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O Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp) já começa a provocar mudanças. Aprovado no dia 23 de maio, em reunião do Conselho Universitário, ele determina a redução do número de questões da primeira fase do vestibular da Fuvest de 100 para 90 perguntas, mantendo as 5 horas para a realização das provas. Como sempre fez, a Fuvest continuará a trabalhar as disciplinas do núcleo comum do ensino médio (português, matemática, história, geografia, física, química, biologia e inglês), mas incluirá questões com abordagem interdisciplinar, com o objetivo de captar a potencialidade, o raciocínio e a capacidade dos alunos em estabelecer conexões entre as várias áreas do conhecimento. A idéia é que isso proporcione uma postura crítica diante do mundo, e não o simples acúmulo de informações.

A luta pela inclusão social não é preocupação recente da USP. Ao longo dos seus 72 anos de existência, a Universidade tem buscado de alguma forma contribuir para a minimização da desigualdade social presente na sociedade brasileira, segundo a pró-reitora de Graduação da USP, Selma Garrido Pimenta.

foto: cecília bastos
Selma: a contribuição da USP

É dentro desse panorama que está sendo implantado o Inclusp, para que as ações desenvolvidas nas diversas unidades e instâncias da Universidade sejam sistematizadas, tenham mais visibilidade e organicidade, articulando-se em um projeto comum, a fim de compor uma política institucional, acrescenta Selma. O programa prevê uma série de medidas destinadas a ampliar o acesso e a permanência dos alunos advindos de escolas públicas nos cursos da Universidade.

De acordo com o programa, os alunos da escola pública serão favorecidos com o acréscimo de 3% na pontuação obtida no vestibular da Fuvest, já a partir do exame deste ano, constituindo uma combinação de mérito acadêmico com autonomia universitária. Para Selma, o sistema de pontuação acrescida garantirá ao aluno entrar na Universidade por mérito e não por sua condição socioeconômica, como ocorre no sistema de cotas. Com essa pontuação, os alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas receberão esse bônus de 3% aplicado às notas da primeira e da segunda fase do vestibular. “Isso significa que teremos uma ampliação no número de alunos egressos de escola pública nas unidades da USP, já no primeiro ano”, diz Selma.

foto: cecília bastos
Mariani: garantia depermanência

Três momentos – Para o professor Antonio Luis de Campos Mariani, do Laboratório de Mecânica dos Fluidos da Escola Politécnica da USP, a grande qualidade do Inclusp é que as ações propostas não se restringem a uma modificação apenas para o vestibular, mas dão início a um conjunto de atividades que serão realizadas em três momentos: antes do ingresso, no vestibular e após o ingresso.

Mariani explica que, no primeiro momento, as ações propostas visam  à aproximação da USP com os alunos da escola pública, assim como motivá-los a buscar meios para viabilizar o ingresso, desmistificar e melhorar a comunicação com esses estudantes e com a sociedade em geral. No segundo momento as ações propõem o bônus para os alunos da escola pública e, no terceiro momento, ações e recursos que garantam que eles se mantenham na Universidade. “Não adianta apenas ampliar a chance de o aluno ingressar. É preciso garantir que possa cursar a Universidade adequadamente e com qualidade”, ressalta Mariani.

Para isso está prevista o oferta de cursos de formação continuada para professores do ensino público e apoio para cursinhos pré-vestibulares comunitários. Outras medidas são o estímulo à adoção de professores-tutores e a ampliação dos recursos para bolsas de moradia e alimentação.

As atividades de pesquisa na graduação serão beneficiadas com a implantação do Programa Ensinando com Pesquisa – outra iniciativa do Inclusp –, que terá concessão de bolsas de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na internet será criado um portal com o objetivo de dar visibilidade para que a sociedade acompanhe os resultados das pesquisas de avaliação de desempenho que serão desenvolvidas no decorrer do programa.

Vale ressaltar, segundo Selma, que a Universidade não é a responsável pelas desigualdades no Brasil. A pró-reitora entende que a USP sozinha não vai conseguir concretizar a tão sonhada igualdade social. “No caso da educação escolar, uma das responsabilidades principais está no sistema público de ensino, que não tem conseguido garantir a qualidade da educação básica, ao lado da quantidade obtida.”

A ação do programa em relação às escolas públicas não substitui a responsabilidade que o Estado tem em manter suas escolas com qualidade, acrescenta a pró-reitora. Selma reafirma que a USP não está ocupando o papel do Estado. Ao contrário, está incentivando as escolas e seus participantes a que se movimentem em busca de melhor qualidade do ensino. A solução de boa parte dos problemas da educação, diz, está nas mãos do governo estadual. “Cerca de 85% dos alunos de ensino médio estão em escolas estaduais. É um porcentual enorme, que mostra a responsabilidade e aponta para o compromisso que o governo estadual tem no aprimoramento do seu sistema e na melhoria da qualidade do ensino público.”

Ela reconhece que a USP pode ser indutora, ao lado dos demais atores sociais, dos compromissos e responsabilidades que todos os cidadãos brasileiros têm nessa questão. É neste contexto que a proposta de inclusão social terá o seu foco voltado para os alunos da escola pública de ensino médio, porque é onde se encontram as mais variadas etnias, diversidade cultural e desigualdade social. “Traremos para dentro da USP essa diversidade cultural especialmente demonstrada em São Paulo.” A USP já contempla em seu quadro de alunos 24% de estudantes oriundos de escolas públicas. Com a implementação do programa, pretende, no primeiro ano, aumentar essa participação para 30%.

Segundo Flávia Schilling, professora da Faculdade de Educação e membro da equipe de elaboração do Inclusp, a importância da proposta está no fato de renovar, de forma clara, o compromisso da USP com a escola pública. “A Universidade mostrou que é preciso insistir em medidas mais profundas, que visem a transformações reais tanto do ensino fundamental como do ensino médio no País.”

Não há a menor pretensão de a Universidade ser a única realizadora dessas transformações, ressalta Flávia. O Estado precisa assumir consistentemente o seu compromisso de efetuar as mudanças necessárias, que requer mudanças estruturais (carreira, salários e condições de trabalho dos professores) e mudanças de perspectivas (crescimento econômico e distribuição de renda).

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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