas, chacrinhas na Praça do Relógio ao anoitecer, tudo é varrido, ou logo será, por câmeras móveis. A Prefeitura Universitária pretende cobrir os 22 pontos mais visados, incluídas áreas de unidades, com aparelhos de longa abrangência e com giros de 270 a 360 graus, dependendo do lugar, para garantir maior segurança às pessoas e ao patrimônio. A essa providência outras vêm se juntar. Em estudo, novos abrigos em pontos de ônibus, quiosques ao lado de alguns desses abrigos, restabelecimento da ciclovia, sinalização do sistema viário, que está pronto para receber agentes da Polícia Militar e marronzinhos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que desde o início do mês estão autorizados a entrar e multar se for preciso. Mas eles não vieram ainda e talvez nem venham. A 2a Companhia do 34o DPM, aquartelada na avenida Valdemar Ferreira, próximo da entrada principal do campus, aguarda resposta do Detran a consulta sobre a legalidade de autuações em próprios da Universidade. Temendo conflito de competência e jurisdição, dizem que a USP é uma autarquia estadual, área controlada e que possíveis recursos futuros poderiam anular todo o serviço. A PM, embora também uma organização do Estado, faz o policiamento de trânsito em convênio com a Prefeitura do Município. Ao mesmo argumento a CET acrescenta a necessidade de um acordo formal, ainda não assinado. Há diferenças entre as funções da PM e da CET no que respeita à fiscalização do trânsito. De acordo com o tenente Guilherme dos Reis Patrício, da 2a CTTran, à CET compete fiscalizar o uso de vias públicas (semáforos, velocidade, estacionamento regulamentado), ao passo que a PM fiscaliza o condutor e o veículo (habilitação, documentos). Mas em caso de convênio com a Prefeitura, como ocorre atualmente, a PM assume as duas funções.

O prefeito do campus, professor José Geraldo Massucato, está empenhado na introdução do serviço e defende sua legalidade, argumentando que nenhuma área pública pode eximir-se da legislação federal. “Somos autônomos, não somos soberanos.” Diz ainda que a Cidade Universitária recebe diariamente milhares de pessoas e carros que apenas cortam caminho pela USP e são responsáveis pela maioria das infrações cometidas aqui. A proibição de multar no campus representará a impunidade.

De qualquer modo, essa e outras questões que digam respeito à vida da comunidade terão agora uma instância superior de decisão, o Conselho do Campus da Capital, já aprovado pelo Conselho Universitário e que será composto pelos diretores das unidades, representantes de órgãos centrais, de professores, alunos e funcionários. Portaria do prefeito, de 5 de setembro, dispõe sobre a eleição de três representantes dos servidores não-docentes, no dia 13 de outubro.

Mais respeito – Massucato entende que só o uso de tecnologias avançadas não é suficiente para convencer as pessoas a respeitar as leis. Olhos mecânicos não iluminam consciências. No caso do trânsito chegou a hora das punições. Durante meses foram realizadas campanhas de esclarecimento, pesquisas, abordagem de motoristas, distribuição de folhetos. Se a maioria dos usuários do campus se comporta exemplarmente, uma parte dos motorizados insiste em violar regulamentos e desrespeitar direitos alheios, em especial dos portadores de deficiência física, ocupando suas vagas nos bolsões de estacionamento. Todo mês a Prefeitura entrega nas unidades um mapa das principais ocorrências no campus, anotadas diariamente pela Guarda Universitária. De janeiro a julho deste ano, já foram registradas 513, incluindo acidentes de trânsito com vítima (22), sem vítima (92), agressão (22), depredação (44), furto qualificado (118), furto de auto (83) e outras ocorrências que podem ser observadas na tabela abaixo. Um dos acidentes mais graves do ano ocorreu dia 2 deste mês, na avenida Professor Luciano Gualberto, Travessa J, envolvendo um menor que dirigia moto e um automóvel. O motociclista trazia o capacete apoiado no braço, apesar de minutos antes do acidente ter sido advertido por um guarda de que deveria colocá-lo na cabeça. Resultado sofreu traumatismo craniano e até a semana passada continuava internado nas Clínicas (antes fora atendido no HU). Nenhum dos envolvidos tinha vínculo com a Universidade. Outra ocorrência relevante foi a prisão no campus de dois assaltantes, jovens que se faziam passar por estudantes. Um deles havia fugido da cadeia de Valinhos.

O mapa da Prefeitura informa ainda que no mesmo período foram observadas 279 infrações de trânsito, que continuam impunes. Enorme é também o número de motoristas que se esquecem de fechar o carro depois de estacioná-lo: 2.432 anotações.

Ainda em relação ao sistema viário, e visando adequar os 30 quilômetros de vias às normas nacionais, foram colocadas cerca de 300 placas de sinalização e corrigidas lombadas. Massucato planejava criar lombadas eletrônicas, mas os custos seriam excessivos. Cada uma chega a custar 30 mil dólares. Quanto aos novos abrigos, o plano seria apresentado à Reitoria na semana passada. Estão planejadas 55 unidades – três em novos pontos e as demais substituindo os modelos existentes. A maquete do novo modelo indica cobertura de resina importada, em módulos, farta iluminação e painéis reservados a propaganda. O prefeito quer dar mais cores aos abrigos, de preferência as da USP (verde,vermelho, amarelo e cinza). O custo ficaria em torno de R$ 5 mil cada, abaixo do que se pagou pelos modelos implantados. O projeto foi encomendado a uma empresa especializada especialmente para a Universidade e também saiu por R$ 5 mil. Ao lado de alguns desses abrigos poderão ser montados quiosques autorizados a vender café, refrigerantes, batata frita e salgadinhos. Higiene rigorosa é condição para o credenciamento.

A ciclovia, uma possibilidade, decorre de solicitações dos próprios usuários, que se queixam dos condutores de automóveis, mas eles também costumam dificultar o trânsito andando em grupos muito grandes. Por razões ainda não pesquisadas, afluem em maior número às terças e quintas-feiras. Aos sábados é outra coisa: a Prefeitura mantém termo de compromisso com algumas organizações atléticas e com a associação de ciclistas, pelo qual são autorizados a usar as vias do campus para treinos, das 7 às 14 horas. Cada organização paga uma taxa de uso, que ao final do mês rende cerca de R$ 6 mil à Universidade, recurso aplicado em melhorias do campus. “Eu trouxe a comunidade para dentro”, diz Massucato, que também observa comportamento exemplar dos atletas, principalmente em relação à limpeza e higiene. Abusos de outros grupos, como serviços de massagem, foram coibidos. Massagem só em atletas, quando necessárias, e por profissionais que os acompanham.

A frota de ônibus circulares passa por algumas dificuldades. Oito das treze unidades circulam normalmente nas linhas 1 e 2; três estão no conserto com avarias no motor; um dos modelos antigos foi recuperado e está em operação. A experiência com gás não deu certo. Os carros são pesados demais para esse tipo de combustível.

 

 

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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